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1963 – Começa a revolução

O Big Bang dos Fab Four.

Por Alexandre Carvalho
Atualizado em 15 jun 2020, 11h32 - Publicado em 13 ago 2019, 17h23

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Uma introdução de gaita – instrumento que John Lennon roubou em uma loja na Holanda – é o primeiro som que a Inglaterra ouviu de um quarteto de proletários de Liverpool que conquistaria o mundo. “Love Me Do” foi o lado A do primeiro single da banda, lançado em outubro de 1962 – e também faria parte do seu álbum de estreia, no ano seguinte. Single, na época, era aquele disquinho com uma música de cada lado, que no Brasil ficou conhecido como “compacto”. Entre os anos 1950 e início dos 1960, toda banda de rock sonhava em ter uma música desses singles nas paradas de sucesso. E bastaram dois dias para que “Love Me Do” chegasse lá. A canção, de letra simples e o charme blues da gaita de John, subiu até o 17º lugar entre as mais pedidas. Mas por pouco não perdeu esse lugar na história da música.

O produtor George Martin não botava fé no potencial comercial da obra – escrita por Paul McCartney quando tinha 16 anos. Então sugeriu à banda que gravasse “How Do You Do It?”, de Mitch Murray, um compositor hitmaker. Só que os Beatles já tinham repertório próprio, e ficaram decepcionados em não ter uma canção escrita de próprio punho como primeiro single. Essa decepção ficou clara na falta de entusiasmo dos quatro na gravação da cover, e o produtor acabou cedendo. Porém, profissional já experiente no business musical, Martin fez exigências para que “Love Me Do” fosse registrada em vinil. Uma delas foi passar para Paul um trecho em que John cantava sozinho. Nada contra a voz de Lennon, mas essa parte encavalava o vocal com a gaita – que era tocada justamente por John. Ok, sem drama. A outra determinação é que foi mais radical, e mudaria a história dos Beatles: uma troca de baterista. Ou melhor, duas.

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Pete Best, o 1º dos 3 bateristas de “Love Me Do” (Michael Ochs Archives/Getty Images)

Pete Best foi o primeiro batera do grupo. Mas tecnicamente não era lá essas coisas. Ao ouvi-lo na ocasião em que a banda gravou “Love Me Do” ainda como teste, no estúdio da Abbey Road, em Londres, Martin não demorou para concluir: o sobrenome “Best” (“melhor”) era propaganda enganosa. Se os Beatles queriam chegar a algum lugar, precisavam de outro baterista. Então, sem muita diplomacia, Pete foi demitido, chamaram Ringo Starr para o seu posto, e o resto é história… Ops, ainda não. George Martin também não gostou da sessão com o mais simpático dos Beatles, e colocou um músico de estúdio, Andy White, para assumir as baquetas – Ringo ficou tocando pandeiro nessa gravação. Com isso, o estúdio ficou com registros de “Love Me Do” com três bateristas diferentes. A versão que saiu no primeiro álbum dos Beatles é um bicho estranho na discografia do grupo: a interpretação com White. Mas a coletânea Past Masters, lançada nos anos 1980, corrige a ordem das coisas e traz a sessão com o Beatle titular na bateria. Para diferenciar as duas, é facinho: a com Ringo não tem som de pandeiro.

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A 1ª canção dos Beatles você nunca esquece. (Mirrorpix/Getty Images)

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“One, two, three, four!”. O grito de McCartney que abre o álbum Please Please Me ajudou a criar uma impressão que permeia o disco: a de que seria o registro de uma apresentação ao vivo. Um show começando a 120 por hora. George Martin gostava de iniciar os álbuns com rocks acelerados, e “I Saw Her Standing There” era perfeita para isso. Sua história de paixão à primeira vista num salão de baile é contada à maneira dos anos 1950, em ritmo rápido e com a linha de baixo de “I’m Talking about You”, de Chuck Berry. Paul faz a voz principal e John o acompanha nos coros e na segunda parte, ajudados por palmas. Quem conheceu os Beatles com esse LP teve de cara um estrondo no coração – como o rapaz da letra.

