Softwares funcionam como caixinha de fazer música
Programas de computador que funcionam em micros comuns, do tipo PC ou Macintosh, convertem o som em partituras, oferecem recursos de edição de um estúdio e transformam em compositor até mesmo quem não sabe ler uma nota musical.
Rosa Sposito
É como escrever um texto ou fazer um desenho livre. Sem compromisso, as notas musicais vão formando canções, que podem ser ouvidas na hora, alteradas, receber um novo arranjo e até virar partitura. Tudo com simples cliques no mouse, ligado a um micro do tipo PC ou Macintosh. O melhor, porém, é que não é preciso conhecer nem as notas musicais para começar a compor no computador.
Com um recurso chamado piano roll, disponível em programas de composição como o Cakewalk, qualquer um pode brincar de compositor. Primeiro, escolhe-se o instrumento em que a música deverá ser executada. A tela do micro exibirá, então, um teclado ao lado de espaços, divididos em compassos. Usando o mouse, é só preencher os espaços, em frente à nota correspondente. Quem não sabe música pode “compor de ouvido”: à medida que o cursor percorre o teclado, aciona os sons correspondentes a cada nota (que são reproduzidos por um módulo de som ligado ao micro).
Os espaços determinam também a duração de cada nota. Assim, para obter as notas curtas, basta preencher só a metade ou um pedacinho do espaço; notas longas, o espaço todo. Como um processador de textos, o software permite copiar compassos (se a idéia for repeti-los), o que torna a composição ainda mais fácil e rápida. A qualquer momento, é possível ouvir o que foi feito: um clique no play (que também aparece na tela) aciona o módulo de som, que reproduz a seqüência toda.
Caso não tenha gostado do instrumento escolhido, o aprendiz de músico pode experimentar outros. Se o som do piano não combinou com a melodia composta, pode-se substituí-lo por um violino, aproveitando o que já foi feito. O resultado é uma música nova e, muitas vezes, uma agradável surpresa.
Se compor tradicionalmente uma música exige arte, muito mais complicado é fazer o arranjo, ou seja, adicionar outros instrumentos à base original. Para isso, o Cakewalk permite usar até 16 timbres (sons de instrumentos como saxofone e piano) diferentes ao mesmo tempo, como em uma grande orquestra. Conforme a música vai sendo composta, o software transforma a composição em partitura, que pode ser vista na tela do micro.
Para imprimi-la, entra em cena outro programa, como o Musicator, que até edita a partitura. Ele permite inserir o nome da música, do autor e até dos instrumentos usados. Com a partitura impressa, qualquer músico, ou até uma orquestra de verdade, poderá executar a composição feita por alguém que não sabe localizar no piano a nota dó.
Para fazer música no computador, não é preciso ter nenhum equipamento muito sofisticado. Um PC convencional ou um Macintosh servem perfeitamente. Todos dispõem de periféricos e programas que tornam possível a composição, edição e a criação de arranjos musicais. Se a opção for pela linha IBM-PC, um micro 386 DX, com 4 megabytes de memória e disco rígido de 80 MB, é suficiente para começar. Os adeptos do Macintosh, da Apple, podem usar o modelo LCIII, com a mesma capacidade de memória e de disco.
Tanto o PC como o Mac precisam de um periférico básico para esse tipo de aplicação: um módulo de som, como o SC-7, da Roland. Do tamanho de uma pequena caixa, ele tem armazenados 128 sons de instrumentos acústicos e eletrônicos (como piano, guitarra, clarinete e sax) e seis sets de bateria. É ele que transforma os sinais do computador em sons e reproduz as músicas.
A comunicação entre o módulo de som e o micro é feita por uma interface chamada MIDI (Musical Instrument Digital Interface), um padrão criado há alguns anos pela indústria de instrumentos eletrônicos. É ela que transforma as informações sobre cada nota tocada no teclado convencional (escala, intensidade, velocidade e duração) em sinais digitais que o micro reconhece, arquiva na memória ou no disco, transforma em partitura e manda para o módulo de som reproduzir.
O teclado controlador (ou qualquer instrumento que tenha interface MIDI) é outro acessório necessário para quem vai fazer música no computador. Assim, quem já está acostumado a usar um teclado para compor não precisa mudar sua rotina de trabalho. A grande vantagem é que a memória do micro garante o armazenamento das informações (altura e duração das notas) e elimina o trabalho de ter que anotar no papel o que está sendo feito. Além disso, a transformação dos sons emitidos pelo teclado em partitura é automática — o que resolve o problema de muitos músicos que não sabem escrever partituras.
