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Sete glórias antigas

Das pirâmides do Egito ao Colosso de Rodes, sete formidáveis construções merecem dos gergos o título de "maravilhas". Seis delas sumiram quase sem deixar traço. Terão existido realmente?

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h50 - Publicado em 31 dez 1988, 22h00

Muitos séculos antes da era cristã, os povos do Mediterrâneo tiveram o privilégio de conhecer os monumentos que para os gregos eram as maiores realizações materiais da Antigüidade, as sete maravilhas do mundo: as Pirâmides do Egito, o Farol de Alexandria, os Jardins Suspensos da Babilônia, o Templo de Ártemis, a Estátua de Zeus, o Mausoléu de Halicarnasso e o Colosso de Rodes. A relação que data do século II a.C., é atribuída a Antípater, poeta grego nascido em Sidon, no atual Líbano. A idéia surgiu com o desenvolvimento da erudição, o conhecimento acumulado em cada área da atividade humana.

Com o auxílio da literatura de viagens, que descrevia paisagens físicas, construções e costumes, também chamada literatura de mirabilia (do latim, que vale a pena ver), nasceu o inventário das maravilhas, limitadas não se saber por que a sete. Construídas em diferentes épocas, é quase certo que todas ainda estavam em pé em meados do século II a.C., mas não mais no tempo de Antípater. Delas só restaram as pirâmides do Egito. Quanto às outras, pairam muitas dúvidas: a data exata de construção e destruição, o tamanho real e até que aspecto de fato teriam tido.

Enquanto imagens do Colosso de Rodes e da Estátua de Zeus foram reconstruídas com base em descrições incompletas e reproduções estilizadas em moedas, o Farol de Alexandria, o Templo de Ártemis e o Mausoléu de Halicarnasso puderam ser desenhados graças a documentos históricos considerados bastante próximos do original. Dos Jardins Suspensos da Babilônia nem se sabe sequer quando desapareceram. Não que se tenha certeza absoluta da época em que tiveram fim os outros monumentos, mas para alguns deles é possível, ao menos, mencionar datas prováveis.

As primeiras reconstruções dessas maravilhas, embora fantasiosas muitas vezes, surgiram nos séculos XVI e XVII. Algumas são atribuídas ao jesuíta alemão Athanasius Kircher (1601-1680), que pesquisou uma vasta gama de assuntos e escreveu 44 livros. Reproduções mais verossímeis só puderam ser feitas quando os arqueólogos começaram a estudar o que restou de algumas maravilhas, a partir dos séculos XVIII e XIX. Do que se descobriu, emerge uma certeza: a lista do velho Antípater pode estar incompleta — por que não inclui, por exemplo, o Pártenon, de Atenas? — , mas as obras selecionadas devem ter sido, de fato, maravilhosas.

 

 

 

AS PIRÂMIDES DO EGITO

Dois milhões de blocos

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As três pirâmides do Egito ocupam merecidamente o primeiro lugar da relação. Construídas entre 2551 e 2495 a.C. para servirem de túmulo aos faraós, são também os mais antigos dos sete monumentos. Prova do alto nível da ciência e tecnologia do Antigo Egito, com soluções de engenharia admiráveis para qualquer época e lugar, erguem-se imponentes na planície de Gizé, a 15 quilômetros do Cairo. A maior é a de Quéops, o segundo rei da IV dinastia. Segundo o historiador grego Heródoto, sua construção mobilizou 100 mil trabalhadores durante vinte anos. Com 146 metros de altura — o equivalente a um edifício de 48 andares — , foi a primeira a ser construída, com mais de 2 milhões de blocos de pedra.

As pirâmides tinham, inicialmente, uma base hexagonal, isto é, de seis lados. A partir da pirâmide monumental (que não faz parte das sete maravilhas), atribuída ao rei Snefru, a estrutura básica alargou-se até se transformar num bloco compacto de alvenaria com oito terraços, preenchidos com blocos de pedra que se encaixavam perfeitamente, formando um aclive em degraus. Recoberta a construção com uma massa lisa de pedra calcária, resultou uma verdadeira pirâmide geométrica.

