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São Paulo tem jeito?

A mais rica cidade brasileira também é um dos piores lugares para viver. Como acabar com essa contradição?

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h46 - Publicado em 30 nov 2001, 22h00

Yuri Vasconcelos

Quem mora em São Paulo sente na pele o que é viver numa cidade cheia de problemas ambientais: ar muitas vezes irrespirável, enchentes, lixo nas ruas, congestionamento, degradação nos rios, invasão de áreas de mananciais, ausência de espaços verdes. As agressões tanto à natureza quanto aos moradores da cidade parecem não ter fim – e nem solução. Na verdade, as soluções existem. E todas começam no mesmo lugar: numa mudança na forma de encarar os problemas. Em vez de vê-los isoladamente, é preciso descobrir de que maneira eles se relacionam e, então, buscar soluções sistêmicas. Ou seja, para usar uma imagem da medicina, São Paulo precisa passar pelas mãos de um clínico geral antes que os especialistas entrem em ação.

O fantasma das enchentes, por exemplo, é resultado da sujeira nas ruas, da ocupação irregular do solo (principalmente em zonas de mananciais) e da falta de parques. A poluição do ar, por sua vez, é gerada pelos 3,5 milhões de automóveis que circulam diariamente ocupando as ruas da cidade e dando um nó no trânsito. E o rio Tietê está como está porque não param de jogar lixo e esgoto dentro dele. “São Paulo cresceu dentro da lógica da desordem”, diz a urbanista Raquel Rolnick, do Instituto Pólis. Dar um fim em tudo isso é um tremendo desafio. Depende, em grande parte, de governos mais comprometidos com a saúde da cidade e de seus habitantes. Mas depende, também, e sobretudo, de uma mudança na atitude da população frente aos problemas da cidade. Afinal, se São Paulo é como um organismo, tanto a mente quanto o corpo precisam estar afinados. Ou seja: administração e moradores devem estar comprometidos com a qualidade de vida da cidade onde vivem.

 

Poluição das águas

Mais vergonhoso cartão-postal de São Paulo, o rio Tietê corre como um esgoto a céu aberto pelas entranhas da cidade. A causa são as mais de 1 000 toneladas de esgoto in natura e lixo despejadas dia e noite em seu leito. Algo parecido acontece no rio Pinheiros. Nas represas Billings e Guarapiranga, os principais reservatórios de água da capital, o problema são as favelas e os loteamentos irregulares dos entornos. O quadro é desalentador mas pode ser revertido. O Projeto de Despoluição do Rio Tietê, por exemplo, iniciado em 1992, prevê uma série de obras de saneamento que podem trazer alívio para os mananciais de São Paulo. Se for cumprido tudo o que está programado, em algumas décadas os paulistanos vão poder se refrescar com um banho em suas águas limpas.

Na verdade, a primeira etapa da recuperação foi finalizada em 1999. Cerca de 1,1 bilhão de dólares foram gastos para limpar o caldo denso, escuro e malcheiroso que corria no lugar da água. A rede de esgotos da cidade ganhou 1 780 quilômetros de tubos coletores, o que elevou para 80% o total da população atendida pelo serviço – antes era de 63%. Três novas estações de tratamento (Parque Novo Mundo, Barueri e ABC) foram construídas, fazendo com que 60% do esgoto seja tratado antes de voltar para o rio. Além disso, as 1 250 indústrias mais poluidoras da região metropolitana tiveram que reduzir drasticamente a sujeira jogada no Tietê. O rio Pinheiros também foi contemplado. Um emissário recém-inaugurado beneficiou dois milhões de pessoas e desviou para a Estação de Tratamento de Barueri 84 toneladas que eram lançadas diariamente em seu leito.

