Os filmes favoritos da redação em 2016
De Rogue One a filme dinamarquês, de produção-pipoca da Marvel a suspense cult escondido na Netflix: estes são os nossos eleitos
Nossa redação é multifacetada, como toda boa redação. Nossos gostos cinematográficos, então, variam bem – a ponto de ninguém aqui concordar sobre quais foram os melhores filmes do ano. Mas taí um caos bem vindo, porque ele acabou gerando uma retrospectiva especial, recheada de idiossincrasias – e, mais importante, cheia de recomendações bacanas. Veja aqui, então, quais foram os filmes favoritos aqui da equipe.
Os favoritos do FELIPE GERMANO (repórter)
1) Procurando Dory (Finding Dory, Andrew Stanton)
“Que a Pixar é incrível não é novidade pra ninguém. Os filmes do estúdio (com exceção dos dois Carros, que são só ruins mesmo) conseguem atingir o difícil mix entre uma bela história para crianças e uma trama instigante para adultos. Wall-e fala sobre nosso acúmulo de lixo e sedentarismo, Up discute morte e animais em extinção, Procurando Nemo fala sobre deficiência física. E Dory vai além: é um longa sobre transtornos mentais. Com um tema tão delicado em mãos, o diretor Andrew Stanton consegue inserir no filme personagens com transtornos pós-traumáticos, problemas sérios de memória e baixa autoestima – sem assustar as crianças. É melhor que Nemo. Filmão.” (FG)
Nota no IMDB: 7,5
2) Capitão América: Guerra Civil (Captain America: Civil War, Anthony Russo, Joe Russo)
“Quando em 2008 a Marvel Studios soltou seu primeiro longa, Homem de Ferro, eles tiveram uma sacada: os personagens de todos os seus filmes conviveriam em um mesmo universo. Baita ideia. Um filme acabou puxando o outro pra cima, e uma grande trama que costurava todos os longas começou a ser construída – o que gerou US$ 10 bilhões de bilheteria em 8 anos. Em 2016, o estúdio lançou seu 13º filme, Guerra Civil, que representa o ápice desse papo todo. O filme tem bastante tensão política, envolve a ONU, traz debates reais sobre os limites da segurança, da vigilância e do poder governamental. É um clássico de espiões, com quebradeiras de pau entre os momentos de tensão psicológica. De bônus, Civil War ainda apresenta o novo Homem-Aranha dos cinemas (o melhor até agora).”
Nota no IMDB: 8,0
Os favoritos do BRUNO GARATTONI (editor):
1) A Comunidade (Kollektivet, Thomas Vinterberg)
“Um grupo de hippies decide morar junto e formar uma comuna na Copenhague dos anos 1970. Mas a realidade se impõe ao idealismo, as relações mudam, e o inevitável acontece: a harmonia e o amor livre do começo se transformam em brigas e traições, com a casa tomada pela tensão. Percebendo o problema, todos decidem se reunir e agir como adultos razoáveis e racionais – e aí as coisas ficam piores ainda. Do mesmo diretor dos sensacionais A Caça e Festa de Família” (BG)
Nota no IMDB: 6,6
2) Demônio de Neon (The Neon Demon, Nicolas Refn)
“Jesse tem 16 anos e vai à cidade grande perseguir o sonho de ser modelo. É uma menina doce, inocente, que ao ficar famosa se torna –ou se revela– egoísta e cruel. A história em si já é interessante, porque investiga um dos grandes dilemas da filosofia (o ser humano nasce bom e é corrompido pelo mundo, ou traz o mal dentro de si?), mas o melhor é como este filme a conta. Dirigido pelo dinamarquês Nicolas Refn (autor de Drive e Só Deus Perdoa), Demônio de Neon é um verdadeiro bombardeio sensorial, com sequências que fariam Stanley Kubrick, o mestre das obras-primas visuais, arregalar os olhos. Se você gosta de filmes bem explicados, onde tudo é expresso verbalmente, Demônio não é para você. Se está disposto a ver um filme diferente, conduzido pela imagem, será recompensado com uma experiência inesquecível – e a revelação do verdadeiro significado do enigmático demônio de neon. Contém cenas fortes.” (BG)
Nota no IMDB: 6,3
O favorito do MARCEL NADALE (editor-chefe da MUNDO ESTRANHO)
O Convite (The Invitation, Karyn Kusama)
