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Indiana Jones e suas histórias não resolvidas

Saiba o que a ciência tem a dizer e desvende conosco os 7 maiores enigmas da série

Por José Francisco Botelho e Bruno Garattoni
Atualizado em 4 abr 2018, 22h17 - Publicado em 31 Maio 2008, 22h00

Ele derrotou soviéticos e nazistas, explorou lugares incríveis e achou tesouros desconcertantes. Mas, ao fazer tudo isso, mais confundiu do que explicou: como misturam pitadas de realidade com muita ficção, as aventuras do arqueólogo mais famoso do cinema não solucionam os mistérios que levantam.

7. O que é a Caveira de Cristal?

O que é a Caveira de Cristal?
Um objeto sobrenatural, feito por civilizações antigas? Um gerador de energia criado por aliens? Ou um golpe para enganar colecionadores?

No filme de  2008, aparecem várias caveiras de cristal – que, se unidas, viram uma imbatível arma de guerra. E na vida real, fora do cinema, os mitos não deixam por menos. Há quem diga que as caveiras são geradores de energia ou computadores fabricados por civilizações alienígenas. Uma das caveiras, que teria sido esculpida pelos maias 3 600 anos atrás, promete poderes ainda mais bizarros. Bastaria tocá-la para se curar de qualquer doença (ou encomendar a morte de alguém). Existe até uma seita, no México, para a qual as caveiras precisam ser reunidas até dezembro de 2012 – do contrário, a Terra sairá de órbita, com conseqüências catastróficas para a humanidade. Nada disso tem fundamento científico. Mas, na vida real, as caveiras de cristal realmente existem.

Há pelo menos 12 delas, supostamente de origem pré-colombiana, em museus e acervos particulares. A mais famosa teria sido descoberta por Frederick Mitchell-Hedges, em 1924, no Belize (América Central). É um crânio esculpido em quartzo, com 13 centímetros de altura e 5 quilos. Em 1970, o pesquisador Frank Dorland analisou o objeto, o que teria revelado dois detalhes intrigantes. A caveira realmente foi esculpida a partir de um bloco de quartzo, mas no sentido errado – o que, em tese, deveria ter quebrado o cristal. E a superfície do objeto era absolutamente uniforme, sem arranhões, sugerindo o uso de uma tecnologia que os maias certamente não tinham. Para os mais crédulos, isso serviu como prova de que as caveiras seriam obra de alienígenas. Dorland propôs uma tese um pouco menos mirabolante, mas que também não é fácil de engolir. Para ele, o objeto teria sido esculpido à mão pelos maias, com areia e água, num processo extremamente lento – que poderia ter levado de 150 a 300 anos. Será possível? O arqueólogo Paulo Zanettini, da Universidade de Campinas (Unicamp), que viu uma das caveiras no Museu Antropológico da Cidade do México, acredita que os povos da América Central eram capazes de fazer esse tipo de polimento. “A sofisticação deles era inimaginável.”

Mas, provavelmente, a solução do mistério é bem mais simples. Estudos recentes comprovaram que duas das caveiras de cristal, a do British Museum e a do Museu Quai Branly, na França, são fraudes. Os objetos contêm traços de polimento e perfurações características de instrumentos modernos, como os utilizados por joalheiros europeus a partir do século 19 – mais precisamente os do sul da Alemanha, onde as duas caveiras teriam sido fabricadas.

O que diz Indiana
• Existem várias caveiras de cristal, mas apenas uma já foi descoberta. Acredita-se que as caveiras tenham poderes paranormais.
• Mesmo sendo feita de cristal, material que não é magnético, a caveira atrai objetos metálicos – o que supostamente é um indício do seu poder.
• A principal caveira de cristal do filme é a de Mitchell-Hedges, que realmente existe na vida real.
• As caveiras são motivo de disputa entre Indiana e os vilões do filme, os soviéticos, que querem transformá-las em arma de guerra.

6. O que aconteceu em Roswell?

O que aconteceu em Roswell?
Um disco voador realmente caiu lá? Como uma tentativa de enganar a URSS trouxe ao mundo os ETs mais famosos da história.

