Casas à venda por um euro na Itália: verdade ou cilada?
Volta e meia surgem notícias sobre esse atrativo plano habitacional. Mas as letras miúdas mostram que o negócio está longe de ser barato.
No último domingo (24), uma reportagem do CNN Travel visitou Patrica, uma cidade de 3 mil habitantes ao sul de Roma, na região central da Itália. Com vista para um vale, o vilarejo está a 50 quilômetros do mar e é repleto de construções do início do século 20.
Patrica enfrenta um problema. A cidade possui dezenas de construções aptas a participar do programa nacional 1 Euro Houses (“Casas de Um Euro”), criado em 2017. Mas, até agora, só conseguiu vender duas delas.
Você sabe do que estamos falando. Volta e meia, surgem notícias como a de Patrica: vilarejos colocam imóveis antigos à venda por apenas um euro (R$ 5,40, na cotação atual). Você junta uns trocados e, mamma mia, conquista o sonho da casa italiana própria.
O 1 Euro Houses surgiu para ajudar a economia de pequenas cidades onde a população está encolhendo. Muitos habitantes (em especial, os mais jovens) saíram em busca de melhores empregos e não voltaram. A ideia do programa, então, é atrair novos moradores e dar um gás no comércio e turismo.
Desde 2017, 75 municípios aderiram ao projeto – a maioria deles fica no sul da Itália, região mais pobre que o norte do país. Mas engana-se quem pensa que o processo de adquirir uma casa dessa forma é simples. O caminho para garantir as chaves é complexo – e envolve bem mais do que um euro.
Casa dolce casa
Cada município é responsável pelos trâmites envolvendo as casas que estão no seu território. O governo conecta interessados em vender propriedades com interessados em adquiri-las. Na maioria dos casos, os compradores são obrigados a visitar a cidade para fechar a compra in loco.
Não espere por mansões. Em geral, são imóveis velhos com um sem-fim de problemas: infiltrações, mofo, fiação queimada, chão e teto danificados… Não à toa, tem gente querendo se livrar deles por um preço baixo.
Mas aí que está outro pulo do gato: o valor de um euro é apenas simbólico. No momento em que a conta é firmada, o comprador precisa pagar as taxas da corretora de imóveis que fez o meio de campo da venda e o imposto sobre a escritura. Além disso, deve apresentar em até um ano um plano de avaliação e restauração da casa.
A partir daí, o comprador deve ir atrás das licenças para começar a reforma, que deve terminar dentro do prazo estipulado pela prefeitura (três anos, geralmente). O governo pede um depósito de até 5 mil euros (R$ 27 mil reais) como garantia, caso o comprador dê para trás no meio da obra.
Em muitos vilarejos italianos, a mão de obra e os materiais de construção são razoavelmente baratos. Mas, afinal, quanto se gasta nessa brincadeira? O canal CNBC entrevistou americanos que adquiriram imóveis pelo 1 Euro Houses. Entre impostos e reformas, os mais conservadores gastaram US$ 38 mil (R$ 190 mil). Quem investiu pesado desembolsou US$ 479 mil (R$ 2,4 milhões).
Em busca dos proprietários
O 1 Euro Houses ajudou a economia de dezenas de cidades. Em Mussomeli, que fica na Sicília (sul da Itália), 100 casas foram vendidas pelo projeto, além de outras 200 das chamadas “casas premium” – imóveis que custam a partir de 5 mil euros e que não precisam de tanta reforma. O turismo por lá aumentou 3.000% graças aos novos moradores (muitos abriram comércios nas propriedades adquiridas).
Mas essa não é a realidade de todos os municípios. Em Patrica, há muitas casas em péssimo estado, até para os padrões do projeto. Mas não é só isso. Achar os antigos donos e seus herdeiros tem sido uma tarefa complexa.
Muitos abandonaram a cidade há anos e não possuem contato com mais ninguém de lá. Além disso, vários desses imóveis têm impostos e dívidas atrasadas. Então é provável que seus proprietários não queiram lidar com esse problema, sob o medo de cobranças.
Mesmo assim, a prefeitura de Patrica segue à procura deles. E também criou um programa de revitalização de fachadas, além de incentivos fiscais para quem quiser construir pousadas e outros estabelecimentos comerciais por lá. Tudo para fazer com que a memória da vila não desapareça junto com seus antigos moradores.
deslanchou em algumas cidades, comercio aumentou, turismo cresceu
patrica, coitada, ta foda de achar os donos
ofereceu um monte de incentivos, e a prefeitura