“É difícil recomendar O Convite sem estragar parte da surpresa. Até seu gênero é transitório: começa num estilo, mas logo você descobre que entrou numa (boa) cilada e está vendo um filme de outro. O inesperado (algo que a máquina de marketing de Hollywood tem matado a saraivada de balas em qualquer trailer) só é preservado porque o filme é relativamente pequeno: um elenco praticamente desconhecido, em um único ambiente. Especificamente, a casa de uma das protagonistas, que convida seu ex-marido e outros amigos para um jantar. Ao longo dessa única noite de tensão, você vai descobrindo que, parafraseando aquela citação famosa, não há jantar grátis. (E por falar em grana: O Convite não veio para os cinemas brasileiros, mas está disponível na Netflix.). Para finalizar, um bônus: num ano em que tanto se discutiu sexismo em Hollywood, este filme é o único desta lista da SUPER dirigido por uma mulher – a talentosa Karyn Kusima, que despontou com o indie Boa de Briga, em 2000, e teve que batalhar por seis anos para conseguir tirar O Convite do papel.” (MN)
Nota no IMDB: 6,7
O favorito do ALEXANDRE VERSIGNASSI (diretor de redação) e da KARIN HUECK (editora)
A Chegada (The Arrival, Denis Villeneuve)
“É o melhor filme sobre contato com alienígenas desde Contato (1995), que era o melhor desde Contatos Imediatos (1977). Este, além de não ter a palavra “contato” no título, tem outro trunfo no quesito originalidade: preocupa-se em deixar claro que você precisa emocionar seu interlocutor se quiser realmente se comunicar com ele. Se você for um alienígena e tiver de conversar com humanos, mais ainda. Legal que o filme passa essa mensagem sobre a emoção usando duas das maiores ferramentas da razão: a linguística e a física einsteiniana – tanto que os protagonistas são justamente uma linguista e um físico. Mais do que ficção científica de primeira linha A Chegada, é um filme de arte. Uma pintura a óleo que usa a física como tela e a linguística como óleo. E um baita presente para quem é apaixonado por essas duas ciências, que nem eu.
P.S. (só para quem assistiu): a tal palavra em sânscrito para “guerra”, que aparece no comecinho do filme, é “Gavisti”, e significa mesmo “desejo por mais vacas”. Mas essa é só uma das palavras para “guerra”. Em proto-indo europeu, a língua que teria dado origem tanto ao sânscrito como às línguas europeias, a transliteração do termo para “guerra” é “wers” – uma onomatopeia de grito que teria dado origem a verres (latim), guerre, guerra e, nas línguas germânicas, war. Ou seja: temos, sim, uma miríade de culturas, e há muito o que uma aprender com a outra, mas no fundo somos todos o mesmo bicho.” (AV)
Nota no IMDB: 8,3
O favorito do ALEXANDRE CARVALHO (colaborador e revisor da SUPER)
Café Society (Woody Allen)
“Um dos grandes chavões do cinema diz isto: os filmes mais preguiçosos de Woody Allen são melhores que 90% do que está em cartaz. Então pode considerar Café Society melhor que 100%. Em um de seus trabalhos mais inspirados dos últimos 20 anos, Allen faz comédia agridoce de um triângulo amoroso cheio de reviravoltas, vivido no glamour e na vaidade da Hollywood dos anos 30 – tudo lindamente iluminado na fotografia de Vittorio Storaro. Um filme que faz pensar sobre nossas escolhas de vida, e principalmente em tudo que deixamos para trás por causa delas.” (AC)
Nota no IMDB: 6,7
O favorito da PAMELA CARBONARI (repórter)
Mãe Só Há Uma (Ana Muylaert)
“Se em 2015 Anna Muylaert colocou o dedo numa ferida do seu próprio público (qualquer pessoa que tenha empregada doméstica ou diarista) com Que horas ela Volta, neste ano ela não deixou por menos. E surpreendeu mais ainda. Mãe Só Há uma é a história de Pierre, um adolescente que descobre que sua mãe o sequestrou na maternidade e se vê obrigado a trocar de nome, de roupas, de casa e também a chamar outra mulher de mãe (atenção redobrada à atuação de Daniela Nefussi). Mas em meio a isso, Pierre começa a questionar sua sexualidade, experimenta as pluralidades dessa incerteza, se testa (transa com mulheres, usa calcinha, passa maquiagem, sente tesão por homens) e testa os outros que, até então, só queriam saber onde ele esteve durante este tempo todo. Se engana quem achar que é um filme de reencontros ou despedidas, Mãe só há uma é sobre descobertas. Respire se puder.” (PC)
Nota no IMDB: 7,1
Os favoritos da HELÔ D’ÂNGELO (repórter)
1) Capitão Fantástico (Captain Fantastic, Matt Ross)