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Em julho de 1947, o fazendeiro William Brazel estava passeando por seu rancho, na cidadezinha americana de Roswell, e encontrou uma coisa estranha: uma maçaroca de tiras de borracha, papel-alumínio e algumas varas. O fazendeiro chamou o xerife, que chamou os militares – e, daí, surgiria um dos maiores mistérios do século 20. Tudo porque, para explicar o que havia ocorrido, a Aeronáutica dos EUA divulgou um comunicado dizendo que aqueles destroços, na realidade, eram pedaços de um disco voador.

Ao que tudo indica, os destroços não tinham nada de alienígenas. Eram pedaços de um balão ultra-secreto, que os americanos estavam desenvolvendo para espionar a URSS. A tese dos destroços extraterrestres teria sido inventada por militares dos EUA, que queriam evitar um acirramento das tensões com os soviéticos. “Essa mitologia em torno de Roswell jamais teria se desenvolvido se o aparato [o balão] não fosse parte de um programa governamental destinado a monitorar os testes nucleares soviéticos”, diz o ufólogo americano Gary Posner.

No dia seguinte, os militares mudaram sua versão, negando que os destroços fossem alienígenas – segundo a Aeronáutica, eram restos de um balão meteorológico.Mas o estrago já estava feito: a história sobre aliens estourou nos jornais americanos, e a lenda de Roswell estava formada. Em 1978, o caso ganharia ainda mais força. O major Jesse Marcel, que recolhera os destroços em Roswell 30 anos antes, disse que eram, sim, pedaços de uma nave espacial. Isso detonou uma onda de conspiracionismo e gerou livros como The Roswell Incident, de 1980, que acusa o governo dos EUA de esconder a verdade sobre os aliens.

Foram aparecendo novas testemunhas, que confundiam cada vez mais a história. Os filhos do fazendeiro Brazel deram mais detalhes sobre os destroços: eles eram feitos de um material desconhecido e inquebrável. Outra testemunha célebre foi Glenn Dennis, que trabalhava na funerária de Roswell na época do incidente. Segundo ele, a Força Aérea foi à funerária querendo comprar caixões pequenos, como os usados no sepultamento de crianças. E com um detalhe ainda mais estranho: os caixões tinham de ser hermeticamente selados.

Dennis disse ter conversado com uma amiga enfermeira, que teria ajudado os militares a fazer uma autópsia de 3 ETs – eles seriam negros, com cerca de 1,20 metro de altura. Chegou a aparecer, até, um vídeo da tal autópsia. Era uma fraude. Logo após o caso, a tal enfermeira viajou para a Europa e desapareceu para sempre (Dennis tentou se corresponder com ela, mas todas as cartas voltaram com o carimbo “destinatário falecido”).

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Tentando acabar com todos os mitos, a Força Aérea dos EUA acabou fazendo, na década de 1990, uma investigação. Dela saíram dois relatórios, que negam qualquer contato com discos voadores ou tecnologia alienígena – e afirmam que os destroços faziam parte do Projeto Mogul, um balão que estava sendo desenvolvido para espionar a URSS. Os relatórios desmontavam os relatos das pessoas que diziam ter havido ETs em Roswell. Alguns dos fatos relatados pelo coveiro Dennis eram verdadeiros. Mas ele foi acusado de descontextualizar, e juntar numa história só, coisas que tinham acontecido ao longo de vários anos. Os militares compraram caixões na funerária de Dennis, mas isso aconteceu nos anos 50 – não em 1947. A tal enfermeira, que parecia invenção, realmente existiu. Mas só começou a trabalhar em Roswell um mês depois do suposto incidente com aliens.

O que diz Indiana
• O Exército dos EUA possui caixas com a inscrição “Roswell, Novo México, 1947” e a observação “top secret” (confidencial).
• Indy afirma que esteve em Roswell, aonde teria sido chamado para examinar os destroços de um objeto voador.
• Os destroços do óvni são feitos de um material fortemente magnetizado – sugerindo uma relação com a Caveira de Cristal.