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Ringo Starr já cantava essa cover do grupo vocal feminino The Shirelles antes de se juntar a John, Paul e George – com sua banda anterior, Rory Storm and the Hurricanes, que chegou a ser a banda mais popular de Liverpool. Sua interpretação com os Beatles é mais rock que a versão das americanas, cujo estilo lembra as músicas de Ray Charles. E ficou tão boa que, mesmo cantada pelo baterista, estava entre as mais pedidas nos shows do grupo entre 1963 e 1964.

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“O mundo está me tratando mal. Desgraça.” A letra de John é um modelo do contraponto entre suas composições e as de Paul. Enquanto as de McCartney tendem ao otimismo e à felicidade no amor, as de Lennon revelam conflito e desamparo. “Misery” foi composta para Helen Shapiro, então uma estrela de 16 anos. Mas o agente dela não aprovou a canção, que acabou gravada pelo cantor Kenny Lynch – o primeiro artista a fazer cover dos Beatles.

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Cheguei ao topo… e agora? (Ron Bell - PA Images/Getty Images)

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Após Ringo fazer as quatro viradas de bateria que concluem a canção – uma composição de Lennon inspirada em Roy Orbinson –, George Martin foi até o microfone da sala de controle do estúdio: “acabaram de produzir o seu primeiro número um”. Uma previsão que se confirmaria. “Please Please Me” alcançou o topo das listas da Melody Maker e da NME – o que mudaria a história da música pop. No Cavern Club, porém, as fãs choravam. Percebiam a mudança de status que vinha no pacote de um single campeão. Os Beatles partiriam para conquistar o mundo – distantes daquela casa noturna.

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É uma tentativa de Lennon recriar o estilo dos Miracles, banda negra dos EUA, mas em composição própria. A introdução de guitarra nem disfarça: é bem parecida com a de “What’s So Good about Goodbye”, dos americanos. Foi coadjuvante de luxo, com um lado B, no single que deu fama nacional aos Beatles: “Please Please Me”.

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Lado B no single de “Love Me Do”, acabou como a outra canção de “Please Please Me” em que a bateria é feita pelo profissional de estúdio Andy White – Ringo ficou tocando maracas. Feita na época em que os Beatles tocavam em espeluncas na Alemanha, cogitou-se que a inspiração de McCartney fosse uma namorada de Liverpool. Ele nega.

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Quando John era bebê, sua mãe costumava cantar um dos temas de Branca de Neve e os Sete Anões, “I’m Wishing”, que começa com os seguintes versos: “Want to hear a secret?/ Promise not to tell?”. Essa foi a inspiração do Beatle para uma rara composição de amor feliz – feita quando ele tinha acabado de se casar com Cynthia, grávida na época, e os dois moravam num apartamento do empresário Brian Epstein – que tentou dissuadir Lennon da ideia do casamento, que não combinaria com sua imagem de popstar. John escreveu a música para a própria voz, mas acabou deixando que George a cantasse. Pós-Beatles, numa época em que falava mal dos ex-companheiros, explicou que a cedeu justamente porque era uma canção básica: “tinha apenas três notas, e ele [Harrison] não era o melhor cantor do mundo”.

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Essa tentativa de recriar o som da Motown, gravadora especializada em artistas negros, conta com letra de Lennon mais profunda para a época, indo além do “obrigado, garota, por me amar” ou “eu quero pegar na sua mão”. John canta que há um lugar no qual o sofrimento não o atinge: dentro da própria mente. Um vislumbre do letrista poético que se revelaria mais tarde. “There’s a Place” tem também importância histórica: foi a primeira gravada quando os Beatles entraram em estúdio para fazer Please Please Me.

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Os versos principais são cantados por John, Paul e George de maneira tão harmônica que é impossível distingui-las de uma voz única, triplicada. Mas há trechos em que Harrison canta sozinho, vocal rouco e seco, ideal para a inclinação blues da canção, que conta com a gaita de Lennon. “Chains” é outra cover de artistas negros americanos – no caso, The Cookies –, uma obsessão dos Beatles.