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Para quem mora na cidade de São Paulo, a melhoria na qualidade ainda não é perceptível. No interior do Estado, porém, a mancha de poluição encolheu mais de 50 quilômetros. Quando a segunda etapa do projeto ficar pronta, em 2004, os avanços finalmente aparecerão aos olhos. O então Tietê terá 2 miligramas de oxigênio por litro – hoje é zero – e já será possível encontrar algumas espécies de peixes nadando no trecho que corta a região metropolitana. O mau cheiro também vai sumir. Para que isso se torne realidade, a rede de coleta de esgotos ganhará 1 000 quilômetros de canos, elevando para 90% a população atendida. Nas indústrias, o índice de tratamento de dejetos subirá para 70% e 290 indústrias terão que reduzir seus níveis de emissão de poluentes. Na parte final do projeto, 100% da água que chega ao Tietê precisará ser tratada. Se tudo der certo, em 30 anos o rio Tietê estará limpo.

 

Enchentes

Entra ano, sai ano e todo verão é a mesma coisa: São Paulo sucumbe à fúria das águas. Há mais de 400 pontos de alagamento que transformam a cidade num verdadeiro caos. Existem quatro causas principais para o problema: o alto índice de impermeabilização do solo paulistano; a ocupação ilegal de áreas de mananciais; o acúmulo de sujeira que a população joga nas ruas; e as deficiências na coleta do lixo. O problema é tão grande e se repete há tanto tempo que até parece não ter solução. Mas tem.

Quem mora no Pacaembu sabe disso. Depois da construção de um megarreservatório subterrâneo debaixo da praça em frente ao estádio, nunca mais ninguém deixou de chegar em casa por causa da chuva. Só se ficou preso em outro lugar da cidade. Esses reservatórios, também conhecidos como “piscinões”, retêm a água da chuva e impedem que ela se acumule nas ruas, provocando alagamentos. Infelizmente, eles são muito caros. O do Pacaembu custou 15 milhões de dólares e o das Águas Espraiadas, finalizado no ano passado, outros 25 milhões de dólares. Apesar disso, mais dois piscinões já foram projetados para acabar com a dor de cabeça de quem mora nas vizinhanças dos rios Tamanduateí, na região do ABC, e Pirajussara, na fronteira com Taboão da Serra. Valor da conta: 40 milhões de reais.

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E as marginais? Como livrá-las das inundações? A principal ação é aprofundar a calha do rio Tietê. Um primeiro trecho, com 16 quilômetros de extensão, já ficou pronto e o segundo deverá ficar pronto até 2005. O pacote de obras também inclui rios que deságuam no Tietê antes de ele atravessar São Paulo, como a canalização do rio Cabuçu de Cima, perto de Guarulhos, e a construção de barragens de contenção nos rios Paraitinga e Biritiba, na região de Mogi das Cruzes. Obras caras como essas talvez não fossem necessárias se os moradores fizessem a sua parte para evitar o problema das enchentes. Como? Não jogando lixo nas calçadas e ruas, construindo calçadas e garagens com placas de concreto e grama, ou usando uma mistura de concreto e pedra britada no piso dos estacionamentos privados em vez de asfalto. Isso aumentaria a drenagem natural das águas, evitando as inundações.

Um professor da Universidade de São Paulo (USP) tem uma proposta criativa e barata: uma rede de pequenos reservatórios para água de chuva instalados em prédios e casas. “No lugar de piscinões, por que não pedir para a população construir um tanque subterrâneo na sua casa, ligado à rede pluvial, para armazenar a água que cai no seu pedaço?”, sugere Jurandyr Ross, do Departamento de Geografia da Universidade. Além de combater os alagamentos, a água armazenada nesses pequenos reservatórios poderia ser usada para regar o jardim e lavar a calçada. Para quem pensa que a idéia é maluquice, não custa lembrar que, há dez anos, quando não havia rede de esgoto nas grandes cidades, todo mundo tinha um reservatório subterrâneo – a fossa séptica – no jardim ou no quintal.

