O que o Deserto do Atacama tem a ver com a moda?
Estudos alertam para a necessidade de mudanças urgentes na forma de produzir, consumir e descartar as roupas
Os cenários são impressionantes. Dunas de areias douradas, montanhas nevadas refletidas em lagoas de um azul intenso, vulcões e gêiseres. Quem visita o Atacama se sente insignificante diante da grandiosidade das paisagens – com mais de 200 quilômetros de extensão, o local é considerado o deserto mais árido e alto do mundo.
Recentemente, no entanto, o Deserto do Atacama ganhou mais um adjetivo, ao se tornar um dos desertos mais poluídos do planeta. Sim, um dos cartões-postais do Chile está se transformando em um verdadeiro lixão a céu aberto, com suas areias cobertas de roupas.
De acordo com a agência de notícias Associated Press, são peças fabricadas em Bangladesh e na China e enviadas ao mercado da Ásia, da Europa e dos Estados Unidos. Porém, boa parte do que não é comprado – aproximadamente 59 000 toneladas – acaba sendo adquirida por vendedores de segunda mão na zona franca de Iquique, no norte do Chile, com a intenção de revendê-la a outros países latinos. As que não são comercializadas – cerca de 39 000 toneladas – tem como destino final o aterro no Atacama.
A cena, no mínimo chocante, levantou o debate sobre os impactos que a indústria têxtil vem causando ao meio ambiente e a reflexão sobre a relação dos consumidores com as roupas.
E a Electrolux, marca global de eletrodomésticos, decidiu fazer a sua parte. Para isso, analisou a fundo as causas e consequências desse desequilíbrio entre produção, compra, uso e descarte das peças e desenvolveu soluções de ponta para uma lavagem eficiente e menos agressiva, de forma a preservar a qualidade dos tecidos e prolongar sua vida útil.
Os danos ao meio ambiente
Agências da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que a indústria da moda é responsável por 8% das emissões globais de gases de efeito estufa. E, se nada for feito para mudar esse quadro, as emissões devem crescer mais de 26% até 2050, segundo a Ellen MacArthur Foundation (EMF).
Ainda de acordo com a fundação, a produção têxtil usa cerca de 93 bilhões de metros cúbicos de água anualmente, o equivalente a 37 milhões de piscinas olímpicas.
Já o Instituto Akatu aponta que, para produzir uma única camiseta, são gastos 2 700 litros de água, quantidade suficiente para uma pessoa suprir todas as suas necessidades básicas (beber, fazer a higiene pessoal, cozinhar e para fins sanitários) ao longo de 36 dias.
E os impactos da moda ao meio ambiente não param por aí. Só o tingimento de tecidos polui de 17% a 20% das águas do planeta, conforme apontam dados revelados pelo jornal britânico The Guardian.
O poliéster conhecido como PET, uma das fibras sintéticas mais utilizadas na produção de roupas, é responsável por liberar uma alta quantidade de microplásticos na água, encontrados, inclusive, no estômago de animais marinhos, segundo um relatório publicado em 2021 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Outra fibra artificial bastante utilizada na moda é a viscose. Derivada da celulose, sua produção envolve a derrubada de árvores de florestas nativas, inclusive ameaçadas de extinção, o que inclui a Amazônia, de acordo com o estudo Fios da Moda, desenvolvido pelo Instituto Modefica, em parceria com a FGV e a Regenerate Fashion.
Fast fashion: produção acelerada, consumo desenfreado
Os impactos da cadeia produtiva para o meio ambiente são enormes, mas a forma com que as roupas são consumidas e descartadas também têm prejudicado, e muito, o planeta.