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Mais uma cover das Shirelles, esta feita para o quarteto de moças por Burt Bacharach, compositor que ganhou três Oscars. Aliás, das 14 faixas de Please Please Me, seis são covers. E todas de artistas negros dos EUA. Metade delas de grupos vocais femininos, que Paul e John adoravam. Mas suas regravações, por extraordinárias que fossem, sempre soavam mais “brancas” que as originais – afinal, o que esperar de quatro caipiras ingleses? A letra combina com os temas cantados por Lennon na época, de alguém sofrendo por amor.
O personagem diz que soube pelos amigos que foi traído pela namorada, mas que continua louco por ela assim mesmo. Música de corno – mas com o padrão Beatle de excelência.

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A rainha saúda os reis do Iê-Iê-Iê. (Mirrorpix/Getty Images)

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Esta cover não se parece com o primeiro registro da música, um roquinho básico do The Top Notes. A base foi a gravação rhythm and blues dos Isley Brothers, mas com um riff de guitarra chupado de “La Bamba”, de Ritchie Valens. E ainda assim “Twist and Shout” virou marca dos Beatles. Mérito da interpretação rascante de Lennon, que acabou sem voz após a gravação. “Eu não conseguia cantar a maldita canção, eu só berrei.” Também foi a música que, num show especial para a rainha da Inglaterra, teve a seguinte introdução de John: “As pessoas nos lugares mais baratos devem bater palmas. O resto de vocês sacode as joias”.

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Das seis covers de “Please Please Me”, esta faixa de inspiração jazzística é a única cantada por Paul. A canção nasceu apenas instrumental, para um espetáculo da Broadway. Embora a versão em que os Beatles se baseiam, já com versos, tenha sido a do cantor Lenny Welch, a primeira regravação cantada é de 1961, de um disco de jazz de Billy Dee Williams. Sim, exatamente o ator/cantor que faz o papel de Lando Calrissian, o amigo de Han Solo em Star Wars.

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Arthur Alexander, o cantor de soul que compôs “Anna”, era um dos heróis musicais de Lennon. E não só dele – foi regravado por gente como Dylan, Stones e Elvis. Mas repare no padrão de bateria na execução dos Beatles. É o mesmo que Ringo repetiria em canções de outras fases, como “In My Life” e “Ticket to Ride”. Agradeça a Alexander – a batida é uma cópia fiel da que está na versão original.

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Invasão britânica em Nova York. (Michael Ochs Archives/Getty Images)

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Esta canção foi a primeira da banda a se beneficiar da gravação em quatro canais: baixo e bateria em um, as guitarras em outro, os vocais num terceiro, e um quarto trazendo palmas em tempo duplo. Mas sua maior importância é comercial – e cultural. “I Want to Hold Your Hand” rompeu com o descrédito da Capitol Records, a subsidiária da EMI nos EUA, que se recusava a apostar nos ingleses. Uma prensagem inicial de 5 mil cópias do single foi aumentada para 40 mil, e a música se tornou a primeira da banda a alcançar o topo das paradas americanas. Com isso, os Beatles enfim atravessaram o Atlântico – para pousar direto no Ed Sullivan Show. Nascia a Beatlemania.

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Influenciada pela interpretação folk de Joan Baez para “All My Trials”, esta canção foi composta pouco antes de “She Loves You” – e virou lado B do single de sucesso com essa música. Embora feita em parceria com McCartney, tem mais a mão de Lennon na gestação. Repare na semelhança dos primeiros versos (“Imagine I’m in love with you / It’s easy ‘cos I know”) com um trecho de “Imagine”, a obra mais popular de toda a carreira solo de John: “Imagine there’s no heaven / It’s easy if you try”.

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Enquanto outras bandas preenchiam lados B de singles com canções modestas, os Beatles encaixavam pérolas – como esta harmonia em três vozes, coadjuvante de “I Want to Hold Your Hand”. “Eu achava que não escrevia melodias, que Paul fazia essa parte e eu só compunha rock’n’roll”, avaliaria Lennon. “Mas, quando penso em ‘This Boy’, era melodia o que eu estava produzindo.”

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O segundo número um consecutivo dos Beatles na Inglaterra foi uma música que John e Paul compuseram no ônibus da turnê – como não paravam de fazer shows, eles escreviam onde desse, incluindo quartos de hotel. A inspiração foi uma coluna da revista New Musical Express, “From You to Us”. Já no estúdio, o arranjo final ganhou uma colaboração importante de George Martin, que pediu que Lennon e McCartney incluíssem vocalizações na introdução: “da-da-da, da-da-dun-dun-da”.

