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5 HQs para conhecer Frank Miller – e como foi conversar com a lenda

O autor de "Cavaleiro das Trevas" e "300" esteve no Brasil – e falou sobre o novo quadrinho do Batman, feito com o brasileiro Rafael Grampá.

Por Rafael Battaglia
Atualizado em 27 out 2020, 15h05 - Publicado em 21 dez 2019, 20h23

Frank Miller estava uma hora atrasado para a coletiva de imprensa. Mas tudo bem. Aos 62 anos, e tendo publicado uma dúzia de HQs que entraram para a história, a gente dá um desconto.

O autor de O Cavaleiro das TrevasSin City veio ao Brasil na última semana para a CCXP, festival de cultura pop que aconteceu em São Paulo. Foi a terceira edição em que Miller esteve presente. Neste ano, sua participação se deu por dois motivos especiais: a comemoração dos 80 anos do Batman e o lançamento de The Dark Knight Returns: The Golden Child, nova história do Homem Morcego escrita por ele.

Golden Child é o novo volume da série iniciada com Cavaleiro das Trevas, que foi lançada em 1986. A graphic novel, que mostrava um Batman mais velho, voltando à ativa depois da aposentadoria, é um marco nos quadrinhos. Assim como Allan Moore, que nos anos 1980 criou Watchmen, Miller mostrou que gibis não são apenas leitura para crianças, mas sim um espaço para histórias tão complexas e profundas como qualquer romance.

O enredo de Golden Child gira em torno de uma nova geração de super-heróis, como Jonathan e Lara Kent, os filhos do Superman com a Mulher-Maravilha, e de Carrie Kelly, a Robin deste arco de histórias do Batman. O novo capítulo, assim o restante da saga, também toca, em tom satírico, em questões políticas. Em novembro, a DC Comics apagou uma postagem de divulgação da HQ, que o público associou com os recentes protestos de Hong Kong.

Miller entrou na sala de imprensa acompanhado de um tradutor e do quadrinista brasileiro Rafael Grampá. O ilustrador, apontado como um dos grandes quadrinistas nacionais, é a parceria de Miller nesta nova história, e dá vida (e cores) para o roteiro do autor. “É completamente surreal trabalhar com ele”, confessou Grampá. “Foi uma ilustração do Batman, feita por Miller, que me fez querer ser quadrinista.” Frank retribuiu com um elogio: “Na arte, o que busco em qualquer contribuição é ter uma voz única, e olhos que enxergam o que poucos veem. O Rafael tem esse olhar.”

A ansiedade dos jornalistas da plateia era nítida. Alguns apoiavam no colo graphic novels escritas por Miller, na esperança de conseguir um autógrafo. Outros trajavam roupas com estampas do Batman, e até deixavam à mostra tatuagens do herói de Gotham. 

Quando todos olharam o senhor de chapéu e barba branca se sentar, dava para perceber que estava difícil para muitos separar o lado fã do lado profissional. Daí, não teve outra: quase todas as perguntas começavam, primeiro, com algum tipo de agradecimento ou reverência. Miller respondeu a todos com simpatia  algumas, em seu característico tom sarcástico.

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Primeiros passos

Em determinado momento, Frank relembrou o dia em que decidiu que iria trabalhar com quadrinhos. “Eu tinha por volta de cinco anos, e meu pai, que era caixeiro-viajante, vira e mexe voltava de Nova York com alguns gibis”. Não havia HQs na cidadezinha que Frank morava, e o jeito era se contentar com as coletâneas de tiras de jornal que seu pai trazia.

“Uma vez, ele me trouxe uma edição com 80 páginas, diferente de tudo que eu já havia lido”, disse. Miller se recorda que a história, ao contrário das que costumava ler, tinha uma atmosfera de perigo e maturidade. De repente, quando os personagens o gibi estavam prestes a morrer, surge um homem fantasiado de morcego no topo de um prédio: era o Batman. “Isso ficou marcado na minha memória até hoje.”

No final da coletiva, Frank arrumou o seu chapéu e agradeceu a presença do grupo de jornalistas, que o aplaudia. Uns poucos tentaram um autógrafo ou uma palavrinha a mais com ele, mas Miller saiu rápido, a caminho de um auditório lotado para recebê-lo.

Para começar a ler Frank Miller

Miller começou a trabalhar nos anos 1970 e, desde então, escreveu uma porção de graphic novels consagradas. Se você conhece apenas a mais famosa delas, O Cavaleiro das Trevas, a SUPER separou outros cinco trabalhos do artista:

Fase Demolidor 

Ano de publicação: a partir de 1979

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(Panini Comics/Divulgação)

“O Demolidor foi o meu primeiro trabalho regular em quadrinhos”, disse Miller. O autor criou histórias memoráveis do herói da Marvel, que havia sido criado quinze anos antes, em 1964, mas cuja popularidade andava em baixa. Ele definiu um tom para o herói (que foi seguido por diversos outros quadrinistas, criou a personagem Elektra e roteirizou arcos marcantes, como A Queda de Murdock. A sugestão é procurar pelos volumes com coletâneas de histórias do Demolidor desse período, quando Miller trabalhou ao lado do artista Klaus Janson.

Eu, Wolverine

Ano de publicação: 1982

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(Marvel Comics/Divulgação)
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Miller é o desenhista da primeira história solo do Wolverine, que foi escrita por Chris Claremont, conhecido pelo seu trabalho com os X-Men. 

Eu, Wolverine foi importante para definir a complexa personalidade do herói. A história acompanha o personagem em uma viagem até o Japão, onde Logan se apaixona por Mariko, mas precisa enfrentar Shingen, o pai dela, e mais uma legião de ninjas que querem matá-lo. Isso soa familiar? É o quadrinho que inspirou o filme Wolverine: Imortal, de 2013.

Ronin

Ano de publicação: 1983/1984

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(Panini Comics/Divulgação)
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Influenciado pelo traço e narrativa dos mangás, Miller continuou sua incursão na cultura nipônica nesta história. A trama envolve um ronin (samurai sem mestre) que, ao morrer na época do Japão feudal, reencarna como um deficiente físico em uma versão alternativa de Nova York – e precisa enfrentar o demônio Agat.

Batman: Ano Um

Ano de publicação: 1987

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(Panini Comics/Divulgação)

Depois do sucesso de O Cavaleiro das Trevas, Frank Miller ganhou autonomia da DC Comics para escrever outras histórias do Homem-Morcego. O autor, então, resolveu abordar a outra ponta da biografia do herói: seu primeiro ano de combate ao crime.

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Enquanto Cavaleiros das Trevas mostra um Batman mais velho, experiente e pessimista, Ano Um é uma interessante história de origem. Ela mostra o treinamento do jovem Bruce Wayne, bem como seus acertos (e, sobretudo, erros) nas primeiras patrulhas por Gotham City.

300

Ano de publicação: 1998

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(Editora Devir/Divulgação)

O longa 300, lançado em 2006 e dirigido por Zack Snyder, é recheado de elementos marcantes: o visual dos personagens, o exótico Rei Xerxes, a frase “This is Sparta”…Tudo isso veio deste trabalho de Frank Miller, que criou sua própria versão da Batalha das Termópilas, confronto entre gregos e persas que aconteceu em 480 a.C..

 

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