Loki: veja o que você precisa saber antes de assistir à série
Batemos um papo com Michael Waldron, o criador da série que chegou nesta quarta (9) ao Disney+. Nova produção da Marvel mergulha em conceitos como multiverso e linhas temporais alternativas.
12 anos atrás, em maio de 2009, corria a notícia de que a Marvel, que dava os primeiros passos para construir o seu Universo Cinematográfico (o MCU), havia escolhido dois completos desconhecidos para estrelar Thor (2011): o australiano Chris Hemsworth como o deus do trovão e o britânico Tom Hiddleston como o seu irmão, Loki.
A ressalva de alguns sobre a decisão do estúdio caiu por terra rapidamente. Ok, Thor não é exatamente um consenso entre os fãs, mas é inegável que o filme apresentou dois dos personagens mais importantes (e carismáticos) da Marvel – sobretudo Loki, que já apareceu em seis filmes do MCU e segue como um dos mais amados vilões da franquia. Ainda que ele quase tenha destruído a Terra.
Não à toa (e, aqui, já peço desculpas antecipadas por possíveis spoilers do MCU), todos se chocaram logo no começo de Guerra Infinita (2018), quando Thanos matou Loki com a facilidade de quem aperta um tubo de pasta de dente. Seria o fim do deus da trapaça, não fosse por uma divertida solução do roteiro de Ultimato (2019): em um deslize dos Vingadores, Loki rouba o Tesseract (uma das Joias do Infinito) – e foge direto para a sua própria série.
Loki, que estreou nesta quarta (9), é a terceira série da Marvel no Disney +, depois de WandaVision e Falcão e o Soldado Invernal. Em seis episódios, a produção vai mergulhar fundo em conceitos como multiverso e linhas temporais alternativas – algo apresentado em Ultimato e que promete ser o motor do futuro da Marvel. É um grande desafio, mas, ao que parece, as coisas estão em boas mãos.
O maestro da série
Michael Waldron é um roteirista americano de 34 anos. Durante boa parte da carreira, ele trabalhou como assistente de produção – o que, em Hollywood, costuma ser sinônimo para “faz-tudo”. Mas, em pouco tempo, ele saiu da equipe de uma sitcom, virou produtor-executivo de uma animação de sucesso, ganhou um Emmy e, agora, é um dos responsáveis por ditar os rumos do MCU.
Vamos por partes. Em 2014, Waldron entrou para a equipe de Rick e Morty, o desenho que mistura ficção científica com doses cavalares de humor politicamente incorreto criado por Dan Harmon e Justin Roiland. Na mesma época, descolou trabalho em outro projeto de Harmon: Community, a série de comédia de onde saíram os irmãos Joe e Anthony Russo, os diretores de Capitão América: O Soldado Invernal (2014), Guerra Civil (2016) e os dois últimos Vingadores.
Waldron seguiu por alguns anos ajudando na produção e na sala de roteiristas de ambas as séries. As coisas começaram a mudar em 2018, quando as suas sugestões de piadas para a quarta temporada de Rick e Morty foram escolhidas em um “mini-concurso” às cegas promovido por Harmon. Na temporada seguinte, Michael virou um dos showrunners do desenho (em 2020, ele e a equipe levaram o Emmy de Melhor Programa Animado).
Em 2018, uma proposta de roteiro de Waldron foi parar na edição daquele ano da Black List (“Lista Negra”, em português), que reúne os melhores roteiros não-aproveitados pelos estúdios de Hollywood. Não é pouca coisa: filmes premiados com o Oscar, como Argo, O Discurso do Rei e Spotlight saíram dessa lista.
O projeto de Michael, intitulado Worst Guy of All Time (“O Pior Cara de Todos os Tempos”), é uma aventura de viagem no tempo que mistura romance com sci-fi. Nunca saiu do papel, mas chamou a atenção de Kevin Feige – o presidente do Marvel Studios.
Todos os caminhos o levaram à Marvel, e o convite para Loki aconteceu em 2019. E que fique claro: Michael não nunca foi alguém apaixonado por quadrinhos. “O meu amor pelo MCU nasceu com os filmes, mesmo”, falou à revista Vanity Fair, no começo do mês. De fato, o escritor cresceu como fã de Star Wars e wrestling – a forma de luta de onde saíram astros como The Rock, John Cena e Hulk Hogan.