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Em entrevista para um biógrafo dos Beatles, Paul explicou que a canção nasceu de uma tentativa de se comunicar com as fãs do grupo. “Sabíamos que, se escrevêssemos uma música chamada ‘Thank You Girl’, as garotas que nos mandavam cartas a entenderiam como um agradecimento genuíno.”

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Os Beatles ficaram conhecidos no Brasil como “os reis do iê-iê-iê” por causa do “yeah, yeah, yeah” com que o personagem desta canção garante que uma tal garota ama o seu amigo. É uma música de reconciliação, e também um pequeno avanço nos temas de amor da banda. Até ela, as canções se concentravam em “eu” e “você”. Colocar o foco numa terceira pessoa era novidade. Como era diferente a música começar direto no refrão. “She Loves You” não apenas virou número um das paradas como se tornou o single mais vendido da década.

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Yeah, yeah, yeah. (Michael Webb/Getty Images)

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A faixa de abertura de With the Beatles mantém a estratégia de George Martin: começar os álbuns com um rock acelerado. E deve muito de sua força ao jogo de palavras “It won’t be long… ‘till I belong to you” – uma repetição de fonemas (be long de “demora” e belong de “pertencer”) – e ao vocal de resposta nos “yeahs” de cada refrão. Como em outras canções compostas principalmente por Lennon, a letra é de lamento e de constatação da própria solidão. “Every night when everybody has fun / Here am I sitting all on my own” (“Toda noite, enquanto todo mundo se diverte / Aqui estou eu sentado sozinho”). Amargura incompreensível para quem só visse a rotina festiva de rockstar do Beatle.

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Diferente da mitologia de rivalidade criada em torno deles, os Rolling Stones eram amigos dos Beatles. E contaram com a ajuda do quarteto de Liverpool em um momento crucial da carreira: o primeiro sucesso dos Stones foi com esta composição, que ganharam de presente de Lennon e MacCartney – depois da recepção morna de seu primeiro single, “Come on”, uma regravação de Chuck Berry. John e Paul apareceram no local em que Mick Jagger, Keith Richards e Brian Jones estavam ensaiando e ofereceram a canção – que estavam preparando para Ringo cantar. Como ainda não estava concluída, os Beatles terminaram a música ali mesmo, na frente dos amigos – que ficaram pasmos com aquela facilidade de compor à velocidade da luz. Mas Ringo ainda teve sua chance de gravá-la no segundo algum do grupo.

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Se alguém por acaso começar a ouvir “Little Child” a partir de seus 55 segundos, pode achar que está diante do disco de uma banda de blues. O solo de gaita de Lennon leva a música a um outro patamar – inserindo um novo elemento numa execução que poderia ser apenas uma composição menor de John. McCartney depois afirmaria que parte da melodia havia sido “emprestada” de “Whistle My Love”, do filme Robin Hood, O Justiceiro (1952), dos estúdios Disney.

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Um belo dia os Beatles entraram na loja de discos de Brian Epstein e começaram a colocar um ou outro para tocar ali mesmo. Assim, descobriram “Devil in Her Heart” e decidiram incorporá-la ao próprio repertório, com George no vocal. No caso, “descobriram” é o termo exato. A canção obscura nunca fez sucesso com The Donays, grupo feminino americano que gravou um único single – esse mesmo.

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Foi em pleno estúdio que Paul, George e Ringo ouviram a canção pela primeira vez. John apresentou sua composição, inspirada nos Miracles, e os outros Beatles tiveram de aprendê-la na hora. Ficou tão boa que acabou escolhida para segunda faixa do álbum. Mas os 14 takes consistiram na única vez em que o grupo tocou a música. Uma pena: ela merecia mais.

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Acostumado a escrever sobre Wagner e Mozart para o conservador The Times, o erudito William Mann surpreendeu quando disse que Lennon e McCartney eram “os compositores mais extraordinários de 1963”. Afirmou ainda que as mudanças de escala nesta canção eram “tão naturais quanto a cadência eólica no final”. Lennon riu. Respondeu que “cadência eólica” devia ser nome de passarinho.