5. Existem aliens na Área 51?

Existem aliens na Área 51?
Do tamanho da cidade de São Paulo, essa base militar está cheia de segredos e tecnologias que parecem de outro mundo.

Com 1 500 km2 de tamanho, o equivalente à cidade de São Paulo, a base militar Área 51, que fica no estado de Nevada, é uma espécie de continuação do mistério de Roswell – pois é nela que estaria guardada a nave espacial encontrada pelo Exército dos EUA. Em 1989, um homem chamado Bob Lazar deu uma entrevista na TV dizendo que tinha trabalhado na base, como físico e engenheiro. Sério, com jeitão de nerd e nenhuma pinta de louco, Bob Lazar parecia ser uma testemunha confiável. Segundo ele, os EUA estavam trabalhando secretamente em uma nave alienígena. Lazar disse ter passado 4 meses tentando copiar a tecnologia extraterrestre.

Desconfiados da história, alguns pesquisadores foram atrás de provas, mas não conseguiram encontrar registros da passagem de Lazar pela Aeronáutica dos EUA. O Instituto de Tecnologia de Massachusetts, onde Lazar disse ter estudado, também nunca tinha ouvido falar dele. Lazar explicava essas incongruências dizendo que, para desacreditá-lo, o governo apagara os registros dele por todas as instituições em que tinha passado.

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Mesmo sem convencer, a história de Bob Lazar atiçou o interesse sobre a Área 51. Em 1996, um engenheiro mecânico veio a público dizer que tinha trabalhado lá, durante os anos 50, em um simulador de disco voador construído para treinar pilotos americanos. Ele também alegava ter convivido com um extraterrestre chamado J-Rod, descrito como tradutor telepático. Outro homem, chamado Dan Burisch, disse ter trabalhado na clonagem de vírus alienígenas, também com o alien J-Rod. Houve até quem mostrasse vídeos do suposto interrogatório de um alien. Coisa que, para a ciência, jamais ocorreu. “A comunidade científica não aceita a idéia de que o planeta já tenha sido visitado por extraterrestres”, diz Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, um dos principais astrônomos brasileiros e autor de Quem É Vivo Sempre Aparece – Pequeno Ensaio sobre a Procura dos ETs (DPA Editora). Se os aliens nunca estiveram aqui, não podem ter ido parar na Área 51.

Mas existe uma explicação para as lendas relacionadas à Área 51. Lá foram desenvolvidos e testados os aviões mais secretos da Guerra Fria. Aeronaves como o mítico U-2, que tinha por missão espionar a URSS, o avançadíssimo SR-71 Blackbird, capaz de voar 3 vezes mais rápido do que o som, e o F-117 Nighthawk, uma das máquinas mais estranhas que já voou sobre a Terra (ele tem um formato triangular, nada parecido com qualquer coisa vista antes). Como esses aviões eram muito esquisitos, voavam muito mais rápido do que se acreditava ser possível e não eram detectados pelos radares, podem ter sido confundidos com naves espaciais. Daí a conexão entre a Área 51 e as supostas aparições de ETs.

O que diz Indiana
• Como na vida real, é uma base secreta do Exército americano e está localizada no estado de Nevada. Mas, no filme, o local foi batizado com um nome ligeiramente diferente: Hangar 51.
• Os EUA utilizam a base para desenvolver tecnologia aeroespacial, como os motores usados em foguetes da Guerra Fria, e também para fazer testes com bombas nucleares.
• Aparece um carro com a inscrição “1B7731”, o que supostamente é uma mensagem secreta para os fãs da série. Já existem teorias a respeito na internet, mas até agora nenhuma convincente.
• Dentro da base militar, está guardado um tesouro que já apareceu em outra aventura de Indiana. Mas é uma menção rápida: o objeto fica menos de 3 segundos na tela.

4. Eldorado era mesmo feito de ouro?

Eldorado era mesmo feito de ouro?
Na região da floresta amazônica, teria existido um reino secreto e riquíssimo, com templos e montanhas de ouro maciço. O metal era tão farto, mas tão farto, que o chefe do lugar chegava a se cobrir com ouro em pó. Será?

