Denis Russo Burgierman, diretor de redação
Este mês, a reportagem de capa veio do meu umbigo. Ou melhor, não exatamente do umbigo: um pouco atrás dele, um pouco acima. Veio de um mal-estar que, há uns cinco anos, comecei a sentir na barriga.
Sou meio italiano, pizzaiolo dos bons, herdei de minha avó uma daquelas velhas máquinas de macarrão a manivela. Cresci à base de farinha de trigo, quase sempre lubrificada com cerveja. Aí, do nada, essas coisas começaram a me fazer cada vez mais mal. Eu me sentia estufado, pesado, indisposto, inchado. E comecei a ter alergias respiratórias que também pareciam estar ligadas à minha dieta. No começo, não dei bola. Mas aí o desconforto aumentou demais.
Comecei a peregrinar por médicos, mas nenhum deles parecia dar muita importância às minhas reclamações. Os exames diziam que não tinha nada errado comigo. Mas eu sentia, pô. Eu sabia que algo estava errado. Encontrei a resposta numa nutricionista: eu tinha intolerância a glúten e a lactose. Arrivederci, pizza. Tchau, cervejinha.
Faz mais ou menos um ano que fiz essa descoberta. De lá para cá, notei que cada vez mais gente aparece dizendo sentir a mesma coisa. Notei também que as prateleiras dos mercados de repente ficaram cheias de produtos que pareciam ser feitos para mim: leite, queijo e iogurte sem lactose, bolo, biscoito e macarrão sem glúten. E o mais incrível é que esse setor do mercado parece ser o que está mais cheio de gente. Tem algo grande e muito estranho acontecendo. E não é só no Brasil. Parece ser em todo o Ocidente industrializado. Inclusive na Itália dos meus antepassados amantes de trigo.
O tal glúten está na boca do povo, mas não está fácil entender a real. De um lado, a imprensa popular faz um escarcéu, sem no entanto explicar o tema a fundo. De outro, muitos médicos ficam na defensiva, insinuando que isso tudo não passa de modismo, sem fundamento científico. Mas eu sei muito bem que não é só modismo – eu sinto na barriga.
O tema é um vespeiro – e por isso julgamos que era hora da SUPER meter a colher, para separar o joio do trigo e dar respostas confiáveis às dúvidas que todo mundo tem. É isso que fazemos aqui: trabalhamos duro para tentar fazer verdades emergirem. Esta edição tem vários outros exemplos disso: um texto derruba os mitos populares sobre o crack, outro revê a forma como enxergamos os gatos, um infográfico (na próxima edição) revela o que está escondido embaixo dos véus islâmicos, outro devassa o comércio internacional de armas.
A SUPER é feita para você: para que você entenda melhor o mundo. Para fazer esse trabalho, às vezes nos inspiramos no que está acontecendo conosco. Mas nossa opinião não importa muito, não é para nós que escrevemos e editamos. O centro do mundo não é o nosso umbigo. É o seu interesse.