Se à primeira vista a moda se tornou mais barata e prática, por outro compramos mais e nem sempre de forma consciente. O comportamento é consequência do fast fashion, um conceito surgido na década de 1990 para atender o consumidor cada vez mais impaciente, impulsivo e conectado. Basicamente ele funciona da seguinte maneira: as grandes marcas lançam coleções de forma constante e rápida – cerca de 50 por ano – e por um baixo custo. As pessoas, por sua vez, compram desenfreadamente, muitas vezes sem nem pensar se realmente precisam ou gostam daquela peça. E pior: para estar na moda e acompanhar as últimas tendências – que mudam em ritmo frenético –, as pessoas não só compram como se desfazem rapidamente das roupas. Para se ter uma ideia, de acordo com o estudo A Verdade sobre a Lavanderia, desenvolvido pela Electrolux, as roupas são usadas, em média, apenas dez vezes e descartadas antes do necessário.
O risco do descarte têxtil
Algumas peças esquecidas no fundo do armário são doadas, é fato, mas muitas são jogadas no lixo e, consequentemente, encaminhadas aos aterros sanitários. Somam-se a elas os resíduos da própria indústria têxtil, que, para produzir freneticamente, acaba desperdiçando muito tecido. São sobras da própria produção e itens que nem chegam a ser comercializados – segundo levantamento da ShareCloth, a indústria da moda global produz 150 bilhões de peças, sendo que pelo menos 30% nem chegam a ser vendidas.
De acordo com o relatório A New Textiles Economy: Redesigning Fashion’s Future, lançado em 2021 pela Ellen MacArthur Foundation, 73% dos resíduos têxteis são incinerados ou jogados em aterros sanitários, o que equivale a um caminhão de lixo de roupas por segundo. Desse montante, somente 12% vão para a reciclagem, e menos de 1% é usado para fabricar novas peças. O report ainda traz outros dados impressionantes: a cada segundo, o equivalente a um caminhão de lixo cheio de sobras de tecido é queimado – liberando, mais uma vez, gases de efeito estufa – ou descartado em aterros sanitários, seja no Deserto do Atacama, no litoral de Gana, na África, e em tantos outros lugares do mundo.
No Brasil o cenário não é diferente. Aqui, de acordo com o relatório Fios da Moda, quase 9 bilhões de peças são confeccionadas por ano, o que daria, em média, 42 peças por habitante. O estudo indica, ainda, que só a cidade de São Paulo gera cerca de 63 toneladas de resíduos têxteis por dia. Na região do Brás – considerado o maior polo de confecção de roupas do país –, a quantidade de sobras de produção descartada diariamente equivale a cerca de 16 caminhões de lixo. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) calcula que no Brasil a indústria da moda gera 175 000 toneladas de resíduos têxteis por ano.
As consequências para o meio ambiente são devastadoras, e é fácil entender o porquê: enquanto as peças de algodão levam 20 anos para se decompor, as confeccionadas com materiais sintéticos podem resistir por até quatro séculos. E mesmo a pigmentação dos tecidos contamina o solo.
Dos ateliês ao fast fashion
Você sabia que o ritmo de produção de roupas praticamente dobrou nos primeiros 15 anos deste século?
1900-1920 – Com a popularização da máquina de costura, surgem as primeiras fábricas de moda pronta e lojas de departamento – até então, a moda era restrita aos ateliês de alta-costura.
1930-1940 – Durante a Grande Depressão da década de 1930, tudo referente ao “fashion” é posto de lado, as peças são reparadas ao máximo. Nos anos 1940, com a Segunda Guerra Mundial, as mulheres entram no mercado de trabalho e conquistam poder de compra.
1950-1960 – Na década de 1950, a classe média passa a ter acesso à moda de qualidade, feita à mão. A partir de 1960, os materiais sintéticos invadem o mundo fashion, surgem novas empresas, e a indústria têxtil deslancha. Assim nasce o prêt-à-porter, que significa “pronto a vestir”, baseado nas grandes cadeias de roupas americanas. É a democratização da moda.
1970-1980 – Muitas empresas transferem suas fábricas para a Ásia a fim de reduzir os custos de produção. O vestuário fica mais barato, mas o crescimento do mercado publicitário encarece o preço final. O ciclo sazonal da moda primavera/verão e outono/inverno também é incorporado à moda.