Muitos especialistas acreditam que a civilização de Eldorado, na região da floresta Amazônica, realmente possa ter existido. Mas nada indica que fosse uma cidade totalmente construída de ouro, como sugere o filme de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal. As lendas a respeito surgiram no século 16, pois as riquezas encontradas nos templos e palácios incas despertaram a esperança de que civilizações ainda mais ricas, e tesouros ainda mais incríveis, se escondessem nas selvas e montanhas das Américas. As histórias da época contam que em Eldorado o ouro realmente era farto e usado em rituais religiosos.

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O líder dessa civilização era o príncipe Dourado (ou “El Dorado”), termo que viria a designar a cidade em si. “Dizem que esse príncipe anda sempre coberto de pó de ouro, fino como sal, grudado em seu corpo por óleos e bálsamos, dos pés à cabeça. Sua aparência é resplandecente, como um objeto de ourivesaria trabalhado por um grande artista”, escreveu o historiador espanhol Gonzáles Fernandes de Oviedo em História Geral das Índias, de 1535.

As histórias sobre o príncipe Dourado se inspiravam na civilização chibcha, que existiu na Colômbia antes da invasão européia. Adoradores do Sol, os chibchas consideravam o ouro uma encarnação terrena da sua divindade favorita, o Deus-Sol. Uma vez por ano, o cacique chibcha se cobria de pó de ouro, pegava uma jangada até o centro da lagoa de Guatavita, que ficava próxima à atual cidade de Bogotá, e ali fazia uma oferenda com objetos de ouro.

Esse ritual, praticado por centenas de anos, já havia desaparecido quando os espanhóis invadiram a América do Sul. Mas a imaginação dos europeus se misturou a relatos dos índios, e a história foi ficando cada vez mais impressionante. A capital de Eldorado seria uma cidade chamada Omágua ou Manoa, cheia de templos e palácios reluzentes e atravessada por cordilheiras de ouro maciço. O país seria habitado por estranhas criaturas chamadas ewaipamonas – uma raça de homens sem pescoço, cujo rosto ficava na altura do peito. E as fronteiras de Eldorado seriam defendidas por mulheres guerreiras, que foram batizadas de “amazonas” – nome que foi inspirado por uma nação de mulheres-soldados da mitologia grega.

As expedições
A principal busca começou em 1542, quando, acompanhado por apenas 60 aventureiros, o espanhol Francisco de Orellana se embrenhou na selva amazônica para procurar Eldorado. Ele começou sua busca na parte equatoriana da floresta. Foi uma expedição dura. Quando a comida acabou, os exploradores começaram a comer o couro de suas botas e roupas. Os que não morreram de fome tiveram de sobreviver a ataques de índios da região. Mesmo assim, a expedição conseguiu avançar mais de 4 mil quilômetros até a foz do rio Amazonas, no oceano Atlântico. Orellana viveu para contar a história, e ganhou fama como o primeiro europeu a navegar o rio mais extenso do mundo. Que ele batizou de um jeito curioso. Quando Orellana foi atacado por índios de cabelos compridos, durante sua expedição, pensou que fossem mulheres guerreiras. Por isso, em homenagem a elas, batizou de Amazonas o grande rio recém-descoberto.

Mas Orellana não encontrou o que procurava – e, durante, os 3 séculos seguintes, Eldorado continuou sendo o alvo de buscas vertiginosas na América do Sul. Além de Orellana, dezenas de outros aventureiros percorreram Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana e Brasil em busca da cidade de ouro. Antes de Orellana, em 1536, Jimenez de Quesada vasculhara os planaltos da Colômbia – numa expedição que resultou na fundação da cidade de Bogotá. Mas não encontrou Eldorado. Gonzalo Pizarro (irmão de Francisco Pizarro, que havia encontrado os tesouros do Império Inca) também tentou. Ele partiu de Quito com 350 espanhóis e 4 mil índios. O grupo escalou os Andes e atravessou florestas em condições terríveis. 70% dos exploradores morreram, e os que sobreviveram voltaram de mãos vazias. Em 1540, foi a vez de a coroa inglesa cair na chamada “síndrome de Eldorado”, como a busca foi apelidada por historiadores. Enviado às Américas pela rainha Elizabeth, o aventureiro Walter Raleigh vasculhou durante anos o interior da Guiana e do Suriname – mas só encontrou tribos esparsas e algumas pepitas de ouro.

