O filme “Conclave” é fiel à votação real? Entenda como produção foi feita
O filme acerta em muitos detalhes, especialmente na ambientação do Vaticano, mas toma algumas liberdades criativas sobre as eleições papais.

Habemus papam! Nesta quinta-feira (08), os cardeais da Igreja Católica encerraram seu conclave e escolheram o novo papa, Leão 14. Robert Prevost tornou-se cardeal em 2023 e é o primeiro pontífice nascido nos Estados Unidos.
As eleições do novo Papa são secretas, protegidas a sete chaves na Capela Sistina. O conclave de 2025 durou dois dias, o mesmo tempo dos dois anteriores. Entre 7 e 8 de maio, 133 cardeais ficaram confinados no Vaticano para eleger o novo bispo de Roma. Eles não tinham contato com o mundo exterior para não serem influenciados nas votações, seguindo uma tradição que começou no século 13, logo depois do conclave mais longo da história.
Não dá para saber muito sobre o que acontece entre as quatro paredes da Capela Sistina, mas dá para ter uma ideia por informações oficiais do Vaticano e relatos de pesquisadores vaticanistas que conhecem e entrevistam os cardeais.
Por um milagre de timing, também dá para assistir ao filme Conclave, indicado ao Oscar de 2024. A obra trata de uma eleição papal fictícia, e foi lançada poucos meses antes da morte de Francisco e do estabelecimento de um novo conclave. Mas será que a produção, dirigida pelo suíço Edward Berger, é confiável?
Quais os acertos do filme?
O filme sobre a eleição de um novo papa é baseado num romance de 2016 chamado Conclave, escrito pelo escritor e ex-jornalista britânico Robert Harris. Não é uma história real: nenhum dos cardeais do filme existe. Mas a inspiração foi bem real.
Harris começou a se interessar por política papal acompanhando a cobertura jornalística do conclave de 2013, que elegeu Francisco. Ele é especialista em romances históricos, com obras sobre a Segunda Guerra Mundial e o Império Romano, então já está acostumado com pesquisa extensiva para escrever seus livros.
Para ajudá-lo nesse processo, Harris consultou o cardeal britânico Cormac Murphy-O’Connor, que morreu em 2017. Quando o cardeal leu o livro, ele elogiou a precisão e a fidelidade do autor. O roteirista Peter Straughan também disse que se encontrou com um cardeal para discutir a logística de um conclave, além de ter participado de um tour privado do Vaticano.
Esse realismo do romance continua no filme. Filmado em Roma, Conclave recriou vários ambientes do Vaticano nos estúdios da Cinecittà, complexo de estúdios onde Federico Fellini gravou vários de seus clássicos.
A Capela Sistina foi recriada com cuidado pelos designers do filme, que só tomaram algumas liberdades artísticas na Casa Santa Marta, onde os cardeais ficam hospedados. Os estilistas do filme visitaram a Gammarelli e a Tirelli Costumi, alfaiatarias especializadas em trajes litúrgicos, além de pesquisar por roupas em vários museus de Roma.
O filme acerta em muitos dos fatos sobre a eleição papal. Na verdade, o site de notícias Politico relatou que alguns cardeais de primeira viagem assistiram Conclave nos cinemas para se preparar para o evento real.
No cinema, o conclave dura três dias, enquanto a votação confidencial que elegeu os últimos três papas durou dois. Na produção, os cardeais falam que um conclave muito longo pode comunicar fraqueza na Igreja. Essa é uma preocupação bem real compartilhada pelos eleitores papais do Vaticano. A construção de coalizões em torno de ideias em comum também acontece no conclave real, de acordo com relatos dos cardeais.
Todo o processo de votação dentro da Capela Sistina também é muito parecido com a realidade, desde as palavras que os cardeais falam, a urna em que eles depositam o voto e até o papel em que eles escrevem o nome do candidato favorito. Até os fornos onde os votos são queimados e o cartucho de fumaça branca ou preta é ativado são iguais. O filme também mostra a destruição do anel do papa, tradição milenar da Igreja.
Conclave acerta em vários detalhes, mas erra – ou toma liberdades criativas – em alguns. As mesas dos cardeais na Capela Sistina são dispostas de uma forma diferente na vida real, por exemplo.
Algumas coisas são mais que detalhes: um cardeal como Lawrence (interpretado por Ralph Fiennes) nunca poderia quebrar todas as regras do conclave que ele quebra. Outra questão é que um cardeal nomeado in pectore (ou seja, em segredo) não poderia participar da votação, como acontece com Benítez (Carlos Diehz).
A parte mais improvável do filme, claro, é sua reviravolta final, que incomodou alguns católicos conservadores. Sem spoilers aqui, mas vale a pena assistir pela fidelidade ao processo real, pelas ótimas atuações e pelo plot twist. Conclave pode ser assistido no Amazon Prime Video.