Um pouco menor que a de Quéops, a pirâmide de Faraó Quéfren tinha 143 metros de altura: a terceira, de Miquerinos, 66 metros. Provavelmente, os próprios faraós, foram os arquivos das suas pirâmides, onde, segundo a crença, eles ressuscitariam. O apogeu do poder real no Egito deu-se justamente no período correspondente à IV dinastia, quando a centralização era a marca registrada do sistema político.

 

 

 

O FAROL DE ALEXANDRIA

120 metros em mármore

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Na ilha que fica diante da cidade de Alexandria, no Egito, ergueu-se o mais famoso farol da Antigüidade. Por isso a ilha foi chamada Faros (farol, em grego). Modelo para a construção dos que o sucederam, o Farol de Alexandria foi classificado como a segunda maravilha do mundo. Todo de mármore e com 120 metros de altura — três vezes o Cristo Redentor no Rio de Janeiro –, foi construído por volta de 280 a.C. pelo arquiteto grego Sóstrato de Cnidos, por ordem de Ptolomeu II, rei grego que governava o Egito. Diz a lenda que Sóstrato procurou um material resistente à água do mar e por isso a torre teria sido construída sobre gigantescos blocos de vidro. Mas não há nenhum indício disso.

Com três estágios superpostos — o primeiro, quadrado; o segundo, octogonal; e o terceiro, cilíndrico –, dispunha de mecanismos que assinalavam a passagem do Sol, a direção dos ventos e as horas. Por uma rampa em espiral chegava-se ao topo, onde à noite brilhava uma chama para guiar os navegantes. Compreende-se a avançada tecnologia: Alexandria tinha-se tornado naquela época um centro de ciências e artes para onde convergiam os maiores intelectuais da Antigüidade.

Cumpria-se assim a vontade de Alexandre, o Grande, que ao fundar a cidade, em 332 a.C., queria transformá-la em centro mundial do comércio, da cultura e do ensino. Os reis que o sucederam deram continuidade a sua obra. Sob o reinado de Ptolomeu I (323-285 a.C.), por exemplo, o matemático grego Euclides criou o primeiro sistema de geometria. Também ali o astrônomo Aristarco de Santos chegou à conclusão de que o Sol e não a Terra era o centro do Universo. Calcula-se que o farol tenha sido destruído entre os séculos XII e XIV. Mas não se sabe como nem por quê.

 

 

 

OS JARDINS SUSPENS DA BABILÔNIA

Seis montanhas artificiais

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A terceira maravilha são os Jardins Suspensos da Babilônia, construídos por volta de 600 a.C., às margens do rio Eufrates, na Mesopotâmia – no atual sul do Iraque. Os jardins, na verdade, eram seis montanhas artificiais feitas de tijolos de barro cozido, com terraços superpostos onde foram plantadas árvores e flores. Calcula-se que estivessem apoiados em colunas cuja altura variava de 25 a 100 metros. Para se chegar aos terraços subia-se por uma escada de mármore; entre as folhagens havia mesas e fontes. Os jardins ficavam próximos ao palácio do rei Nabucodonosor II, que os teria mandado construir em homenagem à mulher, Amitis, saudosa das montanhas do lugar onde nascera.