 

Poluição e trânsito

O ar de São Paulo está entre os mais poluídos do mundo. Por dia, 7 000 toneladas de impurezas são lançadas na atmosfera. O grosso dessa poluição, mais precisamente 95% do total, sai dos escapamentos de carros, ônibus e caminhões de uma frota estimada em 5,5 milhões de veículos. Combater a poluição em São Paulo significa, portanto, controlar a fumaça expelida pelos carros. “O problema deve ser atacado em três frentes”, diz o consultor ambiental Délcio Rodrigues, da empresa Solução Ambiental. “Incorporação de tecnologia antipoluente na fabricação dos carros, restrição da circulação e melhoria no transporte público.” Um exemplo de que inovações tecnológicas podem melhorar o ar da cidade foi a obrigatoriedade do catalisador nos veículos fabricados a partir de 1997, que reduz em 70% a emissão de poluentes por um carro.

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Outra medida seria a incorporação, à frota de transporte público, de ônibus com motores a diesel convertidos para gás natural – já existem cerca de 200 desses veículos em circulação – e de ônibus com motores híbridos, que funcionam com gasolina e um sistema elétrico. Os ônibus movidos a diesel, juntamente com os caminhões, são os maiores responsáveis pela emissão de material particulado, a danosa fumaça preta. Uma empresa de São Bernardo do Campo, a Eletra, fabrica esses ônibus ecológicos, que emitem 70% menos poluentes no ar, e pretende vendê-los para as empresas de transporte de São Paulo.

A segunda frente de combate seria restringir a circulação de automóveis, o que, além de reduzir a poluição, minimizaria outro sério problema do paulistano, os congestionamentos, que atingem uma média de 120 quilômetros todo fim de tarde. O rodízio de veículos, adotado há seis anos, é uma dessas ações restritivas. A cada dia, ele tira das ruas, nos horários de pico, algo como 700 000 veículos. Mas existem outras medidas a serem adotadas, como a proibição de estacionar em avenidas de fluxo intenso, como a Teodoro Sampaio. “Para inibir o uso dos automóveis, Nova York praticamente acabou com a oferta de estacionamento em vias públicas. E deu certo”, diz Rodrigues.

Outra megaobra essencial para melhorar o trânsito paulistano é a construção do rodoanel viário. Com uma extensão de 170 quilômetros, o anel interligará dez rodovias de acesso a São Paulo, desviando a frota de caminhões que hoje precisam cruzar as marginais. Dessa forma, São Paulo vai poder proibir o trânsito de caminhões pesados nas vias que ligam o centro à periferia, outra medida que deu certo em Nova York. O metrô também tem um importante papel para acabar com o caos da circulação. A rede de trens subterrâneos tem apenas 49 quilômetros, enquanto uma metrópole do tamanho de São Paulo deveria ter pelo menos o triplo dessa extensão. Duas novas linhas, uma ligando Capão Redondo a Santo Amaro e outra o centro à Vila Sônia, na Zona Oeste, ficarão prontas até 2006, acrescentando mais 22,2 quilômetros de trilhos à cidade.

 

Áreas verdes

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São Paulo é uma cidade de concreto. Na média, o município tem 4,6 metros quadrados de áreas verdes por habitante, quando o ideal, segundo a Organização das Nações Unidas, seria 12 metros quadrados, quase o triplo. Paris, por exemplo, tem 14,3 metros de verde por morador, três vezes mais que São Paulo. Além disso, o que existe de verde está mal distribuído. Enquanto bairros mais ricos têm ruas arborizadas, parques e praças ajardinadas, na periferia só se enxerga concreto. Estima-se que 2,4 milhões de pessoas vivam nesses bairros cinzas, a maioria localizados nos extremos leste e sul. Para mudar esse quadro, é preciso investir no verde.

