As resoluções de Ano-Novo da escritora Virginia Woolf
A autora de "Mrs. Dalloway" registrou desejos para o ano que começava nos diários que escreveu até o fim da vida – que terminou com um suicídio.
Uma das maiores escritoras de todos os tempos, autora de romances modernistas consagrados, como Mrs. Dalloway, As Ondas e Orlando, a britânica Virginia Woolf (1882–1941) também manteve, durante anos, o hábito de falar de sua vida em diários.
Deixou 26 volumes desse tipo escritos à mão, e ia além do mero relato do seu cotidiano: ela aproveitava esses textos para aprimorar sua técnica, o que teria reflexo em seus livros publicados.
Pelo menos em duas ocasiões, Woolf falou sobre suas resoluções de Ano-Novo nos diários.
No dia 2 de janeiro de 1931 ela escreveu:
“Aqui estão minhas resoluções para os próximos três meses.
Não ter nenhuma. Para não ser amarrada por elas.
Ser livre e gentil comigo mesma, não levar isso a festas: sentar-me em particular lendo no estúdio.
Fazer um bom trabalho em As Ondas [seu livro lançado naquele mesmo ano].
Parar de me irritar pela garantia de que nada vale a irritação.
Às vezes ler, às vezes não ler.
Sair, sim – mas ficar em casa apesar de ser convidada.
Quanto a roupas, comprar boas.”
Já em 4 de janeiro de 1936, mais uma declaração de resoluções:
“Ler o menor número possível de jornais semanais – até acabar Os Anos [livro que lançaria em 1937];
para encher meu cérebro só com livros e hábitos distantes;
totalmente ser a mais essencial e a menos superficial possível, mais física e menos apreensiva possível.”
Com cinco anos de distância entre eles, seus desejos para o ano que começava revelam uma escritora com o mesmo foco no trabalho, buscando ter mais simplicidade na vida. E também bem-estar, que era algo de que ela necessitava bastante.
A última vez que escreveu num diário foi em 1941, quatro dias antes de se suicidar. Virginia Woolf pôs fim à vida entrando num rio com pedras pesadas nos bolsos do casaco que vestia. Isso para que o peso na roupa não lhe devolvesse à superfície das águas, já que sua intenção era se afogar. Uma resolução que a escritora (que sofria de depressão) finalmente conseguiu cumprir.