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O dilema dos vírus

Os vírus mais letais são os menos contagiosos. Mas suas mutações não tiram do caminho a possibilidade de que um deles mate milhões

Por Maurício Horta
Atualizado em 31 out 2016, 18h54 - Publicado em 19 fev 2011, 22h00
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  • Até o fechamento desta edição a gripe suína não tinha arrasado o mundo. A humanidade pode ter escapado desta vez – mas a pulga atrás da orelha não. Se não o vírus da gripe suína, será que algum outro poderia deixar um estrago realmente grande, com milhões de mortos pelo seu caminho? Sim. Isso acontecerá caso surja algum vírus altamente transmissível e 100% letal. Não é impossível. Mas, para isso acontecer, os vírus precisam resolver um dilema: os mais facilmente transmissíveis são pouco letais. E os mais letais são os menos contagiosos.

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    Os altamente transmissíveis são os que passam de humano para humano pelas vias aéreas, como gripes, catapora e sarampo. Os vírus são espalhados pelo ar quando um infectado espirra ou tosse. Para você se expor, basta não estar imunizado e respirar – ou tocar numa superfície contaminada e levar a mão ao rosto.

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    A gripe do tipo A, a suína, é especialmente perigosa porque seu vírus passa por mutações dramáticas. E a cada cepa surge uma doença para a qual o sistema imunológico não sabe a resposta. Mas, mesmo quando aparecem supervírus, a fatalidade deles tem sido relativamente baixa. A gripe espanhola, por exemplo, matou mais do que bala de carabina em 1918 e 1919. Mais mesmo: foram 50 milhões de vítimas – 6 vezes mais que a 1a Guerra Mundial, sua contemporânea. Muito, mas isso corresponde a apenas 2,5% dos infectados. Já o vírus do ebola têm fatalidade de até 90% – diarreia hemorrágica, vômito negro, sangue, sangue, sangue e morte. Mas foram poucos os casos. E por um motivo simples: o vírus mata tão rápido que acaba “se suicidando” antes de se espalhar decentemente. Essa regra, porém, não equivale a negar que estamos perto de uma pandemia devastadora. Desde 2005 a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que alguma, um dia, deverá matar até 7,5 milhões de pessoas.

    Para isso, basta que o vírus letal mantenha o doente vivo por tempo bastante para se espalhar. Além disso, as próprias pessoas já tratam de se espalhar mais elas mesmas – e aumentar as chances dos vírus.

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    Em 1918, quando as viagens internacionais eram feitas basivamente de navio e trem, uma pandemia demorava de 6 a 9 meses para atingir todo o mundo. Hoje, com 2,2 bilhões de passageiros aéreos circulando entre as 4 mil cidades com aeroportos no planeta, esse tempo encurta para no máximo 3 meses. Quando uma supergripe chegar, serão necessários estoques de vacinas e drogas antivirais, funcionários, hospitais, equipamentos. E poucos países têm isso em quantidade. Por essas, a gripe suína pelo menos serviu de alerta para quando a próxima pandemia vier.

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    Pandemia ou epidemia?

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    Muito se falou em “pandemia”, quando a única palavra que as pessoas conheciam era a outra: epidemia. E não faltou confusão. Mas a diferença é simples: a pandemia é uma epidemia globalizada. Algumas doenças ficam instaladas constantemente num lugar ou numa população. São como a malária, que há décadas infecta cerca de 500 mil pessoas por ano, mas apenas na Amazônia. Essas são as endemias. Mas o número de casos pode de repente dar um salto muito grande. Se isso acontecer, a doença é considerada epidêmica. Por exemplo, a cólera era considerada sob controle no Zimbábue, até que em agosto de 2008 ela desembestou e em um semestre infectou 91 mil e matou 4 000. Doenças que até então não existiam também podem ser consideradas epidemias – tal como a febre hemorrágica ebola. Tanto a cólera no Zimbábue quanto o ebola ficaram isolados geograficamente. Já quando uma epidemia pula os muros geográficos e populacionais e se espalha mundialmente, ela vira uma pandemia. Nos últimos 200 anos houve 7 pandemias de cólera. Nos últimos 100, 3 de gripe. E nas últimas décadas, mais de 25 milhões morreram de outra pandemia: a aids.

    Os passos de uma pandemia de gripe, segundo a OMS

    Fase 1
    O vírus influenza circula em animais, mas nenhum humano é infectado.

    Fase 2
    Algum vírus circulante em animais domesticados ou selvagens causa infecção em pessoas.

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    Fase 3
    Começa a transmissão de pessoa para pessoa, mas em pequena quantidade e sob circunstâncias restritas.

    Fase 4
    A transmissão de humano para humano está mais forte: atinge uma comunidade inteira, pelo menos.

    Fase 5
    Contaminações de gente para gente ocorrem em mais de um país. É um forte sinal de que a pandemia está nos rondando.

    Fase 6
    Grandes surtos da doença acontecem em regiões distantes – em dois continentes, por exemplo. Epidemia global a caminho.

     

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