Medidas pontuais, como o Projeto Pomar, criado há dois anos pelo governo, mostram que não é tão difícil combater o problema. Graças a ele, uma faixa de 14 quilômetros da margem esquerda do rio Pinheiros está se transformando num belo jardim. Onde se via desolação, agora se colhem flores. O mesmo pode ser feito no Tietê e em canteiros de grandes avenidas. Outra idéia, já em estudo, é a transformação de áreas degradadas e antigos aterros sanitários em parques. “Vamos priorizar os lixões que ficam em regiões carentes, que estão há mais tempo desativados e que exigirão menos investimentos”, diz a secretária municipal do Meio Ambiente, Stela Goldstein. Dos 11 aterros abandonados, a prefeitura quer recuperar, nos próximos três anos, pelo menos três na Zona Leste, com a ajuda da iniciativa privada.

Outro projeto ambicioso é o Reviverde, que pretende acrescentar 1 000 hectares de espaços verdes em São Paulo. O primeiro parque será o Vila do Rodeio, em Guaianazes, com 64 hectares – metade do Ibirapuera. Mas não é só. Até 2003, a cidade ganhará 80 praças e parques construídos com verba de um programa de canalização de córregos e recuperação de áreas adjacentes, financiado pelo BID. As dez primeiras praças, em São Mateus, Aricanduva, Vila Prudente e Penha, ficam prontas até julho de 2002. O primeiro parque, em Itaquera, será inaugurado dentro de um ano. Ao todo, serão gastos 30 milhões de reais para aumentar em quase um milhão de metros quadrados a área verde de São Paulo, cerca de 2% do que existe hoje. É um bom começo.

 

Lixo

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Reciclagem é a melhor solução para a montanha de lixo produzida diariamente em São Paulo. Hoje, são quase 14 000 toneladas lançadas nos aterros Bandeirantes, na Zona Oeste, e no Sítio São João, em Sapopemba, na Zona Leste. O problema é que a vida útil desses aterros está se esgotando e não há mais grandes áreas que possam servir de depósito. A exemplo de Nova York, São Paulo teria que arcar com os altíssimos custos de enviar lixo para municípios vizinhos – e certamente terá de pagar muito caro para isso, além de comprar uma terrível briga com os ecologistas.

A coleta seletiva, introduzida na cidade há dez anos, mas que nunca operou para valer, é a alternativa mais barata e ecologicamente correta. Estima-se que 25% dos resíduos sólidos gerados pela população possam ser reciclados. Hoje, o município recicla apenas 24 toneladas das 105 000 produzidas por mês – ou vergonhosos 0,06% do lixo coletado. Porto Alegre, por exemplo, recicla 20% do seu lixo. O que fazer para mudar essa situação? “É preciso implantar um programa sério e descentralizado de coleta seletiva com a participação de cooperativas de catadores”, sugere Elizabeth Grinsberg, coordenadora do fórum Lixo e Cidadania da Cidade de São Paulo. “Desta forma, a reciclagem poderá criar 52 000 empregos e gerar uma economia anual de 76 milhões de reais para os cofres da prefeitura”, diz ela.

Mas a coleta seletiva depende também dos moradores da cidade. “As pessoas precisam mudar seus valores e rever sua postura para diminuir a produção de lixo”, diz Elizabeth. Ela lista seis atitudes básicas: dar preferência a embalagens retornáveis; recusar aquelas que são desnecessárias; aproveitar integralmente os alimentos (talos, sementes e folhas); escolher sempre produtos duráveis; usar a frente e o verso das folhas de papel; e utilizar utensílios permanentes em escritórios (copos de requeijão no lugar dos descartáveis). Adotadas por uma única pessoa, essas medidas parecem inócuas. Mas se multiplicarmos por 10 milhões de pessoas, é fácil imaginar a montanha de lixo que deixaria de ser produzida num só dia.