“O wrestling foi a primeira ‘mitologia’ pela qual eu me apaixonei”, disse Michael em entrevista à Super. Isso signfica que haverá algum easter egg ou referência em Loki? “Não quero estragar a experiência de quem irá assistir com um spoiler desses. É melhor acompanhar e ficar ligado. Quem sabe.”
O mundo das lutas pode esperar. O que importa, agora, são as viagens no tempo de Loki. Michael acumulou experiência no tema nos anos em que trabalhou com Rick e Morty, mas a lista de referências é extensa. “Eu amo De Volta para o Futuro e O Exterminador do Futuro, mas essas são respostas óbvias. Gosto muito de como Looper: Assassinos do Futuro abordou o assunto.”
No MCU, a viagem no tempo foi apresentada em Ultimato por meio do Reino Quântico, conceito apresentado em Homem-Formiga. Em Loki, o desafio foi estabelecer, de uma vez, as regrais das viagens temporais. Motivo: a série girará em torno da TVA (Autoridade de Variância do Tempo), a agência que regula e monitora o multiverso.
“O exercício de nós, roteiristas de Loki, foi se colocar no lugar da TVA”, brincou Michael sobre a experiência de transformar excitantes viagens no tempo como algo burocrático (quem assistiu à Umbrella Academy, da Netflix, viu algo similar). “O nosso principal objetivo foi criar uma regra de viagem no tempo que fosse lógica e que pudesse ser acompanhada ao longo das semanas”, explicou. “Se for algo muito confuso ou cheio de detalhes, as pessoas podem se perder entre um episódio e outro.”
Quem assina a direção de Loki é Kate Herron, que dirigiu alguns episódios de Sex Education, da Netflix. Michael sequer conseguiu estar no set durante as gravações, já que Kevin Feige o chamou para escrever Doutor Estranho no Multiverso da Loucura. O próximo filme do Doutor Estranho será dirigido por Sam Raimi (da trilogia original do Homem-Aranha), terá ligação com WandaVision e abordará, bem, o multiverso.
Achou muito? Waldron também está envolvido em um futuro projeto ainda sem nome de Star Wars – que será comandado por Feige. Talvez seja ele, e não Loki, que precisará viajar pelo tempo.
Guia de viagem (no tempo)
Abaixo, reunimos cinco coisas que você precisa saber antes de dar play. Confira:
Não é a mamãe
Atenção: o Loki que se redimiu nos filmes do Thor foi morto por Thanos em Guerra Infinita (2018). O protagonista da série é um “variante”, que criou uma linha temporal alternativa ao fugir após um deslize dos Vingadores em Ultimato (2019).
Polícia temporal
Por escapar com o Tesseract (uma das Joias do Infinito), Loki foi capturado pela TVA, agência que monitora o multiverso para evitar desordens cronológicas. A sua base de operações fica na Zona do Tempo Nulo, fora dos limites do espaço-tempo.
O Tesseract, vale lembrar, foi apresentado ainda no primeiro filme do Capitão América, em 2011. Ela é a Joia do Espaço – quem a controla consegue viajar para qualquer lugar do universo. No MCU, a sua energia também foi usada para fabricar armas.
Cabeças gigantes
Criados por um antigo diretor da TVA, os Guardiões do Tempo são três entidades (Ast, Vort e Zanth) com poderes de manipulação. Nos quadrinhos, contudo, surgiram como vilões – e tentaram separar os Vingadores.
Levantando a bola
Uma pedra no sapato da TVA é Kang, o Conquistador, um viajante do tempo de um futuro alternativo – e que estará no próximo Homem-Formiga. Rival dos Vingadores e do Quarteto Fantástico, ele pode ser o principal vilão dessa nova fase da Marvel.
Novos personagens
Owen Wilson interpreta Mobius, um agente da TVA. Segundo Michael, a relação entre ele e Loki foi inspirada no filme Prenda-me Se For Capaz (2002), de Steven Spielberg. Na história (baseada em fatos reais), o agente Carl Hanratty (Tom Hanks) vive atrás do falsificador Frank Abagnale Jr. (Leonardo DiCaprio). No fim, eles constroem uma relação singular, e Frank passa a prestar consultoria para Carl.
Já a atriz Gugu Mbatha-Raw é a guerreira Ravonna Renslayer, que apareceu pela primeira vez nas histórias da Marvel em 1965. Nas HQs, ela é uma princesa do século 41 que vive uma relação de amor e ódio com Kang.