Conheça Cabíria, prêmio para filmes protagonizados por mulheres
Inscrições para o prêmio podem ser feitas entre 22 de novembro de 2015 e 8 de janeiro de 2016
Ela nos foi apresentada em 1957. Protagonista de Noites de Cabíria, de Federico Fellini, Cabíria é uma jovem prostituta que, apesar de passar por maus bocados do início ao fim do filme, não perde a força e a vontade de seguir em frente. O papel, que rendeu a Giulietta Masina o prêmio de Melhor Atriz em Cannes, agora dá nome a um prêmio que busca abrir espaço e dar visibilidade para histórias com protagonistas femininas na produção audiovisual.
“Cabíria não é só um grande personagem feminino (e uma das minhas favoritas!), mas também é símbolo da perseverança, um elogio à ingenuidade de quem ainda acredita no mundo e nas pessoas. Afinal, cinismo e ceticismo não costumam operar grandes mudanças por aí. Esperança e persistência sim”, afirma a roteirista e idealizadora do projeto, Marília Nogueira, na apresentação do prêmio.
A motivação para a criação do projeto veio da experiência de Marília. “Foram várias questões que vinham me inquietando ao longo de alguns anos, talvez uma das principais tenha sido perceber que meu impulso natural ao escrever era pensar em histórias com protagonistas masculinos – isso não fazia muito sentido”, contou à SUPER. Pensando nos livros, filmes, desenhos animados e séries que a acompanharam durante a vida, identifica uma resposta possível: a maioria deles eram protagonizados por homens. A desigualdade de gêneros na frente e atrás das câmeras é uma realidade. Como já falamos por aqui, os números não deixam mentir: apesar de mulheres serem responsáveis por comprar 50% dos ingressos em sessões nos EUA, há uma proporção de 5 homens para cada mulher trabalhando no cinema, segundo estudo conduzido pela New York Film Academy; no ano passado, menos de 5% dos longas com maiores bilheterias foram dirigidos por mulheres. O problema não é exclusividade de Hollywood – segundo o trabalho “Mulheres no Cinema Brasileiro” do Núcleo de Estudos de Gênero “Caderno Espaço Feminino” da Universidade Federal de Uberlândia, apesar da proporção de mulheres desempenhando funções chave (direção, roteiro, produção, fotografia) nos filmes de longa-metragem produzidos ou lançados no Brasil ter dado um salto entre os anos de 1961 e 2010, não ultrapassou a marca dos 10% na última década analisada; os homens também protagonizam mais filmes, estando no papel de destaque em 63,5% e 56,3% dos filmes produzidos nas décadas de 1990 e 2000, respectivamente; mulheres são protagonistas de menos de 20% dos longas produzidos no período.
“Faltam personagens femininas fortes com quem meninas e mulheres possam se identificar na literatura e nas narrativas audiovisuais. Criar um prêmio de roteiro como esse poderia ajudar a dar visibilidade às histórias protagonizadas por mulheres”, defende. Com o prêmio, a ideia é contribuir para uma mudança nesse cenário estimulando roteiristas a criarem histórias com protagonistas complexas e, ao mesmo tempo, dar maior visibilidade e credibilidade para esta produção, contribuindo para que esses projetos tenham mais chances de conseguir financiamento e chegar às telas.
Inscrições para o prêmio podem ser feitas entre 22 de novembro de 2015 e 8 de janeiro de 2016 e podem concorrer roteiros de longa-metragem de ficção com no mínimo uma protagonista feminina – o primeiro lugar vai receber um prêmio no valor de R$ 10.000. Homens também podem concorrer, mas mulheres roteiristas terão 50% de desconto na taxa de inscrição (que tem valor de R$ 50) e poderão concorrer ainda a uma consultoria de roteiro exclusiva a concorrentes do sexo feminino, ação que recebe apoio da WIFT-Brasil – rede internacional que tem como objetivo oferecer suporte, educação e aperfeiçoamento profissional às mulheres na área de cinema e TV.
O valor da premiação será arrecadado através de uma campanha de crowdfunding, organizada por Marília e uma equipe voluntária. A campanha de financiamento coletivo será dividida em outras três metas de arrecadação – 15, 20 e 35 mil reais. “Caso esses outros patamares sejam atendidos, o valor do prêmio aumenta, o trabalho das pessoas envolvidas passa a ser remunerado e o currículo da comissão de seleção ganha peso”, a idealizadora explica na página do prêmio.
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