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Trânsito cão

Sílvia Campolim Você provavelmente já presenciou a cena: um motorista dá uma fechada em outro, ouve um insulto, revida e o desfecho, daí para a frente, é imprevisível. Com sorte, a rusga não vai além de um bate-boca. Mas não raro a coisa termina em socos e pontapés. Ou até, em um ou outro caso, […]

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Atualizado em 31 out 2016, 18h45 - Publicado em 31 jan 2001, 22h00
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  • Sílvia Campolim

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    Você provavelmente já presenciou a cena: um motorista dá uma fechada em outro, ouve um insulto, revida e o desfecho, daí para a frente, é imprevisível. Com sorte, a rusga não vai além de um bate-boca. Mas não raro a coisa termina em socos e pontapés. Ou até, em um ou outro caso, em um tiro que leva à morte um dos motoristas. Há uma preocupação crescente em investigar as causas desse teatro do absurdo urbano. Por que ele está se tornando mais comum. Nos Estados Unidos, as estatísticas são claras e chocantes. Segundo a Associação Automobilística Americana, o número de incidentes em que uma pessoa tenta matar ou ferir outra por causa do trânsito cresceu 50% entre 1990 e 1996. Todo ano, 1 500 americanos morrem por esse motivo.

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    A situação na Europa é um pouco menos tensa. Em uma enquete recente da Associação Britânica do Automóvel, só 1% dos motoristas disse ter se envolvido em agressões físicas. Mas 90% afirmaram ter perdido a cabeça pelo menos uma vez no decorrer daquele ano.

    No Brasil, não há estatísticas, mas a violência sobre rodas também está em alta, afirma o psicólogo do trânsito Antônio Fajardo Amaral, da Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro. “A tensão social crescente tende a explodir em engarrafamentos cada vez maiores e mais comuns.” Com isso, diz Antônio, os conflitos no trânsito devem estar contribuindo significativamente para os 750 000 acidentes registrados no país, em 1999, com 250 000 mortes.

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    Diversas pesquisas no mundo inteiro buscam diagnosticar corretamente o problema para tentar evitá-lo. Para alguns, a questão é biológica. Motoristas de pavio curto, afirma o neurocientista americano Emil Cocarro, da Universidade de Chicago, têm carência de serotonina, um neurotransmissor que, numa situação tensa, retarda a reação dos brigões e lhes dá tempo de refletir. Na falta do moderador cerebral, as respostas tendem a ser intempestivas, para não dizer selvagens.

    Mas a maior parte dos especialistas postula que a agressividade tem raízes sócio-psicológicas. Uma explicação comum é a de que, isolado dentro do carro, o cidadão perde as referências usuais da sociabilidade. É razoável: face a face, pode-se perceber pela expressão do rosto se alguém agiu sem querer e perdoar. Mas o motorista nem sempre vê o rosto do vizinho, o que prejudica a negociação facial e gestual. A sensação de força e de impunidade conferida pelo carro também favorece a hostilidade.

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    Traços culturais agravam esse quadro, segundo o psicólogo americano Leon James, da Universidade do Havaí. É o que acontece nos Estados Unidos onde a sociedade é muito competitiva. “Se um carro corta a nossa trajetória, vemos isso como uma derrota”, escreve Leon em seu livro Road Rage and Aggressive Driving (Fúria no trânsito e direção agressiva), recém-lançado em Nova York.

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    Leon atribui parte do problema a deficiências crescentes de infra-estrutura. A extensão das vias públicas nos Estados Unidos, por exemplo, cresceu apenas 1% de 1987 para cá, mas a extensão total de quilômetros rodados ficou 35% maior. Estima-se que o tamanho dos congestionamentos na hora do rush em São Paulo dobrou de tamanho nos anos 90 e já supera a marca de 100 quilômetros, na média diária. Haja calma para segurar essa barra.

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    A revista americana Oldie recentemente relatou uma briga de socos entre condutores de carruagem na Nova York de 1817 para mostrar que a fúria no trânsito não é novidade. De fato: o que há de novo são as condições urbanas deterioradas, que ampliam as situações de estresse e contribuem para a incivilidade.

    fdieguez@abril.com.br

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    Acredita-se que os carros favorecem reações agressivas porque, dentro deles, os motoristas não percebem sinais de contemporização ou de arrependimento que poderiam reduzir a hostilidade

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    Na Inglaterra, 62% da agressividade no trânsito toma a forma de perseguições insanas de um carro por outro na pista. Os motoristas fazem gestos obscenos em 48% dos casos e, em 21%, tentam fechar o vizinho. Só em 1% dos casos chegam ao confronto físico

    Facas e revólveres

    Nos Estados Unidos, entre os motoristas envolvidos em briga na década de 90, 37% ameaçaram seus desafetos com armas de fogo; 28% com facas ou barras de metal; 35% jogaram o próprio carro sobre outros motoristas

    Ego sob controle

    O neurotransmissor serotonina tende a inibir a raiva decorrente de uma situação tensa. Isso dá tempo ao cidadão de refletir. Motoristas agressivos podem ser indivíduos com baixa produção de serotonina, afirmam alguns cientistas

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