Capital do império caldeu, a Babilônia, sob Nabucodonosor, tornou-se a cidade mais rica do mundo antigo. Vivia do comércio e da navegação, buscando produtos na Arábia e na Índia e exportando lã, cevada e tecidos. Como não dispunham de pedras, os babilônios usavam em suas construções tijolos de barro cozido e azulejos esmaltados. No século V a.C., Heródoto dizia que a Babilônia “ultrapassava em esplendor qualquer cidade do mundo conhecido”. Mas em 539 a.C. o império caldeu foi conquistado pelos persas e dois séculos mais tarde passou a ser dominado por Alexandre, o Grande, tornando-se parte da civilização helenística. Depois da morte de Alexandre (323 a.C.), a Babilônia deixou de ser a capital do império. Começou assim sua decadência. Não se sabe quando os jardins foram destruídos; sobre as ruínas da Babilônia ergueu-se, hoje, a cidade de Al-Hillah, a 160 quilômetros de Bagdá, a capital do Iraque.

 

  

 

O TEMPLO DE ÁRTEMIS

200 anos de construção

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Em Éfeso, na Ásia Menor, ficava o templo da deusa Ártemis, a quarta maravilha. Sua construção começou na metade do século VI a.C. , por ordem do conquistador Creso, rei da Lídia — região montanhosa que hoje é o oeste da Turquia. Com 90 metros de altura — como a estátua da Liberdade, em Nova York — e 45 de largura, o templo era decorado com magníficas obras de arte. Protetora da cidade e deusa dos bosques e animais, Ártemis (Diana, para os romanos) foi esculpida em ébano, ouro, prata e pedra preta. Tinha as pernas e quadris cobertos por uma saia comprida decorada com relevos de animais. Da cintura para cima, três fileiras de seios se superpunham. Um ornamento em forma de pilar lhe adornava a cabeça.

Nesse período da história grega, chamado Arcaico (século VIII- século V a.C.), quando Éfeso, graças a seu porto, era uma das mais importantes cidades do Egeu e do Mediterrâneo, a escultura tinha alcançado seu ponto alto entre os gregos. Não é, pois, de estranhar que o templo de Ártemis tenha ficado famoso por suas esculturas e objetos de ouro e marfim — alguns dos quais se encontram no Museu Britânico, em Londres. Quando, no século I, o escritor romano Plínio, o Velho, afirmou que esse magnífico templo, com 127 colunas (36 decoradas) demorou duzentos anos para ser construído, não foi levado a sério. Mas, no século XIX, quando os arqueólogos conseguiram determinar o lugar onde foi erguido deu-se finalmente razão a Plínio. O templo foi incendiado no século III a.C. por um certo Heróstrato, que assim pretendia tornar-se imortal. Pelo visto, conseguiu. Reconstruído, destruído e ainda outra vez reconstruído, o templo foi finalmente arrasado em 262 pelos godos, povo germânico que durante o século III invadiu províncias romanas na Ásia Menor e na península balcânica.

 

 

 

A ESTÁTUA DE ZEUS

Marfim, ébano e pedrarias

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Na cidade grega de Olímpia, na planície do Peloponeso, estava a quinta maravilha: a estátua de Zeus, esculpida pelo célebre ateniense Fídias, no século V a.C., quando a cidade já caíra sob o domínio de Esparta. Essa é considerada sua obra-prima. Tanto os gregos amavam seus trabalhos que dizia-se que ele revelava aos homens a imagem dos deuses. Supõe-se que a construção da estátua tenha levado cerca de oito anos. Zeus (Júpiter, para os romanos) era o senhor do Olimpo, a morada das divindades. A estátua media de 12 a 15 metros de altura — o equivalente a um prédio de cinco andares — e era toda de marfim e ébano. Seus olhos eram pedras preciosas.

Fídias esculpiu Zeus sentado num trono. Na mão direita levava a estatueta de Nike, deusa da Vitória; na esquerda, uma esfera sob a qual se debruçava uma águia. Supõe-se que, como em representações de outros artistas, o Zeus de Fídias também mostrasse o cenho franzido. A lenda dizia que quando Zeus franzia a fronte o Olimpo todo tremia. Quando a estátua foi construída, a rivalidade entre Atenas e Esparta pela hegemonia no Mediterrâneo e na Grécia continental mergulhou os gregos numa sucessão de guerras. Os combates, no entanto, não prejudicaram as realizações culturais e artísticas da época. Ao contrário, o século V a.C. ficou conhecido como o século de ouro na história grega devido ao extraordinário florescimento da arquitetura, escultura e outras artes. A estátua de Zeus foi destruída nesse mesmo século V a.C.