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“Don’t Bother Me” é a primeira canção com a assinatura de Harrison num álbum da banda. Criador de obras sofisticadas como “Something” e, na fase solo, “My Sweet Lord”, George não demonstrava interesse em composição nos primeiros anos dos Beatles: seu foco era a guitarra. Mas aprendeu com os melhores, e em sua primeira tentativa não inventou muito: seguiu o padrão da maioria das canções de Lennon-McCartney, com versos/versos/ponte/versos.

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Nasce um compositor. (Fox Photos/Getty Images)

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Esta cover de uma canção do musical The Music Man pode parecer coadjuvante na história do grupo. Pelo contrário. Sem ela, não estaríamos falando de Beatles. Quando Brian Epstein apresentou o repertório da banda para George Martin, de olho num contrato com a EMI, o produtor não se mostrou interessado. Só mudou de ideia quando ouviu “Till There Was You”, ficando com boa impressão da guitarra de Harrison e do vocal de Paul. Daria uma chance aos meninos.

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A ideia era colocar a canção, inspirada nas Shirelles, ainda no primeiro álbum dos Beatles. Mas ficou de fora, a gravação se perdeu e o grupo teve de regravá-la para seu segundo disco. Chama a atenção pelo contexto sexual bem evidente – algo fora do bom-mocismo da banda. McCartney canta que a garota deve deixar que ele a ame “nesta noite”, “making love to only you”. Ah, safadinho…

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Uma introdução arrebatadora numa das melhores covers dos Beatles: um toque de chimbau na bateria é seguido pelo alerta de Paul e George, “Wait” (“espere”), para que John sole no vocal acompanhado só de bateria e coro, implorando para que o carteiro espere mais um minuto. A versão original é das Marvelettes, outro grupo vocal feminino dos EUA.

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Um dos rocks mais gravados, este petardo de Chuck Berry também teve cover dos Beatles. Pioneiro do gênero, o americano era tão amado pelos ingleses que Lennon definiu: “se você der outro nome ao rock’n’roll, pode chamá-lo de Chuck Berry”. Em 1972, John fez uma jam session com o ídolo na TV (tem no YouTube). Mas quem canta no álbum é George.

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Esta música tem história. Foi o primeiro hit da gravadora Motown, em 1960, na voz do cantor Barrett Strong, e faz parte do Hall da Fama entre “as canções que moldaram o rock’n’roll”. Mas talvez tenha sido o tema dela que tivesse fisgado Lennon. Para uma edição da revista New Musical Express, de 1963, ele disse que sua ambição profissional era “ser rico e famoso”. Na regravação dos Beatles, um quinto elemento: o piano é tocado pelo produtor George Martin.

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“Close your eyes and I’ll kiss you” (Val Wilmer/Getty Images)

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Quem teve o privilégio de assistir a um dos shows do já velhinho Paul McCartney no Brasil é testemunha: “All My Loving” continua entre as preferidas do público, levando às lágrimas gerações de fãs. Segundo o artista, essa foi a primeira composição em que primeiro criou a letra inteira, para depois inventar a música – que inicialmente foi pensada para ser um country. A musa foi a namorada Jane Asher – inspiração de um punhado de canções de Paul. Destaque para as paradas repentinas no meio da música e para o solo de guitarra ao estilo de Carl Perkins de George Harrison.

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“This Boy”, “All I’ve Got to Do”, “Not a Second Time”… Todas essas canções com assinatura Lennon-McCartney têm um ponto em comum: influência confessa do americano Smokey Robinson e seu grupo The Miracles. Entre os sons que forjaram o estilo dos Beatles em sua primeira fase –Roy Orbinson, Buddy Holly e grupos vocais femininos inclusos –, Robinson esteve no topo do Everest. Principalmente para Lennon. Uma década depois da separação dos Beatles, quando John gravava o vocal de “Woman”, Yoko comentou que o marido parecia cantar como um Beatle de novo. Ao que Lennon respondeu: “Na verdade, estou tentando ser Smokey Robinson agora, querida”. Em With the Beatles, é George quem acompanha o vocal de Lennon, que do começo ao fim deixa explícito: era apaixonado pelo que estava cantando.

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