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A força da telinha

A televisão influencia o comportamento, a moda e as idéias.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h45 - Publicado em 30 nov 1999, 22h00

Maria Fernanda Vomero

Cerca de 130 milhões de telespectadores, com olho pregado em 53 milhões de televisores, espalhados por todos os municípios brasileiros com exceção de quinze, aonde os sinais ainda não chegam. Esses números revelam o alcance gigantesco da TV no Brasil. E também a sua enorme influência. “O impacto social da televisão é amplificado pela sua capacidade de diluir a fronteira entre a ficção e a realidade”, analisa o jornalista Gabriel Priolli, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. “Desde que surgiu, ela vem transformando o estilo de vida dos telespectadores.”

As novelas ocupam o primeiro lugar entre os programas de maior audiência desde que foi ao ar a primeira delas, 2-5499 Ocupado, em 1963, pela TV Excelsior. “As novelas lançam moda, criam hábitos e pautam os meios de comunicação, trazendo para o debate nacional temas polêmicos como o homossexualismo e o preconceito racial”, diz a socióloga Maria de Lourdes Motter, do Núcleo de Pesquisas em Telenovelas da Universidade de São Paulo. Não é raro encontrar crianças com o nome de um personagem ou mulheres que imitam o corte de cabelo de uma determinada atriz. Esse fenômeno acompanha a trajetória das novelas brasileiras. Em 1965, num episódio famoso, uma menina de 5 anos, fã do ator Hélio Souto, impôs aos pais o nome do personagem do galã na novela, Rui, para o irmão que iria nascer. Exigiu também que Souto fosse o padrinho da criança. O desejo não foi atendido e a menina ficou doente. A solução, depois da avaliação médica, foi chamar o ator e marcar uma nova cerimônia de batismo para o bebê.

Números sagrados

Nenhuma informação é aguardada com tanta ansiedade nas emissoras de TV quanto os relatórios do Ibope, o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística. Ele avalia quantos telespectadores estão assistindo à programação em cada momento. Quando essa aferição começou a ser feita, na década de 50, as informações eram coletadas por pesquisadores que iam de casa em casa. Hoje, eles estão sendo substituídos por aparelhos acoplados aos televisores, os peoplemeters. Por meio de computadores, o Ibope fornece a seus clientes os números da audiência no mesmo instante em que a programação vai ao ar, minuto a minuto. Muitas vezes, as emissoras usam esses dados para mudar suas atrações de acordo com as flutuações na preferência do público.Entrevista

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“O indivíduo fica indefeso diante da TV”

O sociólogo Álvaro Gullo, professor de Sociologia da Comunicação de Massa na Universidade de São Paulo, falou à SUPER sobre como a TV pode contribuir para a alienação ou para a reflexão dos telespectadores.

SUPER: A televisão reflete fielmente a realidade?

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ÁLVARO GULLO: Com raras exceções, a televisão brasileira apresenta os acontecimentos por meio de clichês que levam à aceitação ou à rejeição de opiniões não pela lógica ou pela concordância consciente, mas pela afinidade emocional.


Até que ponto a televisão dita padrões de comportamento?

A TV influencia o telespectador ao submetê-lo a estímulos que se repetem por longos períodos, garantindo uma determinada resposta. Enquanto uma novela está no ar, o público responde ao padrão sugerido por ela. A mobilização é momentânea e superficial porque os meios de comunicação não socializam, apenas informam. A socialização implica a aquisição de valores, um processo que envolve a família, os amigos, a escola e o ambiente de trabalho.

Quando a televisão manipula e quando educa?

Manipula quando inibe o raciocínio crítico do telespectador, levando ao conformismo, e quando usa publicidade enganosa. A linguagem televisiva é de fácil apreensão, pois apela aos principais sentidos do corpo humano, mas deixa pouco espaço para a criatividade. Inversamente, a TV educa quando incentiva o conhecimento, promove o debate e esclarece.

O público pode influir no conteúdo que as emissoras levam ao ar?

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A influência do telespectador sobre a programação da TV é mínima e fica diluída nas amostragens dos institutos de pesquisa. É mais uma fantasia do que uma realidade. Diante da televisão, o indivíduo está sozinho e indefeso, facilmente manipulável.

Fazendo cabeças

Nem toda novela é pura fantasia.

NO EMBALO DA TV

Quem era adolescente em 1978 não esquece Dancing Days. Garotas do país inteiro copiavam o corte de cabelo e as meias soquetes usadas na telinha por atrizes como Lídia Brondi e Glória Pires (foto). A novela marcou o auge da moda das discotecas, onde todo mundo imitava os passos que via na TV.

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MUTIRÃO PELAS CRIANÇAS

Todas as noites, a abertura de Explode Coração (1995/96) mostrava pais com as fotos de seus filhos desaparecidos. A imagem deflagrou uma campanha nacional para localizar essas crianças. Resultado: quando a novela terminou, 61 menores já tinham sido encontrados.

AS MULHERES VÃO À LUTA

Na minissérie Malu Mulher (1979/80), Regina Duarte vivia uma profissional de classe média, emancipada, em luta contra os preconceitos machistas. A personagem estimulou muitas mulheres a batalhar pelos seus direitos.

INSPIRANDO OS CARA-PINTADAS

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Enquanto no mundo real a imprensa denunciava as falcatruas no governo de Fernando Collor, os personagens da minissérie Anos Rebeldes (1992) defendiam seus ideais nas passeatas estudantis de 1968 (na foto, Malu Mader e Cláudia Abreu). O exemplo inspirou milhares de adolescentes a sair às ruas, com o rosto pintado de verde e amarelho, para exigir o impeachment de Collor.

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