 

 

 

O MAULÉU DE HALICARNAS

Pirâmide de 24 degraus

No século IV a.C. , Artemísia, mulher de Mausolo, rei da Cária, mandou construir um túmulo em homenagem ao marido: o Mausoléu de Halicarnasso, que viria a ser a sexta maravilha do mundo. Halicarnasso era a capital da Cária — região que englobava cidades gregas ao longo do mar Egeu e das montanhas do interior e hoje faz parte da Turquia. Durante o reinado de Mausolo (370-353 a.C.), a cidade conheceu grande progresso com a construção de edifícios públicos; extensa muralha devia protegê-la de ataques. O romano Plínio descreveu o mausoléu como um suntuoso monumento sustentado por 36 colunas. Com quase 50 metros de altura, ocupava uma área superior a 1200 metros quadrados. Acima da base quadrada, erguia-se uma pirâmide de 24 degraus que tinha no topo uma carruagem de mármore puxada por quatro cavalos.

Dentro ficavam as estátuas de Artemísia e Mausolo, além de trabalhos de Escopas, considerado um dos maiores escultores da Grécia do século IV. Algumas dessas esculturas, como uma estátua de 4,5 metros, provavelmente de Mausolo, encontram-se no Museu Britânico. O túmulo foi destruído, provavelmente por um terremoto, em algum momento entre os séculos XI e XV. As pedras que sobraram da destruição acabaram sendo aproveitadas na construção de edifícios locais. Ficou do nome do rei Mausolo a palavra mausoléu, usada para designar monumentos funerários.

 

 

 

O COLOS DE RODES

Um pé em cada margem

Uma embarcação que chegasse à ilha grega de Rodes, no Mediterrâneo, por volta de 280 a.C., passaria obrigatoriamente entre as pernas da enorme estátua de Apolo (Hélio, para os romanos), deus do Sol e protetor do lugar. É que o Colosso de Rodes, como foi chamada a sétima maravilha do mundo, tinha um pé fincado em cada margem do canal que dava acesso ao porto. Com 30 metros de altura, toda de bronze e oca, a estátua começou a ser esculpida em 292 a.C., pelo escultor Chares, de Lindus, uma das cidades da ilha, que a concluiu doze anos depois. Conta-se que o povo de Rodes mandou construir o monumento para comemorar a retirada das tropas do rei macedônio Demétrio Poliorcetes, que promovera longo cerco à ilha na tentativa de conquistá-la. Demétrio era filho do general Antígono, que após a morte de Alexandre, o Grande, herdou uma parte do império grego.

O material empregado na escultura foi obtido a partir da fundição dos armamentos que os macedônios ali abandonaram. A estátua ficou em pé por apenas 55 anos, quando um terremoto a jogou ao fundo da baía de Rodes onde ficou esquecida até a chegada dos árabes, no século VII. Estes, então, a quebraram e venderam como sucata. Para se ter uma idéia do volume do material, foram necessários novecentos camelos para transportá-lo. Essa, que foi considerada uma obra maravilhosa, teria no entanto levado Chares a suicidar-se, logo depois de tê-la terminado, desgostoso com o pouco reconhecimento público ao monumento. No ano passado, o assunto Colosso de Rodes voltou brevemente à tona: uma vidente australiana ganhou notoriedade ao assegurar que em determinado local da baía estava uma das mãos da estátua. Mas a pedra retirada do fundo do mar, conforme instruções da vidente, não tinha nada a ver com a escultura.

 

 

Para saber mais:

O último escriba dos faraós

(SUPER número 7, ano 6)

 

Alexandria no fundo do mar

(SUPER número 12, ano 9)

 

 

 

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