 

Ecologia humana

Acabar com o cinturão de pobreza que cerca São Paulo é o grande desafio do futuro. Nas últimas décadas, a cidade cresceu dentro de uma lógica desordenada e gerou um perverso apartheid urbano. Os mais pobres foram expulsos dos bairros de classe média localizados junto à região central e empurrados para regiões cada vez mais distantes. O resultado não demorou a aparecer: áreas de proteção de mananciais, que compreendem as nascentes, os rios e os reservatórios, ficaram à mercê do crescimento desordenado e foram ocupadas por uma série de loteamentos clandestinos, invasões, favelas, depósitos irregulares de lixo. Estima-se que algo como 2 500 bairros irregulares e 1 600 favelas tomam conta da periferia, servindo de moradia para metade da população paulistana. Como o trabalho está no centro, cria-se uma fabulosa movimentação humana, que sobrecarrega os sistemas de transporte, provoca congestionamentos e gera poluição do ar.

Uma saída seria o repovoamento da região central. Calcula-se que São Paulo tenha cerca de 420 000 casas e apartamentos desabitados por causa do alto preço dos aluguéis, boa parte no centro. “Famílias com renda entre cinco e dez salários-mínimos poderiam voltar a viver nessas regiões”, sugere a urbanista. “É preciso repovoar a área consolidada.” Os benefícios seriam muitos: redução da violência na região; recuperação de prédios abandonados ou transformados em cortiços; revitalização de praças e parques; e redução do tempo gasto para ir ao trabalho, já que as pessoas estariam morando perto de seus locais de emprego. Indiretamente, os mananciais estariam sendo protegidos, pois diminuiria a pressão imobiliária sobre as áreas em seus entornos.

Uma idéia parecida é defendida por Marco Antônio Ramos de Almeida. Há dez anos ele comanda a organização Viva o Centro, que busca revitalizar essa região da cidade. Para Marco, o problema maior de São Paulo não é sua população de 10 milhões de habitantes, como muita gente pensa, e sim a maneira como ela está distribuída. “Se São Paulo ocupasse um quinto da área que ocupa hoje, muitos de seus problemas ambientais seriam mais fáceis de resolver. Por exemplo, é muito mais simples e barato levar infra-estrutura a uma área de 200 quilômetros quadrados do que a uma área de 1 000 quilômetros quadrados, que é a área total da cidade hoje. Por isso, revitalizar o centro e promover sua reocupação é fundamental para combater problemas agudos da periferia”, afirma.

 

Isso Está Dando Certo

O lixo amigo de todos

Um prédio na Avenida Paulista mostra que a coleta seletiva só faz bem

A Avenida Paulista já foi eleita pelos paulistanos como símbolo da cidade. Pena que o programa de reciclagem de lixo adotado pelo mais tradicional edifício da avenida, o Conjunto Nacional, localizado no cruzamento com a rua Augusta, ainda não possa ser considerado um símbolo de como a cidade recicla o seu lixo. Há nove anos, o condomínio implantou, por sua própria iniciativa, um programa de coleta seletiva de lixo que recolhe 20% das 90 toneladas de resíduos sólidos geradas mensalmente pelos 48 apartamentos e 400 empresas do edifício. O programa tem mostrado que é possível aos moradores fazer algo pelo meio ambiente da cidade sem ter que depender de políticos ou administradores

Os 20% recolhidos, embora sejam apenas uma parcela do total, representam 18 toneladas de materiais que deixam de se amontoar nos praticamente esgotados aterros da cidade. Desde sua criação, o programa recolheu 169 toneladas de papel, 395 toneladas de papelão, 311 toneladas de jornais e revistas, 37 toneladas de vidro, 7 toneladas de plástico e 10 toneladas de alumínio. “É um projeto vitorioso”, diz Vilma Peramezza, gerente do condomínio e responsável pela implantação do projeto. “Nosso programa virou referência no país e tem ajudado a mudar a maneira como as pessoas encaram o lixo.”

