Daniel Schneider
Não daria nem para o começo: precisa-ríamos de 4,5 Terras para que o mundo não entrasse em colapso. Como só temos esta aqui, complica. Imagine: nos EUA existe praticamente um carro para cada adulto. São 231 milhões de veículos, ou 76 carros para cada 100 habitantes. O planeta todo tem 850 milhões de carros. Se tivesse a proporção dos EUA, seriam 5,12 bilhões, acompanhados da conta em aço, petróleo, eletricidade e tudo o mais que seria necessário para produzi-los. Um planeta assim consumiria todo o petróleo que pode haver no nosso pré-sal (150 bilhões de barris) em menos de um ano. E para alimentar os 6,7 bilhões de bocas do mundo com a mesma quantidade de carboidratos e proteína que os 307 milhões de americanos consomem? Dureza: faltaria solo no mundo. Uma alternativa seria turbinar a irrigação. Mas aí a água, que já está em falta, não daria conta: para fazer a carne de um hambúrguer, por exemplo, vão 11 mil litros d´água (contando o que o boi bebe e o que vai no cultivo de ração). O jeito seria dessalinizar água do mar. Mas fazer isso consome mais energia do que temos como produzir de forma sustentável hoje. Quer dizer: ou temos uma revolução tecnológica ou esqueça.
Vai faltar planeta
Com a tecnologia de hoje, um “mundo EUA” seria impossível
Derretimento global
Se o mundo não reduzir pela metade as emissões até 2050, estima-se, haverá um aumento de até 7 °C na temperatura média do planeta, com consequências catastróficas. No nosso mundo EUA, em vez de reduzir em 50%, as emissões totais saltariam imediatamente mais de 500%, 10 vezes mais do que o máximo que o planeta pode aguentar sem se transformar num forno.
Alternativa: Substituir todo o carvão e o petróleo por fontes que não emitam CO2.
Faça-se a luz
Para ficar tão iluminado quanto a terra de Obama, o mundo teria de quintuplicar a produção de eletricidade. O Brasil, por exemplo. Hoje consumimos o equivalente a 4 Itaipus. Para chegar ao patamar americano, precisaríamos de outras 23.
Alternativa: Como não há potencial hidrelétrico no mundo para dar conta disso, o jeito de obter tanta energia sem poluir nada seria com a fusão nuclear, que só libera vapor dágua e não usa urânio. A primeira usina assim sai do papel na próxima década, na França (se a crise deixar).
Fim do petróleo (mesmo)
Os americanos consomem 24,5 barris de petróleo por cabeça a cada ano (contra 4,5 barris na média mundial). Para produzir os 135 bilhões de barris a mais por ano, seria necessário produzir 338% mais do que hoje.
Alternativa: Usar o petróleo só como matéria-prima de tecidos e plásticos.
Quase 10 galinhas por habitante
Os americanos consomem 3 vezes mais carne que a média mundial. O único jeito de triplicar a produção seria fazer carne só a partir de animais confinados, cuja criação não ocupa muito espaço. Mesmo assim, o sistema digestivo dos bois produziria tantos gases-estufa quanto 150 milhões de carros.
Alternativa: Produzir carne em laboratório a partir da reprodução de células animais (e não de animais inteiros). As pesquisas já começaram.
E tome ferro
Teríamos que aumentar em 80% a extração de minério de ferro, a matéria-prima do aço. A produção em 200 foi de 1,6 bilhão de toneladas. Para tirar o 1,3 bilhão extra, o mundo precisaria de mais 4 mineradoras do tamanho da Vale, que é a maior produtora mundial de ferro. As reservas (230 bilhões de toneladas) aguentariam só mais um século.
Alternativa: Reciclagem.
Agroproblema
O planeta precisaria mais que duplicar a produção de alimentos, mas não há espaço disponível para isso.
Alternativa: Irrigar e fertilizar áreas hoje pouco produtivas (como Israel fez) e investir em engenharia genética, em busca de vegetais que cresçam melhor.