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Em 1856 o geólogo alemão Alexander von Humboldt achou, nas proximidades de Bogotá, uma estatueta de ouro maciço representando um cacique dourado, de pé no centro de uma jangada suntuosa, que poderia ter sido o príncipe Dourado. Outro artefato idêntico foi descoberto por agricultores colombianos na mesma região, em 1969. No início do século 20 uma firma inglesa tentou drenar as águas da lagoa de Guatavita – local onde os chibchas faziam seus rituais religiosos. Mas um deslizamento de terra impediu que essa moderna busca de Eldorado fosse concluída. Para muita gente, o tesouro que arrastou tantos aventureiros à morte continua lá no fundo, escondido pelas águas da lagoa sagrada.

O que diz Indiana
• O reino é totalmente feito de ouro, e foi erguido cerca de 7 mil anos atrás. Tem conexão com as caveiras de cristal.
• A cidade dourada recebe o nome fictício de Akator. Ela é guardada por índios de aspecto físico normal.
• O explorador Francisco de Orellana é citado como o primeiro a tentar desbravar Eldorado.
• O filme diz que Orellana morreu durante a exploração. Na vida real, isso não ocorreu (Orellana sobreviveu).

3. O que são as linhas de Nazca?

O que são as linhas de Nazca?
Desenhos enigmáticos, que só são visíveis de avião e cobrem um deserto do Peru. Homenagem aos deuses? Ou aeroporto de ETs?

No desértico vale de Nazca, no sul do Peru, está um dos maiores enigmas da arqueologia moderna. São cerca de 800 linhas, com centenas de quilômetros de extensão, que formam desenhos geométricos como trapézios e espirais e também representam animais gigantescos: há pássaros, répteis, um macaco, uma assustadora aranha de 2 quilômetros de comprimento e até uma figura humana acenando com a mão erguida. Quem fez essas marcas no solo, e o que elas significam?

A resposta exata desapareceu junto com a civilização Nazca, que floresceu no sul do Peru entre os anos 200 a.C. e 600 d.C. – e, assolada por desastres naturais, foi varrida da história no início do século 7. Mas falta de chuvas, o clima seco e a escassez de habitantes na região ajudaram a conservar as linhas (chamadas de “geóglifos” pelos cientistas). Elas foram descobertas pelo mundo moderno na década de 1920, quando vôos comerciais começaram a sobrevoar o vale de Nazca. E, a milhares de quilômetros de altura, os passageiros se depararam com um cenário impressionante: visto de cima, o deserto parecia uma gigantesca tela. O grande mistério está no tamanho dessas gravuras – elas são tão grandes, mas tão grandes, que só de um avião ou helicóptero poderiam ser vistas com clareza. Mas, se os nazcas não tinham aeronaves, como faziam para desenhar as gravuras com tanta precisão? De lá para cá, surgiram várias hipóteses. No livro Carruagens dos Deuses, de 1968, o ufólogo suíço Erich von Daniken afirmou que os geóglifos de Nazca foram desenhados com a ajuda de alienígenas e serviriam como pistas de pouso para os ETs (embora seja bem difícil imaginar uma nave pousando em uma pista em forma de macaco). Outra teoria diz que não houve participação de aliens, e as linhas realmente foram desenhadas pelo povo de Nazca – que supostamente tinha balões primitivos e, portanto, era capaz de sobrevoar o próprio território. Também houve quem dissesse que as linhas são mapas astronômicos, representando a posição das estrelas.