Além do evidente ganho ecológico, o projeto cuida para que os benefícios sejam revertidos para as pessoas que participam diretamente da coleta. O dinheiro arrecadado com a venda dos materiais recicláveis é investido na melhoria de vida dos funcionários. Eles recebem ajuda para a compra de material escolar dos filhos ou gratificação extra no período de Natal para melhorar a ceia. Além disso, os recursos são empregados na compra de equipamentos (televisão, videocassete, geladeira e máquinas de café) para as salas de apoio do condomínio, onde os funcionáros podem descansar ou tomar lanche.

Neste ano, boa parte da decoração natalina do Conjunto Nacional será feita com os materiais recicláveis coletados no prédio. Dez entidades que dão assistência a pessoas deficientes ou carentes foram contratadas para criar a decoração, que será composta de 60 anjos, um presépio e três grandes reis magos – tudo feito de lixo. Assim, o Conjunto Nacional faz uma boa ação e ainda divulga os benefícios da coleta seletiva para as mais de 20 000 pessoas que passam diariamente pelo prédio. “A coleta seletiva só vai vingar em São Paulo se as pessoas forem envolvidas em projetos participativos e é isso que queremos fazer”, afirma Vilma.

Boas notícias

Para uma cidade à beira do caos

Idéias e projetos que poderão melhorar a vida de quem vive na maior e mais complicada cidade brasileira

 

1. Marianal Tietê

Com a abertura do rodoanel, em 2002, os congestionamentos vão diminuir muito em 2002

 

2. Cinturão de pobreza

Nos últimos dez anos, 20% dos paulistanos foram expulsos dos bairros para a periferia. O desafio é inverter esse fluxo e reocupar o Centro

 

3. Rede de esgoto

Mais de 1 000 quilômetros de coletores serão instalados até 2004, elevando o atendimento para 90% da população

 

4. Rio Tietê

Para controlar as enchentes, sua calha será aprofundada. A obra termina em 2005

 

5. Pacaembu

Desde a construção do “piscinão” sob o estádio, a região não tem mais enchentes

 

6. Novo centro

Hoje, só 50 000 pessoas moram no Centro. É preciso atrair moradores para a região

 

7. Ar sujo

Parque Dom Pedro e Cerqueira César estão entre os bairros mais atingidos. Melhorar o transporte é essencial para reduzir a poluição

 

8. Novas praças

80 praças serão construídas em bairros carentes com verbas para a canalização de córregos

 

9. Áreas verdes

O projeto Reviverde prevê 1 000 hectares de novos parques. O primeiro será Vila do Rodeio, entregue em 2004

10. Aterros

Estão no limite da capacidade. O de Sapopemba deve ser ampliado em 1 quilômetro quadrado

 

11. Mais piscinões

Os rios Tamanduateí e Pirajussara também terão reservatórios anti-enchente

 

12. Reciclagem

A coleta de lixo tiraria 25% do lixo dos aterros, ou 105 000 toneladas mensais

 

13. Emissário so Rio Pinheiros

Desviou 84 toneladas de esgoto diário para uma estação de tratamento. As margens do rio estão sendo ajardinadas

 

14. Ampliação do metrô

Duas novas linhas serão inauguradas: a linha 5, que liga o extremo sul a Santo Amaro, fica pronta em 2002. E a número 4 (Centro-Vila Sônia) deve sair em 2006

 

15. Corredores de ônibus

Dois novos serão construídos, ligando Guarapiranga a Santo Amaro, e Pirituba ao Centro

 

16. Mananciais

41 milhões de reais foram gastos, este ano, para deter as invasões, reurbanizar a área e tratar os esgotos domésticos

 

Rodoanel viário

Será um corredor com 170 quilômetros, circundando a cidade a distâncias de até 40 quilômetros do Centro. O primeiro trecho, de 32 quilômetros, fica pronto em 2002 e ligará as rodovias Bandeirantes e Régis Bittencourt

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