Quais os pensamentos que levaram nazistas a empreenderem suas atrocidades? Essa dúvida levou o psiquiatra americano Leon Goldensohn a avaliar a saúde mental dos oficiais de Hitler levados a julgamento no Tribunal de Nuremberg, em 1946. Durante 7 meses, ele trabalhou na corte que julgou crimes de guerra. Realizou entrevistas regulares e prolongadas com todos os prisioneiros e produziu relatórios aparentemente banais: queria saber da infância, das relações amorosas, do gosto artístico. Em um texto marcado pela oralidade dos acusados, o livro mostra como os senhores da guerra, fragilizados pelo isolamento, demonstram seus sentimentos para um psiquiatra inimigo. O material, no entanto, foi guardado por décadas até ser editado em inglês nos anos 90 e só agora em versão brasileira. É uma bela chance para conhecer o ambiente na cúpula nazista. Testes de QI aplicados pelo psiquiatra, por exemplo, concluíram que 19 dos 21 oficiais entrevistados tinham inteligência acima da média.
AS ENTREVISTAS DE NUREMBERG
Leon Goldensohn, Companhia das Letras, 551 páginas, R$ 68
Cada cabeça uma sentença
Rudolf Hess – O louco
O que fez: Vice-líder do Partido Nazista.
Perfil: Mostrou traços de incapacidade mental. Com a memória afetada, pouco se lembrava da infância ou da mãe. Entre seus distúrbios, apresentava apreensão excessiva com a qualidade da alimentação e expressão facial sempre contraída, como se estivesse sentindo dor.
Pena: Prisão perpétua. Morreu em 1987, preso em Spandau.
Hans Frank – O atormentado
O que fez: Advogado de Hitler, governou a Polônia ocupada.
Perfil: Mostrava-se seriamente abalado com as acusações de ser responsável pelos campos de concentração poloneses. Culpava a esposa, que o incentivou na carreira nazista. Dizia-se arrependido por não ter se casado com uma ex-noiva, inimiga do partido.
Pena: Foi enforcado em 16 de outubro de 1946, acusado de crimes contra a humanidade.
Hermann Goering – o soberbo
O que fez: Comandante-chefe da Força Aérea alemã.
Perfil: Apaixonado por arte e música clássica, considerava-se o 2o homem mais poderoso da Alemanha e, em alguns momentos, equiparava-se a Hitler. Culpava o chefe da SS, Heinrich Himmler, e o ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, pelas atrocidades.
Pena: Condenado à morte por crimes de guerra, suicidou-se duas horas antes da execução, em 15 de outubro de 1946.
Rudolf Hoess – O frio
O que fez: Comandou o campo de Auschwitz.
Perfil: Admitiu, sem culpas, responsabilidade pela morte de 2,5 milhões de judeus em câmaras de gás. Dizia ter aprimorado a logística da morte, permitindo envenenar e cremar 2 mil pessoas/dia. Considerava-se calmo e um bom marido, que fazia amor com regularidade antes de dormir.
Pena: Enforcado em 7 de abril de 1947, em Auschwitz.