Foi só às vésperas do século 21 que o enigma começou a se resolver. Em 1997 uma equipe internacional de arqueólogos, engenheiros e técnicos de computação gráfica desembarcou no vale de Nazca com equipamentos de última geração. Eles tiraram fotos aéreas do local e usaram as imagens para montar um mapa tridimensional, que permitiu explorar os geóglifos a partir de vários ângulos. Ao que tudo indica, as linhas realmente foram desenhadas pelos nazcas, que levaram séculos para completar os desenhos utilizando um método relativamente simples. O solo da região é formado por rochas vulcânicas, que são escuras e ficam espalhadas sobre uma base de areia. Os nazcas só precisaram movimentar as rochas e ordená-las de acordo com o desenho que queriam fazer – cada rocha forma um pontinho da imagem.

E, ao contrário do que se acreditava, as linhas de Nazca podem ser vistas com clareza ao nível do solo, dispensando o uso de aviões, balões ou naves espaciais. Os nazcas ficavam em pé em cima das linhas, e pronto: os desenhos ganhavam vida e se tornavam visíveis a partir de elevações do terreno. Hoje, a maioria dos especialistas acredita que o vale de Nazca servia como palco para gigantescas cerimônias religiosas. Os geóglifos marcariam o trajeto de enormes procissões destinadas a atrair a atenção dos deuses. E o que os antigos peruanos pediam aos céus com tanta gana? Provavelmente, eles queriam água – dádiva realmente divina numa região muito seca, em que o índice de chuvas não passa de meio milímetro por ano.

O que diz Indiana
• Indy encontra uma mensagem, escrita por um arqueólogo envolvido na busca das caveiras, que menciona as linhas de Nazca.
• O bilhete, que traz desenhos e está escrito numa língua extinta, diz: “Siga as linhas que só os deuses podem ler”.
• As linhas de Nazca funcionam como uma espécie de mapa, que orienta a expedicão em busca das caveiras de cristal.

2. O Santo Graal existe?

O Santo Graal existe?
Chave para a vida eterna, ou mera obra de ficção: qual é a verdade sobre o cálice usado por jesus na última ceia?

É provável que Jesus Cristo tenha, em algum momento de sua vida, utilizado um cálice para beber. Mas o Graal como o conhecemos, que teria sido usado na Última Ceia e tem poderes mágicos, é uma obra de ficção. Isso não impediu que pesquisadores buscassem o objeto. Um deles foi o medievalista alemão Otto Rahn, que era membro do Partido Nazista. Ele jamais encontrou nada que se parecesse com qualquer descrição do Graal, mas suas andanças deram origem à lenda de que Hitler tentou um dia se apoderar do cálice de Cristo – idéia na qual se baseia, justamente, o enredo do filme Indiana Jones e a Última Cruzada.

A primeira aparição do Graal ocorreu por volta de 1190, nas páginas do livro Le Conte du Graal, do francês Chrétien de Troyes. A obra conta a história de Percival, um dos cavaleiros da Távola Redonda. Ele tenta encontrar um recipiente misterioso, cravejado de jóias. O livro não explica a origem nem o significado do estranho objeto – que é descrito no livro como um graal, antiga palavra francesa que indica uma travessa usada em refeições aristocráticas. O mistério caiu no gosto do leitor medieval, e o Graal começou a aparecer em vários outros livros. Embora a maioria dos escritores o descrevesse como um cálice, outros imaginaram o Graal como um prato, uma tigela ou uma jóia. Mas a versão mais célebre está nas páginas do Roman de l’Histoire du Graal, escrito por Robert de Boron entre 1200 e 1210.

Nessa obra, pela primeira vez o Graal foi descrito como o cálice utilizado por Jesus para beber vinho na Última Ceia. O livro também dizia que a taça teria poderes divinos, como exorcizar demônios, fazer a terra florescer, revelar segredos apocalípticos e curar feridas.

No século 19, quando a arqueologia fez suas primeiras grandes descobertas, houve uma explosão de interesse pelo Graal. A partir daí novas versões, das plausíveis às mais alucinadas, começaram a surgir. Em 1818 o erudito austríaco Joseph von Hammer-Purgstall afirmou que o Graal, na verdade, era um símbolo demoníaco adorado pelos templários, a ordem de monges guerreiros perseguida pela Igreja no século 14. Mais tarde, em 1898, um arqueólogo amador encontrou um vaso medieval dentro de um poço na cidade inglesa de Glastonbury – lugar onde, segundo lendas medievais, teria sido enterrado um dos portadores do Graal.

