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Casas à venda por um euro na Itália: verdade ou cilada?

Volta e meia surgem notícias sobre esse atrativo plano habitacional. Mas as letras miúdas mostram que o negócio está longe de ser barato.

Por Rafael Battaglia
Atualizado em 17 fev 2025, 11h51 - Publicado em 26 mar 2024, 16h10

No último domingo (24), uma reportagem do CNN Travel visitou Patrica, uma cidade de 3 mil habitantes ao sul de Roma, na região central da Itália. Com vista para um vale, o vilarejo está a 50 quilômetros do mar e é repleto de construções do início do século 20.

Patrica enfrenta um problema. A cidade possui dezenas de construções aptas a participar do programa nacional 1 Euro Houses (“Casas de Um Euro”), criado em 2017. Mas, até agora, só conseguiu vender duas delas.

Você sabe do que estamos falando. Volta e meia, surgem notícias como a de Patrica: vilarejos colocam imóveis antigos à venda por apenas um euro (R$ 5,40, na cotação atual). Você junta uns trocados e, mamma mia, conquista o sonho da casa italiana própria.

O 1 Euro Houses surgiu para ajudar a economia de pequenas cidades onde a população está encolhendo. Muitos habitantes (em especial, os mais jovens) saíram em busca de melhores empregos e não voltaram. A ideia do programa, então, é atrair novos moradores e dar um gás no comércio e turismo.

Desde 2017, 75 municípios aderiram ao projeto – a maioria deles fica no sul da Itália, região mais pobre que o norte do país. Mas engana-se quem pensa que o processo de adquirir uma casa dessa forma é simples. O caminho para garantir as chaves é complexo – e envolve bem mais do que um euro.

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Casa dolce casa

Cada município é responsável pelos trâmites envolvendo as casas que estão no seu território. O governo conecta interessados em vender propriedades com interessados em adquiri-las. Na maioria dos casos, os compradores são obrigados a visitar a cidade para fechar a compra in loco.

Não espere por mansões. Em geral, são imóveis velhos com um sem-fim de problemas: infiltrações, mofo, fiação queimada, chão e teto danificados… Não à toa, tem gente querendo se livrar deles por um preço baixo.

Mas aí que está outro pulo do gato: o valor de um euro é apenas simbólico. No momento em que a conta é firmada, o comprador precisa pagar as taxas da corretora de imóveis que fez o meio de campo da venda e o imposto sobre a escritura. Além disso, deve apresentar em até um ano um plano de avaliação e restauração da casa.

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A partir daí, o comprador deve ir atrás das licenças para começar a reforma, que deve terminar dentro do prazo estipulado pela prefeitura (três anos, geralmente). O governo pede um depósito de até 5 mil euros (R$ 27 mil reais) como garantia, caso o comprador dê para trás no meio da obra.

Em muitos vilarejos italianos, a mão de obra e os materiais de construção são razoavelmente baratos. Mas, afinal, quanto se gasta nessa brincadeira? O canal CNBC entrevistou americanos que adquiriram imóveis pelo 1 Euro Houses. Entre impostos e reformas, os mais conservadores gastaram US$ 38 mil (R$ 190 mil). Quem investiu pesado desembolsou US$ 479 mil (R$ 2,4 milhões).

Em busca dos proprietários

O 1 Euro Houses ajudou a economia de dezenas de cidades. Em Mussomeli, que fica na Sicília (sul da Itália), 100 casas foram vendidas pelo projeto, além de outras 200 das chamadas “casas premium” – imóveis que custam a partir de 5 mil euros e que não precisam de tanta reforma. O turismo por lá aumentou 3.000% graças aos novos moradores (muitos abriram comércios nas propriedades adquiridas).

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Mas essa não é a realidade de todos os municípios. Em Patrica, há muitas casas em péssimo estado, até para os padrões do projeto. Mas não é só isso. Achar os antigos donos e seus herdeiros tem sido uma tarefa complexa.

Muitos abandonaram a cidade há anos e não possuem contato com mais ninguém de lá. Além disso, vários desses imóveis têm impostos e dívidas atrasadas. Então é provável que seus proprietários não queiram lidar com esse problema, sob o medo de cobranças.

Mesmo assim, a prefeitura de Patrica segue à procura deles. E também criou um programa de revitalização de fachadas, além de incentivos fiscais para quem quiser construir pousadas e outros estabelecimentos comerciais por lá. Tudo para fazer com que a memória da vila não desapareça junto com seus antigos moradores.

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