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Livro da Semana: “Revolução das Plantas”, de Stefano Mancuso

Neste manifesto verde, entenda por que é uma boa ideia inspirar a arquitetura, a política e até exploração de outros planetas na biologia das plantas.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 1 ago 2020, 22h48 - Publicado em 31 jul 2020, 17h44

“Revolução das Plantas” | clique aqui para comprarLivro da Semana: “Revolução das Plantas”, de Stefano Mancuso

Animais e plantas são opostos complementares. Os animais se movem, as plantas ficam enraizadas. Os animais liberam gás carbônico, as plantas o absorvem. Os animais precisam buscar comida, as plantas fabricam a própria comida. Os animais têm órgãos especializados em cada atividade necessária à vida, as plantas são construídas de maneira modular. Os animais são indivíduos – no sentido de que não podem ser divididos –, as plantas se reproduzem por brotamento. Corte um animal ao meio e ele morre – a exceção honrosa são as planárias –, corte uma planta ao meio e, em muitos casos, ele se tornará duas.

Graças a essas diferenças, delegamos às plantas um papel paralelo na hierarquia da vida. As plantas não possuem cérebro ou músculos. Não possuem sequer estruturas comparáveis à cabeça ou às mãos. Elas são outra coisa – simples assim. Por sermos incapazes de estabelecer uma relação anatômica entre os corpos das plantas e os nossos corpos, nos tornamos incapazes de pressupor que elas tenham capacidades parecidas com as nossas. Que elas possam manifestar formas particulares de memória, por exemplo.

Estamos acostumados a pensar na memória não só pelo que ela é – a capacidade de reter dados sobre passado para guiar ações no futuro –, mas pelo seu suporte: um bolo de neurônios chamado cérebro. Se não rola no cérebro, não é memória. Tanto é que os botânicos forjaram meia dúzia de termos para as manifestações de memória das plantas: aclimatação, priming, condicionamento etc. Esse palavreado todo demonstra ser inconcebível, para nós, que um vegetal possa aprender com a experiência.

Mesmo assim, plantas da espécie Mimosa pudica – que fecham suas folhinhas imediatamente após serem expostas a um estímulo estressante, como serem transportadas em uma rua esburacada – aprendem que o estímulo não é ameaçador após algum tempo. E lembram disso por até 40 dias: coloque-as no carro de novo e elas se manterão abertas. Se isso não é memória, o que é?

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Em Revolução das Plantas, de Stefano Mancuso – lançado recentemente no Brasil pela editora Ubu – o biólogo italiano mostra que, olhando para as plantas de outro ângulos, elas podem não apenas se revelar seres extremamente sofisticadas, mas também oferecer soluções para problemas humanos que a perspectiva animal ainda não conseguiu resolver. O livro é um manifesto por um mundo inspirado na maneira como os vegetais fazem as coisas.

Um mundo em que a arquitetura de locais áridos se inspire nas duas folhas da Welwitschia mirabilis – a planta que vive mil anos no árido deserto da Namíbia. Em que robôs “plantoides”, em vez de humanoides, deem os primeiros passos na colonização de outros planetas – da mesma forma que as verdinhas terráqueas foram as pioneiras na transição da água para a terra firme. Em que sistemas de governança corporativa (ou até o próprio aparato burocrático do Estado) sejam descentralizados como uma árvore, e não dependentes de uma hierarquia com cabeça, ombro, joelho e pé.

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