Texto Anna Balloussier e Emiliano Urbim
O topo é solitário, mas satisfaz. No Brasil, o sujeito que dá as cartas e os contracheques – o dele, de uns R$ 20 mil – é justamente o que se declara mais feliz com sua profissão. Em compensação, alguns lanterninhas salariais, como porteiros e office-boys, estão mais contentes do que muito advogado e jornalista por aí.
As conclusões vêm de uma pesquisa do Instituto Catho, maior portal de recursos humanos da América Latina, que pediu a 42 mil profissionais que avaliassem 11 itens: comprometimento dos colegas, integração entre as áreas, possibilidade de crescimento, satisfação das pessoas, comunicação entre comando e comandados, serviços de RH, investimento no desenvolvimento dos funcionários, sentimento de recompensa no trabalho, métodos das avaliações de desempenho, salários e critérios de promoção.
Com base nesses dados, o economista Mário Fagundes estipulou o Índice de Favorabilidade, um termômetro da felicidade no trabalho. Fagundes descobriu que, para o brasileiro, pegar no batente não tá sendo fácil: só em 21 dos 963 cargos pesquisados houve 50% ou mais de satisfação – a média ficou em 27%.
Pesquisas desse gênero são vistas com reserva pelo Ph.D. em psicologia quantitativa pela Universidade de Illinois Moisés Balassiano. “Não há felicidade, mas momentos felizes. Com uma pesquisa dessas, você tem uma foto, não o filme todo.” Um fato revelado pelos números é que um bom futuro melhora o presente: quanto mais chance de crescer na carreira, maior a satisfação no cargo. Como já havia sacado Thomas Jefferson, o importante não é ter a felicidade, mas buscá-la.
Roda da fortuna
Algumas profissões, agrupadas por atividade, com seu índice de satisfação
Saúde
A área de medicina, odontologia e farmácia é um microcosmo de todas as profissões: em todos os quesitos, as médias deste setor são muito próximas das do conjunto.
Proletariado
Apesar da baixa média salarial, alguns destes profissionais têm índice de felicidade superior aos 27% da média, acima de outros com mais status.
Tecnologia
Apesar de o setor concentrar as “profissões do futuro”, isso não se reflete em salários mais altos nem em uma média maior de satisfação.
Comunicação
Avaliações e critérios de promoção nebulosos não ajudam, mas o que faz a média despencar é a pergunta: “As pessoas se sentem recompensadas?”
Educação
Professores do ensino fundamental e médio têm satisfação média de 30%, contra um índice de 23% entre os colegas da universidade.
Diversos
Mais um indício de que o diploma não traz felicidade profissional. A satisfação em uma profissão não tem necessariamente a ver com o status relacionado a ela.
Administrativos
Toda corporação precisa destes profissionais. Aparentemente, a especialização que diferencia da massa traz mais satisfação.
Vale a plena
Entre os 963 cargos pesquisados, vários representam diferentes níveis da mesma atividade, de estagiário a diretor. Dentro de uma mesma profissão, escolhemos o que a pesquisa chama de “pleno” o profissional nem júnior nem sênior, em meio de carreira.