Na década de 1930, escavações arqueológicas na Palestina desenterraram uma magnífica taça de vidro e prata, aparentemente da mesma época em que Jesus viveu. O artefato está exposto no Metropolitan Museum de Nova York. Mas, apesar do entusiasmo que esse e outros achados despertaram, não há evidências garantindo que algum deles realmente tenha passado pelas mãos de Jesus Cristo (muito menos que tenha poderes mágicos).

O que diz Indiana
• Em Indiana Jones e a Ultima Cruzada, o Graal está escondido no Cânion da Lua Crescente, que fica na cidade de Iskenderun (território que, hoje em dia, pertence à Turquia).
• O Graal é descoberto por 3 cavaleiros ingleses. Dois voltam para a Europa. O terceiro bebe do cálice, ganha vida eterna e fica guardando a relíquia – até que Indiana vem bater à sua porta.
• O Graal não é de ouro. É bem simples, feito de madeira (enfatizando a humildade de Cristo). Ele tem poder de cura – isso permite a Indiana salvar a vida do pai, que havia levado um tiro dos nazistas.
• Indiana também bebe do Graal e ganha vida eterna. Mas a imortalidade só vale no Cânion da Lua Crescente. Indy prefere ir embora – e volta a ser um reles mortal.

1. Onde está a Arca Perdida?

Onde está a Arca Perdida?
Símbolo do pacto entre Deus e a humanidade, ela contém as tábuas de pedra onde estão escritos os 10 mandamentos. mas pode estar em Jerusalém ou na África – se é que existe.

Se a arca existir, provavelmente está enterrada em Jerusalém ou na Etiópia. Como ela foi parar lá é uma história que começa há 2 300 anos, num deserto do Oriente Médio, quando Deus faz uma aliança com a humanidade (ou pelo menos parte dela). Foi selado um pacto entre o deus Javé e o povo hebreu, com os 10 Mandamentos: duas tábuas de pedra contendo o código de conduta para as futuras gerações de fiéis. Essas tábuas teriam sido guardadas pelo profeta Moisés numa arca de ouro e madeira, que é considerada uma das maiores relíquias da religião judaica – e, por tabela, do cristianismo. Enigmático e poderoso, o baú ganhou o nome de Arca da Aliança.

De acordo com o Talmude, livro sagrado do judaísmo, a arca teria sido guardada, por volta de 1000 a.C., num grandioso templo construído pelo rei Salomão em Jerusalém – cidade que os hebreus tinham acabado de tomar dos cananeus. A arca teria ficado lá até o ano 586 a.C., quando Jerusalém foi invadida pelos exércitos de Nabucodonosor, rei da Babilônia. O Templo de Salomão foi destruído. Em seu lugar, foi erguido o Segundo Templo. Que também acabou destruído, no ano 71 d.C., pelos romanos, que expulsaram a maior parte dos judeus de lá.

Mesmo com todas essas peripécias, ninguém encontrou a arca, o que leva alguns pesquisadores a acreditar que ela possa estar enterrada. O antigo local do templo fica hoje na metade árabe de Jerusalém. O grande problema é que, para escavar o local, seria necessário danificar o Domo da Rocha – que é um dos santuários muçulmanos mais importantes do mundo. Coisa que, tirando alguns grupos evangélicos extremistas dos EUA, ninguém pensa em fazer. Em suma: mesmo se a arca estiver enterrada nesse lugar, ela dificilmente será recuperada.

A Bíblia conta uma história diferente. Prevendo a invasão dos babilônios, o profeta Jeremias teria escondido a arca num certo monte Nebo, que fica na atual Jordânia. Acontece que, entre os antigos hebreus, “ir para o monte Nebo” era uma expressão proverbial que correspondia a ir para o beleléu. Ou seja: é possível que a arca não exista mais. “O mais provável é que a arca tenha sido derretida pelos babilônios”, escreve o historiador Eric Cline no livro From Eden to Exile, de 2007 (“Do Éden ao Exílio”, por enquanto sem tradução em português).