O módulo de som SC-7 e alguns programas básicos de composição são vendidos pela Roland no pacote chamado Computer Music Starter Kit, com vários distribuidores no Brasil. Um deles é a Computer Music Sérgio Tastaldi, de São Paulo, que também oferece cursos personalizados ensinando a usar micros PC e os programas disponíveis no mercado para compor melodias. Algumas lojas especializadas em instrumentos musicais também estão começando a oferecer o kit da Roland, que funciona em PC e em Macintosh.
Como a variedade de software à venda no mercado é grande, o kit pode ser usado tanto por iniciantes nessa arte como por músicos profissionais, que querem um meio de facilitar o seu trabalho. Basta escolher o software adequado para cada caso e equipamento — vários deles têm versões para Macintosh e PC.
O Band-in-a-Box, por exemplo, é um software de composição indicado para pessoas com pequeno ou nenhum conhecimento musical. Ele contém arranjos e acordes semiprontos, que tornam o processo de criação musical mais fácil e rápido. Também permite que o compositor escolha o instrumento e o ritmo para sua música — são 24 estilos diferentes, do jazz à rumba. Feitas as opções, a tela exibe os espaços correspondentes aos compassos, e cada um de-les pode ser preenchido com até quatro acordes diferentes.
Quem não sabe ou não quer se arriscar a compor pode começar copiando de um songbook, ou livros com partituras. Usando o próprio teclado do micro, basta digitar as letras (ou cifras) que representam os acordes — A para lá, B para si, C para dó e assim por diante — nos compassos correspondentes, exatamente como na partitura original. Para ouvir a música, basta acionar a função play, com um clique no mouse. O programa se encarrega de tocar o acompanhamento, mais ou menos como fazem os teclados eletrônicos, mas com muito mais recursos. Dali sai o som de uma senhora banda, capaz de tocar dezesseis variações de acordes diferentes para cada tom.
Para músicos profissionais que pretendem usar micros no processo de composição, o Cakewalk Professional oferece recursos mais avançados. Com ele, é possível criar a música, digitando nota por nota, ou tocando um instrumento com interface MIDI — no mesmo instante, o micro grava as informações e escreve a partitura. Na tela, o compositor vê todos os instrumentos que executam a música, e em quais compassos eles atuam. Por meio de um gráfico, pode estabelecer o andamento da música e, como um maestro, ordenar à orquestra eletrônica que acelere ou “ralente” determinado trecho ou mesmo uma só nota.
O Macintosh tem alguns programas específicos. A NovaMente, uma empresa de Belo Horizonte que distribui os kits da Roland, oferece três produtos para iniciantes: o EZ Vision, que apenas permite compor no micro; o Musicshop, que incorpora piano roll, edita e também imprime partituras, e o Audioshop, para a gravação, edição e reprodução de sons digitais. Todos são produzidos pela Opcode americana e utilizam basicamente o mesmo processo de criação e edição dos programas para PCs. Outro software vendido pela NovaMente, exclusivamente para Macintosh, é o Studio Vision, da Opcode. Ele transforma o computador em estúdio de gravação, permitindo fazer até mixagem de voz e de som digital. Uma guitarra (ou qualquer outro instrumento padrão MIDI) tocada ao vivo pode ter seu som adicionado às seqüências feitas no micro, como em um karaokê.
A sofisticação dos programas para os profissionais da área de música hoje é cada vez maior. O Session 8, um dos produtos lançados recentemente no mercado brasileiro, permite até corrigir falhas de gravação, como a desafinação da voz de um cantor. Primeiro, o software converte em som digital os sinais analógicos da gravação, que pode estar contida em uma fita cassete comum.
Em seguida, a tela do computador exibe vários recursos, semelhantes aos de uma mesa de edição com oito canais para gravação e até 25 entradas diferentes. Os sinais sonoros são representados em forma de ondas de freqüência, o que permite detectar falhas de gravação que podem ser corrigidas com o mouse — basta “apagar” o erro. Produzido pela Digidesign americana, o programa é a versão para micros PC ou Macintosh de um sistema já utilizado por estúdios de cinema e de gravação dos Estados Unidos, e poderá ser usado agora por pequenos estúdios equipados com microcomputadores.
Para saber mais
Em busca da orquestra doméstica
(SUPER número 3, ano 7)
O abc do dó-ré-mi
(SUPER número 10, ano 8)