Pesquisadores ingleses esquentaram um pedacinho do oceano – de propósito
Experiência polêmica tenta prever consequências do aquecimento global.
Se a humanidade continuar jogando CO2 na atmosfera, os oceanos vão esquentar e haverá derretimento do gelo polar, elevação do nível do mar, inundações e extinções. Isso vai acontecer. Mas como, e em que grau, ninguém sabe. Para tentar descobrir, cientistas ingleses passaram um ano e meio esquentando um pedaço do Oceano Antártico – na Ilha de Adelaide, abaixo da Patagônia. Eles mergulharam 12 placas aquecedoras a 15 metros de profundidade e esquentaram a água em 1 grau, ou em 2 graus, para ver no que dava (esses são os níveis previstos de aquecimento para os próximos 50 e 100 anos). A pesquisadora Gail Ashton, líder do projeto, conta à SUPER como foi.
O que aconteceu quando vocês esquentaram a água em 2 graus?
Houve uma clara mudança na comunidade marinha. Uma espécie de animal, a Fenestrulina rugula (um invertebrado transparente que vive grudado a pedras) proliferou e assumiu o espaço. Como consequência, outras espécies passaram a competir entre si.
Por que essa espécie se deu tão bem?
Nós não sabemos. Mas, ao ocupar a superfície disponível muito mais rápido, ela diminuiu a quantidade de espaço para as outras. Quando esquentamos a água em 1°C, a taxa de crescimento das outras espécies também aumentou, mas não na mesma intensidade [da F. rugula]. Nós mostramos que a vida marinha pode reagir de forma bastante dramática a mudanças de temperatura. As comunidades marinhas poderão ser muito diferentes no futuro.
Vocês alteraram um ecossistema de propósito. Sentem algum remorso por isso?
Todos os equipamentos foram removidos do local após o estudo. Além disso, o aquecimento afetou uma área muito pequena. O impacto no ambiente como um todo foi quase zero.