1990-2000 – Tem início a globalização da moda. O processo de fabricação ganha velocidade, e, na busca pela rapidez, muitos varejistas abrem mão da qualidade. Surge o fast fashion, com seu senso de urgência que impulsiona o consumidor a “comprar mais e pensar menos”. O conceito contribuiu para uma significativa redução no número médio das vezes que um item é usado, tanto pela velocidade da moda como pela pouca durabilidade dos produtos.
Vida longa para suas roupas
O investimento em peças de qualidade e o cuidado em sua manutenção são passos essenciais para diminuir as compras desnecessárias e o desperdício. Com a meta de fazer com que as roupas durem o dobro do tempo e gerem metade do impacto ambiental até 2030, a Electrolux se juntou à dupla de design Rave Review para fazer uma pequena coleção, parte da campanha Break the Pattern, que visa alertar os consumidores sobre a importância dos cuidados para prolongar a vida útil de suas peças e, dessa forma, reduzir os impactos ao meio ambiente.
A empresa aconselha, por exemplo, que as peças sejam menos lavadas. Assim, sempre que possível, procure arejá-las – muitas vezes esse recurso já resolve. Ao comprar uma máquina de lavar, vale a pena optar por um modelo com tecnologia de lavanderia, que oferece soluções inovadoras. Por exemplo, as máquinas da Electrolux contam com o sistema SteamCare, que permite refrescar as roupas quando não necessitam de uma lavagem completa. O recurso reduz em 90% o consumo de água em comparação com um ciclo de lavagem completo.
Elas têm, ainda, o sistema New Care Drum, uma espécie de tambor almofadado que faz com que as roupas deslizem suavemente durante a lavagem, causando menos atrito e preservando o tecido. A tecnologia é altamente inovadora e ganhou o prêmio de design alemão Red Dot em 2021.
A multinacional destaca também que as etiquetas das peças costumam indicar um nível mais alto de temperatura da água. Porém, as máquinas de lavar mais modernas permitem que as roupas sejam lavadas a 20/30 °C abaixo do máximo especificado, o que poupa não apenas as fibras têxteis como a energia e os recursos do planeta. Segundo estudos desenvolvidos pela companhia, se a Europa adotasse como regra a temperatura máxima de 30 °C, a redução de CO2 emitido ao ano corresponderia à remoção de 1,3 milhão de carros das ruas.
Os caminhos para uma moda mais sustentável
Aos poucos a indústria têxtil e os consumidores vêm entendendo a importância da economia circular, ou seja, a adoção de processos e comportamentos mais sustentáveis – seja na produção, no armazenamento, na distribuição, na conservação ou no consumo das roupas.
A ideia envolve, por exemplo, a eliminação de materiais e processos nocivos ao meio ambiente, a compra mais consciente, a busca por alternativas que prolonguem a vida útil das roupas e a reciclagem. E muitas iniciativas eficientes têm surgido.
A Cotton Move, por exemplo, desenvolve tecidos sustentáveis a partir da reciclagem. Além disso, ao adotar um modelo de produção sob demanda, a empresa garante que não haja excesso de estoque que possa se transformar em desperdício.
Já a Renovar Têxtil processa os resíduos têxteis obtidos por meio de logística reversa, transformando-os em novas peças. Basicamente o material passa por processos como corte, desfibragem, enfardamento ou ensacamento para voltar ao mercado na forma de estofamento para travesseiro ou pelúcia e mantas acústicas e térmicas.
No Banco de Tecido, o sistema circular funciona da seguinte forma: o cliente leva até uma das suas unidades as sobras de tecido, que são pesadas e geram um crédito, em quilos, que pode ser trocado por outros tecidos da loja – todos feitos com sobras de produção.
Já na Retalhar, os uniformes profissionais doados por empresas são transformados em cobertores distribuídos para pessoas em situação de rua. Desde a sua criação, já foram reciclados 274 000 quilos de uniformes, o equivalente a 861 000 peças, confeccionando mais de 90 000 cobertores e 34 000 produtos personalizados.
Saiba mais sobre hábitos sustentáveis aqui.