“Se você acha que crianças são frágeis e burras por natureza, pense de novo: com um pouco de esforço, elas podem se tornar muito mais inteligentes e fortes do que você, leitor, aí do alto da sua experiência de vida. Em Captain Fantastic, Viggo Mortensen interpreta Ben, um pai que resolve criar os seis filhos no mato, com uma rotina de caça, treinos físicos e MUITA leitura (nível: uma criança de oito anos lendo sobre física nuclear e geopolítica da Guerra Fria), amarrando tudo com discussões de nível quase superior e costumes bem peculiares – só para dar uma ideia, a criançada não comemora o natal, e sim o aniversário do linguista e filósofo Noam Chomsky, e ganha facas de caça de presente. Mas, quando a mãe da família morre, o pai e as crias viajam (em um ônibus chamado Steve) para o mundo “real”. Logo de saída, pai e filhos acabam sentindo na pele que são diferentes dos parentes hipócritas, acomodados e ignorantes que insistem que Ben coloque a criançada na escola e viva uma vida de gente “normal” – ainda que os filhos insistam que gostam do modo de vida alternativo criado pelos pais. Esse filme vai fazer você questionar sua vida inteira, então, prepare-se.” (HD)
Nota no IMDB: 8,0
2) A Incrível Aventura de Rick Baker (Hunt for the Wilderpeople, Taika Waititi)
“Dá para encontrar amizade em qualquer lugar. Até numa fazenda longe de tudo na Nova Zelândia, entre um menino gordinho rebelde e um velho rabugento estilo Crocodilo Dundee. Em Hunt for the Wilderpeople, Taika Waititi (diretor do próximo filme de Thor e Hulk) conta a história de Ricky, um adolescente órfão que já foi expulso de dezenas de lares adotivos por ser muito “problemático”, e Hec, um velho que acaba adotando o garoto porque a esposa, Bella, era estéril e queria filhos. Quando Bella morre, o conselho tutelar resolve tirar Ricky da casa – e aí, Hec e o moleque fogem juntos para o mato e acabam se tornando criminosos procurados famosos no país inteiro. A partir daí, o filme se torna uma tiração de sarro dos filmes de perseguição americanos, com a assistente social como A Maior Vilã Que Você Respeita – só que com o humor ferino de Hec e Ricky (e com os cenários incríveis da Nova Zelândia). Para chorar de rir e rir de chorar.” (HD)
Nota no IMDB: 7,9
3) Um Cadáver para Sobreviver (Swiss Army Man, Daniel Kwan, Daniel Scheinert)
“Um náufrago está há meses em uma ilha, prestes a se matar, mas percebe que o mar trouxe o cadáver de um homem. Só que não é um cadáver comum: ele tem poderes mágicos nojentos, tipo soltar água potável pela boca, ter uma ereção que sempre aponta para o norte e soltar gases da decomposição em volume suficiente para mover um barco. Swiss Army Man significa, literalmente, “canivete suíço humano”. Falando assim parece ser um filme sem pé nem cabeça, mas acredite: é uma investigação sobre loucura, vida, morte, amor e frustrações. Não se convenceu? Explico: é que o cadáver (interpretado por Daniel Hadcliffe) começa, aos poucos, a voltar à vida, e cabe ao náufrago (Paul Dano) explicar tudo – desde o que é o amor até o que é a morte para o novo amigo. Só que tem um detalhe: não dá para entender se aquilo é real ou parte de um delírio do náufrago moribundo. Esse filme vai desgraçar sua cabeça, mas é lindo… De certa forma.” (HD)
Nota no IMDB: 7,9
O favorito do FABRÍCIO MIRANDA (diretor de arte) e da ANA CAROLINA LEONARDI (repórter):
Rogue One – Uma História Star Wars (Rogue One, Gareth Edwards)
“Nunca tive muita paciência com os Rebeldes do universo de Star Wars. Eles se auto-intitulavam “rebeldes” mas não se comportavam como tal. Sempre bonzinhos demais, condescendentes demais, frágeis demais. O ícone mais marcante da Rebelião era uma princesa da elite galáctica que se aventurava por aí sobre a proteção do Senado. Foram precisos quase 40 anos e oito filmes para os Rebeldes empolgarem de fato. E essa é a magia por trás de Rogue One. Os acontecimentos ali se passam numa cronologia encaixada entre o Episódio 3 (2005) e o 4 (o filme original, de 1977) – e mostram como os rebeldes conseguiram os planos secretos para destruir a Estrela da Morte. Retratados como assassinos, espiões e terroristas, os rebeldes mostram pela primeira vez seu lado mais humano (e perverso), e isso acaba tornando Rogue One um dos melhores filmes da série toda. Que a força esteja com você.” (FM)
Nota no IMDB: 8,2
O favorito do FLÁVIO PESSOA (designer e savant)
Destino Especial (Midnight Special, Jeff Nichols)