O fim do trabalho
Ou, pelo menos, do trabalho como o conhecemos. As palavras "emprego" e "carreira" deixam de fazer sentido em um mundo em que as pessoas não só ganham dinheiro: elas querem fazer o que gostam
Texto Jeanne Callegari
Se trabalho fosse bom, não se chamava trabalho. É o que diz a gracinha que inevitavelmente ouvimos quando estamos pê da vida com o emprego e somos lembrados de que, se o propósito fosse se divertir, o nome da coisa seria outro – diversão – e não precisaríamos ser pagos para fazer. Boa notícia: essa dureza está prestes a acabar. Vamos continuar tendo chefes, escritórios e tarefas a cumprir, mas, como você vai ver nesta e nas próximas páginas, o trabalho, tende a ficar cada vez mais leve e divertido.
Uma das principais forças por trás dessas mudanças é a tecnologia. Hoje, você não consegue nem imaginar como seria viver sem internet e celular. E são justamente essas duas ferramentas que permitem que as pessoas possam trabalhar de qualquer lugar – de casa, do cibercafé, da beira da praia tomando açaí. O teletrabalho, em que as pessoas trabalham de um local remoto, via computador, e fazem reuniões via videoconferência, já é uma realidade: nos EUA, são 33,7 milhões de pessoas fazendo isso ao menos uma vez por mês.
Com internet e celular, as pessoas podem trabalhar de qualquer lugar – até mesmo de outros países. É o caso do projeto Mechanical Turk, da Amazon, uma espécie de classificados de pequenos serviços, como legendar fotos ou fazer buscas em sites. Nele, as pessoas de todo o mundo podem se cadastrar, escolher entre as milhares de tarefas disponíveis e serem pagas por cada uma delas. Nem todas as atividades que executamos podem ser delegadas e terceirizadas dessa forma, mas é uma mostra do que dá para fazer quando a banda larga é barata e todos têm acesso a um computador.
Permitir que as pessoas trabalhem de casa não é apenas uma maravilha mas também um diferencial poderoso na hora de conservar os funcionários. E essa vantagem vai mesmo ser necessária: pesquisa da Rand Corporation mostra que o crescimento da força de trabalho está diminuindo com os anos, nos EUA. De um aumento de 2,6% ao ano, na década de 1970, esse número caiu para 0,4%, nos anos 2000. Com um número tão pequeno, o mercado vai precisar dos jovens para trabalhar. E das mulheres. E dos idosos. Enfim, de todo mundo.
Atrair funcionários vai virar um desafio nos próximos anos. Para chegar lá, a palavra-chave é uma só: flexibilidade. Isso não significa apenas trabalhar de casa de vez em quando mas também poder chegar mais cedo ou mais tarde conforme a conveniência, sair no meio do dia para ver o teatrinho na escola das crianças, ter empregos de meio período ou semanas de 4 dias. Mesmo quem tem um tipo de trabalho presencial, como funcionários de uma fábrica, por exemplo, podem se beneficiar dessas práticas. É o que vai permitir às mulheres subirem cada vez mais alto na carreira sem abrir mão de passar tempo com os filhos e aos jovens da geração Y cuidarem da coisa que mais importa para eles: a vida pessoal. Criados no ambiente coletivo e colaborativo da internet, essa geração até se preocupa com dinheiro, mas é capaz de abrir mão de um emprego que pague bem, mas seja chato, em nome de fazer o que gosta, em uma empresa menor.
O impacto dos jovens no mercado de trabalho se faz notar em tudo, inclusive na organização dos escritórios. Quem recebeu por e-mail as fotos das instalações do Google ficou morrendo de inveja: tobogãs, mesa de sinuca, sala para jogar videogame, pufes coloridos, tudo que é divertido está presente para ajudar o pessoal da empresa a criar novos produtos. A sede do Twitter é mais modesta, mas também inspiradora: uma sala grande com TV, pebolim, fliperama – e estacionamento para dezenas de bicicletas. Assim como o home office fez com que o trabalho invadisse a casa das pessoas, o universo dos jovens está invadindo os escritórios. E o ambiente de trabalho de todo mundo vai ficar mais prazeroso por causa disso.