O pequeno mágico dos Algarismo
Truques mostram que a Matemática pode ser bem divertida.
Luiz Barco
Sou adepto das feiras de ciências que algumas escolas secundárias promovem, pois são inegáveis seus bons resultados. Recentemente, convidado a falar aos jovens de um colégio, descobri que eles estavam montando uma dessas feiras e sugeri que fizessem alguma coisa sobre Matemática. Um dos garotos estranhou minha sugestão. Em sua opinião, seria muito chato participar de uma feira onde houvesse um barraquinha de Matemática. Depois de uma breve troca de idéias e sugestões emprestei-lhe alguns dos meus livros e revistas sobre curiosidades matemáticas, entre eles o delicioso Brincando de Matemática, do russo Y. I. Perelman. Algumas semanas depois, voltei ao colégio para visitar a feira e reencontrei meu pequeno amigo, já não era o da disciplina, da qual, pelo jeito, ele não gosta. Ostentando um vistosa cartola ele comandava a Tenda do mágico dos números. Ao me ver chegar, muito gentil, falou suficientemente alto para atrair a atenção dos outros: Professor, apanhe este pequeno pedaço de papel e escreva um número de três algarismo, sem me mostrar. Depois, repita os mesmos algarismos na mesma ordem, formando um número de seis algarismos.
Prontamente, atendi ao pequeno mágico. Sem perder a pompa, ele ordenou: Escolha uma das pessoas e passe o papel para que ela divida o número que está escrito por 7.
Tentando embaraçá-lo, disse que talvez a conta não desse um número exato. Mas ele rapidamente garantiu: Dá sim, o senhor não conhece a força do meu pensamento. Cuidei para que o senhor escolhesse um número que funcione. Passei então o papel a uma garota que muito atenta fez a conta e em seguida exclamou: Ele tem razão, dá exato. Nosso pequeno mágico não se abalou e colocando as mãos sobre as têmporas, como se estivesse controlando o processo telepaticamente, disse: Menina, escolha outra pessoa, passe o papel para que ela divida o novo resultado por 11. Antes que alguém fizesse qualquer observação, foi adiantando: Não se preocupem, dá exato. O sorriso da pessoa escolhida parecia confirmar a previsão do mágico.
Mantendo o controle sobre o grupo, que a essa altura já era grande, ele ainda mandou que se escolhesse uma outra pessoa e a ela ordenou: Divida o último resultado por 13. Mostrou-nos uma pequena tira de papel onde nada estava escrito e pediu que a última pessoa escrevesse o resultado obtido. Feito isso, mandou que me devolvessem o papel. E todo lampeiro disse: Eis aí o número que o senhor pensou. Não preciso dizer que ele foi aplaudido por todos, enquanto eu garantia à platéia que o número estava certo, absolutamente certo. Tente agora fazer essa mágica e verifique que não é necessário mentalizar o número escolhido. O truque funciona com qualquer número de três algarismos e foi isso que o pequeno mágico fez.
Para não perder o pique, o menino chamou uma senhora que assistia a tudo embevecida: Agora é com a Tia Mercedes: escreva um número com quantos algarismo queira. A seguir diminua dele a soma dos valores dos seus algarismos. Tia Mercedes, que era a querida cozinheira do colégio, obedeceu. Nosso mágico continuou: Bem, ignore um dos algarismos diferentes de zero e diga altos os outros. 5, 7, 2, 0 e 5, falou a desconfiada tia. O menino, então, cheio de si, disse: A tia ignorou o 8. E ele estava certo. Tente, você também, descobrir o novo truque. Os dois foram tirados do livro de Perelman por nosso pequeno mágico. Essa divertida brincadeira acabou me ensinando uma grande lição: a de que nossas de Matemática deveriam recuperar a magia que se esconde no lúdico. E consultar também uma boa e alegre cozinheira, pois ela, com certezas, sabe mais sobre o sabor das coisas do que muitos matemáticos.