Isso, é claro, se é que ela algum dia existiu – coisa que está longe de ser um consenso entre os especialistas. “É importante lembrar que o texto bíblico não é factual”, diz o teólogo Rafael Rodrigues da Silva, da PUC-SP, especialista no Velho Testamento. “A arqueologia não deve levar ao pé da letra um texto que não relata os fatos exatamente como aconteceram.”

Seja como for, as buscas continuam. E os caçadores mais modernos preferem olhar para o leste da África. Segundo tradições locais, a arca estaria escondida num recinto secreto da Igreja de Santa Maria de Sião, no vilarejo de Axum, na Etiópia. A caixa de Javé teria sido levada à África em 950 a.C. por Menelik, filho do rei Salomão e da rainha de Sabá – um antigo Estado que realmente existiu naquela região. Em 2008, arqueólogos alemães desenterraram em Axum um suntuoso palácio construído no século 10 a.C., suposta morada de Menelik e seus descendentes. Mas não encontraram a arca.

Arma de guerra
Os 10 Mandamentos teriam sido entregues a Moisés quando os hebreus fugiam do antigo Egito, onde foram escravos, rumo a Canaã – terra descrita como presente divino aos judeus e que hoje corresponde a Israel, Palestina e partes do Líbano. Isso teria ocorrido por volta de 1300 a.C. Quando os hebreus chegaram à Terra Prometida, entraram em guerra com os habitantes da região . E a arca era levada para as batalhas, pois acreditava-se que sua simples presença seria capaz de garantir a vitória dos judeus.

A Bíblia descreve em detalhes as instruções dadas por Deus para a construção da arca. “Assim falou Javé a Moisés: ‘Farás uma arca com madeira de acácia: seu comprimento será de 2 côvados e meio; sua largura, de 1 côvado e meio; sua altura, também de 1 côvado e meio. Tu a revestirás com ouro puro por dentro e por fora’.” Em medidas modernas, isso dá 1,1 metro de comprimento por 66 centímetros de altura e largura. Ainda segundo a Bíblia, dois querubins de ouro foram esculpidos na tampa da arca, com os rostos inclinados e as asas esticadas para a frente. Ela era guardada num altar portátil, do qual apenas um grupo de sacerdotes (conhecidos como levitas) era autorizado a se aproximar. Se um pecador ousasse tocar o recipiente, a ira do Senhor o fulminaria no ato.

A arca foi capturada por um povo inimigo, os filisteus, por volta de 1200 a.C. Mas, logo após o roubo, o talismã divino teria mostrado seu poder: ídolos pagãos amanheciam com as cabeças cortadas, ratos invadiam as casas e os azarados filisteus eram assolados por temíveis hemorroidas. Maldições lançadas pelo poder mágico da arca.

O que diz Indiana
• Em Caçadores da Arca Perdida, que é o primeiro filme da série, Indiana precisa impedir que a Arca da Aliança caia nas mãos de Hitler – que pretende usá-la para conquistar o mundo.
• A arca está num local chamado Poço dos Espíritos. Para encontrá-lo, Indy usa o Cetro de Rá (que, quando posicionado diante de uma miniatura da cidade de Tânis, revela a localização do poço).
• A arca é capturada pelos nazistas. Eles resolvem abri-la, mas só encontram pó. Essa ousadia desencadeia a ira divina, que envia uma fumaça mortal e elimina de uma só vez todos os vilões do filme.
• Após recuperar a arca, Indiana quer levá-la para um museu. Mas, no fim das contas, a relíquia superpoderosa vai parar nos depósitos do Exército americano, onde é tratada como segredo de Estado.

Para saber mais

From Eden to Exile: Unraveling Mysteries of the Bible; Eric Cline. Editora National Geographic, 2007.
El Mito de El Dorado; Demetrio Ramos. Istmo, 1998.

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