A vida e obra do mágico Harry Houdini
Ele escapava das situações mais inesperadas: prisões de segurança máxima, correntes, tanques d’água e camisas de força.
“Ehrich, o príncipe dos ares”. Muito antes de surgir o grande Harry Houdini, o jovem húngaro Ehrich Weisz já buscava nas artes uma forma de fugir da pobreza. Nascido em 24 de março de 1874 em Budapeste, ainda criança seguiu com seus pais e cinco irmãos para tentar uma vida melhor nos Estados Unidos. Mesmo lá, a vida não era fácil. Weisz trabalhou como engraxate e entregador de jornais para ajudar a família. Mas a paixão já era o mundo artístico: aos 8 anos, subiu aos palcos pela primeira vez para apresentar um número no trapézio. Ainda não conhecia nada sobre mágica.
Só entrou no mundo do ilusionismo aos 17 anos, em Nova York, ao lado do irmão Theodore Hardeen. A dupla fazia pequenas apresentações pela cidade, com truques de cartas. Ehrich achou melhor adotar um nome mais popular nos Estados Unidos. Adaptou Ehrich para o inglês e adotou o sobrenome do mágico francês Robert-Houdin. Virou Harry Houdini – um dos maiores mágicos de todos os tempos.
Prenda-me se for capaz
Em um desses shows, Harry conheceu a cantora e dançarina Beatrice Raymond. Apaixonado, casou-se com a moça e viu sua vida mudar de vez. Em 1884, os dois se juntaram ao circo Welsh Brothers. E se destacaram com o clássico Metamorphosis, um truque de escapismo: com as mãos amarradas, Houdini era colocado dentro de um saco e, em seguida, trancado em uma caixa.
Sua esposa e assistente, que adotou o nome de Bess Houdini, fechava uma cortina em frente a eles, deixando a plateia sem ver nada. Bess, então, batia palmas e, imediatamente, Houdini reaparecia no palco. Livre, sem qualquer saco ou amarras. Bess só voltaria a aparecer no final do número, amarrada dentro do saco usado pelo marido. Foi o início de sua empreitada como escapista.
A cada cidade onde o circo parava, Houdini oferecia cem dólares para quem trouxesse uma algema da qual não pudesse escapar. Muitos policiais o desafiaram, mas o mágico nunca perdeu um desafio. A brincadeira era uma boa publicidade para o circo, cada vez mais cheio. Logo seus truques e escapadas viraram a principal atração do espetáculo.
Houdini virou notícia no país todo. Tanta popularidade fez o casal trocar o picadeiro pelos palcos de teatros do mundo todo. E ele sempre achava uma forma de divulgar seu show. Certa vez, ao ser convidado para uma turnê na Inglaterra, Houdini se frustrou com a falta de interesse dos ingleses por mágica. Achou uma forma de atrair a atenção do público: visitou a Scotland Yard, polícia especial britânica, e pediu a eles para algemá-lo. Poucos minutos depois, lá estava Houdini com as duas mãos livres. A performance encantou os policiais, a notícia se espalhou, e os ingressos do espetáculo se esgotaram. Houdini passou seis meses em cartaz em Londres.
Popstar
Por essa época, de acordo com o livro A Vida Secreta de Houdini, de William Kalush e Larry “Ratso” Sloman, a carreira do mágico ganhou um impulso nada convencional. Com base em documentos, os autores concluíram que Houdini trabalhava para os serviços secretos britânico e americano. Ele repassava informações sobre países que visitava, como Rússia e Alemanha, e, em troca, ganhava divulgação internacional de seus shows.
Verdade ou não, a carreira de Houdini decolou de vez. Suas turnês por Inglaterra, Escócia, Holanda, Alemanha, França e Rússia eram sempre recebidas com grande entusiasmo. Por onde passava, desafiava a polícia a tentar prendê-lo. Mesmo revistado e nu, escapou de diversas prisões. Era a melhor propaganda dos espetáculos – e funcionava muito bem.
No auge da fama, Houdini ousava cada vez mais (escapava de camisas de força até dependurado do lado de fora de um prédio). Em 1915, de volta aos Estados Unidos, quase morreu durante uma de suas apresentações. Depois de ser enterrado vivo e passar mal, precisou da ajuda das assistentes para sair com vida do confinamento.
Mas o sucesso na mágica ainda era pouco. Houdini se aventurou também pelo cinema. Em 1916, virou consultor de efeitos especiais e logo produziu seus próprios filmes. Fundou ainda uma produtora e um laboratório para desenvolver novas técnicas cinematográficas, em Hollywood.
Últimos atos
Em 1920, a carreira e a vida de Houdini mudaram. Arrasado com a morte da mãe, ele buscou ajuda no espiritismo. Queria de qualquer forma entrar em contato com ela. Só encontrou charlatões. E decidiu desmascará-los. Além de publicar o livro Um Mágico Entre os Espíritos, passou a oferecer US$ 10 mil para qualquer médium que demonstrasse poderes verdadeiros, que não pudessem ser reproduzidos.
Dali para frente, por ironia do destino, o mágico enfrentou uma série de reveses. O último deles foi durante um truque de resistência. Houdini costumava pedir aos espectadores para darem socos em sua barriga. Mas um estudante universitário, J. Gordon Whitehead, sem entender direito a natureza do desafio, o pegou de surpresa. Recebeu tantos golpes no estômago que foi nocauteado.
Apesar das dores intensas, o mágico se negou a ir ao hospital e seguiu a agenda de shows. Dois dias depois, aceitou a visita de um médico. Mas era tarde demais. Seu apêndice havia rompido, causando uma infecção generalizada. Morreu no dia 31 de outubro de 1926, aos 52 anos de idade.
Pouco tempo após seu falecimento, sua esposa Bess deu sequência às apresentações do marido. Dessa vez, ofereceu US$ 10 mil para quem conseguisse entrar em contato com Houdini. Em 1928, um homem chamado Arthur Ford disse ter recebido uma mensagem do falecido mágico. O homem levou a recompensa por mostrar um sinal que somente o casal conhecia. Bess seguiu com o espetáculo até 1936, quando uma tempestade invadiu e encharcou o teatro. Reza a lenda que a chuva só caiu naquele canto da cidade, com se fosse o último truque de Houdini.
A escapada da camisa de força
Houdini apresentou o truque em várias cidades do mundo, sempre ao ar livre, pendurado a alguns metros de altura.
Como é:
Como é o truque: