Erica Montenegro
Não. Nos últimos 55 anos, nossa população indígena aumentou: passou de um número entre 68 mil e 99,7 mil (segundo levantamento coordenado pelo antropólogo Darcy Ribeiro, em 1950) para 431 mil (dado oficial da Funai). É claro que a precariedade dos censos anteriores é um dos motivos do crescimento, assim como a ocupação da Amazônia, que nos permitiu contatar povos nunca antes vistos, mas o aumento na taxa de natalidade e expectativa de vida nas aldeias também devem ser creditados. Mas isso não significa que os índios têm gozado de ótimas condições de vida. Eles ainda são o grupo étnico com o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil – 0,683 enquanto a média nacional é de 0,790.
A população indígena brasileira é formada por 215 povos completamente diferentes entre si. Essa diversidade fica clara quando pensamos na quantidade de línguas faladas no Brasil. Pesquisas do lingüista Aryon Rodrigues, da UNB, mostram que há 180 delas no país. Deste conjunto, algumas estão praticamente extintas, como a karipúna, que um único índio conhece.
Além disso, há pelo menos 40 povos que ainda não tiveram nenhum tipo de contato com a nossa civilização. Eles vivem em áreas afastadas da Amazônia Legal e mantêm intocadas as tradições de seus antepassados. O governo brasileiro que, no passado, tentou “integrar” os povos indígenas à sociedade nacional, hoje reconhece que é melhor proteger à distância as áreas onde eles estão e preservar suas identidades.
Onde eles vivem*
Norte
Acre
População: 11 531
Povos: 13
Línguas: 10
Amapá
População: 6 223
Povos: 5
Línguas: 3
Amazonas
População: 101 844
Povos: 64
Línguas: 58
Pará
População: 19 249
Povos: 32
Línguas: 17
Rondônia
População: 8 147
Povos: 32
Línguas: 29
Roraima
População: 33 004
Povos: 9
Línguas: 7
Tocantins
População: 8 696
Povos: 8
Línguas: 6
Alagoas
População: 8 109
Povos: 6
Línguas: 0
Bahia
População: 22 172
Povos: 13
Línguas: 0
Ceará
População: 10 090
Povos: 4
Línguas: 0
Nordeste
Maranhão
População: 23 573
Povos: 6
Línguas: 5
Paraíba
População: 10 047
Povos: 1
Línguas: 0
Pernambuco
População: 40 220
Povos: 9
Línguas: 1
Piauí
População: 0
Povos: 0
Línguas: 0
Rio Grande do Norte
População: 0
Povos: 0
Línguas: 0
Sergipe
População: 364
Povos: 1
Línguas: 0
Centro-Oeste
Distrito Federal
População: 0
Povos: 0
Línguas: 0
Goiás
População: 298
Povos: 3
Línguas: 2
Mato Grosso
População: 28 131
Povos: 36
Línguas: 35
Mato Grosso do Sul
População: 54 221
Povos: 7
Línguas: 6
Sudeste
Espírito Santo
População: 1 943
Povos: 2
Línguas: 1
Minas Gerais
População: 7 517
Povos: 7
Línguas: 2
Rio de Janeiro
População: 534
Povos: 1
Línguas: 1
São Paulo
População: 2 951
Povos: 5
Línguas: 3
Sul
Paraná
População: 11 152
Povos: 3
Línguas: 3
Santa Catarina
População: 7 798
Povos: 3
Línguas: 3
Rio Grande do Sul
População: 13 362
Povos: 2
Línguas: 2
*Dados da Funai
Conheça seus vizinhos
Diversidade é a palavra-chave para entender os índios brasileiros. Conheça alguns povos espalhados no Brasil
Sateré-mawê (AM e PA)
O cultivo e o comércio de guaraná organizam o cotidiano deles e lhes garantem independência financeira: os sateré-mawê vendem a bebida para a Bolívia e Mato Grosso desde 1819. Assim, conseguem a façanha de manter contatos com os “brancos” há mais de 4 séculos, sem, contudo, perder a identidade. Se auto-intitulam “os filhos do guaraná”.
Número: 6 100
Enawenê-nawê (MT)
Não falam português e mantêm a maioria de seus rituais preservados. Não caçam e, por isso, raramente comem carne animal. Quando chegam à puberdade, ganham um protetor peniano feito de palha de buriti. Ser visto sem esta “cueca” causa constrangimento igual ao que os “brancos” sentem quando são surpreendidos nus.
Número: 400
Kadiwéu (MS)
Há registros de que os kadiwéu tenham escravizado outras etnias, além de portugueses, espanhóis, brasileiros e paraguaios. Durante a Guerra do Paraguai, lutaram ao lado dos brasileiros e justificam a propriedade da terra onde estão como pagamento pelos serviços. A cerâmica produzida pelas mulheres kadiwéu é famosa pelos motivos coloridos e hoje constitui fonte de renda importante para este povo.
Número: 1 100
Araweté (PA)
Na época do primeiro contato, na década de 1970, eram nômades – percorriam as matas à procura de comida e fugindo das etnias inimigas. Só depois que foram fixados num território pelo governo é que incorporaram a idéia de propriedade. Na aldeia, é comum que dois casais formem uma associação, em que a colaboração nas tarefas diárias é regra e a troca de parceiros, também.
Número: 139
Ka’apor (MA)
Os primeiros contatos foram feitos em 1600, mas os ka’apor só selaram a paz com os “brancos” em 1928. Para esse povo, foram eles que “amansaram” os “brancos” e não o contrário. A cerimônia de batismo coletivo é o ritual mais importante da tribo. Quando os nomes são anunciados, todos os repetem em voz alta até fixá-los. Para finalizar, os padrinhos assopram um apito cerimonial. A idéia é comunicar ao mundo que a etnia continua resistindo.
Número: 483
Tremembé (CE)
Até a década de 1980, o governo brasileiro considerava que não havia índios no Ceará. A situação mudou quando alguns grupos se organizaram para reivindicar a demarcação de territórios específicos. Não têm uma língua própria e conservam poucos de seus costumes originais, vivendo como os sertanejos da região.
Número: 5 000
Krahô (TO)
Participam de vários projetos de desenvolvimento sustentável conciliando antigas práticas agrícolas com técnicas atuais e já ganharam prêmios internacionais por isso. Também não desprezam a modernidade na hora de reafirmar suas tradições. Mantêm um site na internet (www.kraho.org.br/), onde vendem peças de artesanato e um cd de cânticos. Têm escritórios de representação em Itacajá (TO) e Brasília (DF).
Número: 2 700
Kaingang (SC, SP, PR, RS)
Organizam eleições diretas para definir quem ocupará o cargo de cacique. Têm direito a voto todos os homens com mais de 15 anos. Nas aldeias do RS, há 2 partidos tradicionais: o do milho e o do feijão. Cada eleitor deposita um grão correspondente ao partido de seu candidato em uma urna. Em 2000, apareceu uma “terceira via”, o partido da soja. É comum que também concorram a cargos de vereador nas cidades próximas às aldeias.
Número: 26 300