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“Bebê Rena”: série de TV da Netflix traz uma nova perspectiva sobre a vitimização sexual masculina

“Bebê Rena” lança luz sobre as experiências masculinas de violência sexual, muitas vezes negligenciadas.

Por Dimitris Akrivos
Atualizado em 3 Maio 2024, 10h03 - Publicado em 1 Maio 2024, 18h00

Dimitris Akrivos é professor de Criminologia da Universidade de Surrey. O texto abaixo saiu originalmente no site The Conversation, que publica artigos escritos por pesquisadores. Vale a visita.

Este artigo discute agressão sexual e contém spoilers de “Bebê Rena”.

“Bebê Rena” é uma nova e emocionante série da Netflix baseada em uma história real e adaptada de uma peça aclamada do ator escocês Richard Gadd. A série aborda as experiências angustiantes de seu personagem principal, Donny (uma versão fictícia de Gadd), cuja vida se desdobra depois que ele se torna alvo de uma stalker (perseguidora), Martha (interpretada por Jessica Gunning).

“Bebê Rena” cativou o público com seu retrato sincero da vitimização sexual masculina, perseguição e abuso de substâncias. Ela também destacou o importante papel da cultura popular em levantar questões difíceis sobre assuntos tão delicados.

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O sucesso da Netflix é o mais recente de uma gama de programas de TV socialmente conscientes que oferecem uma forma de entretenimento educativo (ou “edutainment”). No entanto, o que diferencia a série de Gadd das demais é o fato de que ela lança luz sobre as experiências masculinas de violência sexual, muitas vezes negligenciadas (tanto na cultura popular quanto na vida real).

Tirando a vítima masculina das sombras

Estatísticas recentes sugerem que as mulheres têm quase três vezes mais chances de serem vítimas de agressão sexual do que os homens. Portanto, é importante e compreensível que as discussões sobre agressão sexual e como ela deve ser enfrentada priorizem a perspectiva feminina.

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Apesar do impacto do movimento #MeToo no incentivo aos sobreviventes para que falem abertamente sobre suas experiências, a ênfase desproporcional dada a essa narrativa de vítima feminina/perpetrador masculino, de acordo com pesquisas, tornou as vítimas masculinas quase “invisíveis”. Isso também se reflete na cultura popular, onde as histórias de vitimização sexual masculina são muito menos numerosas e tendem a atrair menos atenção.

Um homem em pé na parte interna de um balcão de um bar. Há uma mulher sentada, do lado externo, em uma banqueta.
(Netflix/Divulgação)

“Bebê Rena” contraria essa tendência, pois se tornou um dos programas mais assistidos na Netflix. O programa é angustiante e poderoso, pois investiga os efeitos psicológicos da perseguição e da vitimização sexual de Donny. As interações de Donny com uma stalker, Martha, levam a uma espiral preocupante de vulnerabilidade e desconfiança.

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A série oferece uma representação realista da angústia associada à perseguição. A jornada de Donny oferece uma visão do consentimento, da vitimização e das pressões sociais exercidas sobre os homens para que se conformem com as normas tradicionais de masculinidade, que muitas vezes ditam suas respostas ao abuso.

Por exemplo, quando a perseguição começa, vemos Donny concordando com piadas sexuais sobre seu relacionamento com Martha, que aparece diariamente no pub em que ele trabalha para conversar com ele. Apesar de ficar cada vez mais nervoso com ela e com o tom cada vez mais sexual de seus incessantes e-mails, ele se sente pressionado a “ser um dos rapazes” na frente de seus colegas.

Também destaca como, conforme demonstrado pela própria experiência de Gadd e pela recente condenação do perseguidor de Harry Styles, os perseguidores nem sempre são homens.

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Navegando no trauma do sobrevivente, na culpa e nos mitos do estupro

Além de esclarecer a experiência masculina de ser perseguido, a série explora vividamente o trauma e a culpa do sobrevivente. Isso é feito por meio da introspecção de Donny e de seu comportamento cada vez mais destrutivo após o estupro por seu “mentor”, Darrien (interpretado por Tom Goodman-Hill).

Ao longo da série, Donny tenta aceitar sua vitimização, refletindo sobre como essa experiência afetou a maneira como ele lidou com os eventos subsequentes em sua vida, incluindo a perseguição de Martha. Vemos isso claramente nas cenas em que Donny se vê confuso e dolorido ao tentar ter e esconder um relacionamento com uma mulher trans, Teri.

Apesar de declarar amar Teri, suas ações – que incluem mentir para ela sobre quem ele é e fugir dela em público – são ditadas pela vergonha e pelo medo. Esse comportamento reflete sua luta com sua identidade sexual e autoestima. Pesquisas descobriram que esses sentimentos são comuns após a vitimização sexual.

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Outra questão importante que “Bebê Rena” aborda com eficácia é a interação entre as vítimas de crimes sexuais e a polícia. Ela chama a atenção para os mitos do estupro que frequentemente silenciam as vítimas, examinando suas ações e perguntando se elas fizeram algo para encorajar o agressor.

Uma mulher sentada em um posto de táxi.
(Netflix/Divulgação)

Na cena de abertura, por exemplo, o policial a quem ele está denunciando o crime pergunta imediatamente se ele tem um relacionamento com Martha e por que ele não fez nada antes. Esses elementos da narrativa convidam os espectadores a reconsiderar concepções errôneas comuns sobre abuso sexual e as barreiras que as vítimas enfrentam ao se envolverem com os órgãos de justiça criminal.

“Bebê Rena” é uma peça exemplar de “edutainment” que traz ar fresco ao contínuo diálogo público sobre as causas e as respostas adequadas à violência sexual. Ele destaca o poder da cultura popular de desafiar as crenças dominantes e facilitar uma compreensão mais profunda das diversas e muitas vezes ocultas lutas que moldam a vida daqueles que passam por experiências tão dolorosas.

Como continua a repercutir em um público global, a série de Richard Gadd serve como um lembrete pungente da importância de histórias inclusivas e realistas sobre violência sexual. Esses shows garantem que as vozes de diferentes vítimas sejam ouvidas, independentemente de seu gênero e sexualidade.

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