Emerson Gasperin
O cantor sofreu um acidente de carro e um sósia tornou seu lugar nos Beatles. Paul morreu, mas a boa notícia é que Elvis Presley está vivo, assim como Jim Morrison. Não dá para acreditar? Pois saiba que o mundo da música tem mais teorias conspiratórias do que bandas cover
Pouca gente sabe, mas a aparição de bandas brasileiras nos comerciais de uma marca de refrigerante faz parte de um plano para que os artistas estrangeiros conquistem o mercado musical no país. Hoje, de cada quatro discos vendidos no Brasil, três são em português. A estratégia para reverter esse quadro é simples. Ao contratar nomes identificados com a molecada, a campanha visa destruir a reputação do rock nacional – por fazer propaganda, e logo de quê! – perante os adolescentes, que passariam a consumir os lançamentos dos grupos americanos. O vocalista do Los Hermanos, Marcelo Camelo, descobriu o esquema e ia botar a boca no mundo até ser agredido por Chorão, do Charlie Brown Jr., uma das bandas seduzidas pela oferta publicitária.
Quando a intimidação física não funciona, o complô parte para métodos mais sutis, como a desmoralização (o show de Marcelo D2 na Daslu), o controle mental (a saída de Max Cavalera do Sepultura; a conversão evangélica de Rodolfo, ex-Raimundos) ou a eliminação sumária (a queda do avião que levava os Mamonas Assassinas; a batida do carro de Chico Science). Donos de estilos e públicos diferentes, os alvos apresentavam pelo menos algo em comum: todos ameaçavam a hegemonia imperialista sobre a cultura brasileira. Por trás dessas ações (e de outras ainda não comprovadas) estão a CIA, o complexo industrial militar, os Illuminati, a maçonaria, o Priorato de Sião, o Vaticano e Silvio Santos, os artífices da Nova Ordem Mundial. Parece absurdo. E é. Ou não, se você acredita que Elvis Presley está vivo e Paul McCartney, morto. Na música pop, os conspiradores estão sempre à espreita para desmentir fatalidades, desbaratar conexões sórdidas ou, na falta de evidências mais apropriadas, revelar significados ocultos nas obras dos artistas (veja quadro na página 71).
PÉ NA COVA
Enquanto o Rei do Rock anda surpreendendo velhinhas em lojas de conveniência, o que sobrou do Beatle apodrece em uma cova rasa nos fundos do Cavern Club, em Liverpool. Vítima de um acidente de trânsito em novembro de 1966, McCartney foi substituído por um sósia para que a banda prosseguisse sua escalada rumo ao estrelato. John Lennon, George Harrison e Ringo Starr agiram como cúmplices, anunciando em seguida que o quarteto não faria mais shows. Assim, dificultariam que o novo membro (Billy Shears ou George Campbell, dependendo da fonte consultada) fosse desmascarado.
Embora coniventes com a tramóia, os três remanescentes trataram de espalhar pistas que denunciam a farsa nos álbuns seguintes do “quarteto”.
A começar pela fotomontagem da capa de Sgt. Pepper·s. Em cima da cabeça de McCartney, uma mão acena em um gesto de despedida. O trabalho é assinado por Beatles, e não The Beatles, como seria usual, porque aquela não era a formação original. No encarte, em duas das várias fotos com o grupo empertigado como a Banda do Sargento Pimenta, McCartney está de costas.
A coisa não pára por aí. Em Abbey Road McCartney atravessa a rua com o passo trocado e está descalço (algumas religiões enterram seus mortos desse jeito). Um fusca (beetle, em inglês) carrega a placa “28 IF”, ou seja, ele completaria 28 anos se (if) não tivesse morrido aos 27. Na calçada oposta, um rabecão espera por sua encomenda. Dezenas de outras dicas perambulam pela Internet. Na rede aprende-se também que a morte do beatle nasceu de um trote de um radialista. A comoção dos fãs encarregou-se do resto, multiplicando-se a ponto de obrigar McCartney a convocar uma entrevista coletiva em 1969 para provar que estava vivo.
A paranóia avançou pela contracultura dos anos 60, época de transformações comportamentais, estéticas e políticas – bancadas pela CIA. O LSD caiu como uma luva em seu programa MK Ultra, que incluía hipnose, choque elétrico e lobotomia para controlar corações e mentes. Bastou distribuir a droga pelos Estados Unidos para fomentar a surgimento de hippies mais ligados nas viagens de ácido lisérgico do que nos efeitos da Guerra Fria. A loucura generalizada era parte das atribuições da Operação Caos, urdida para conter os artistas que não rezavam na cartilha dos elementares valores americanos.
Entre 1968 e 1976, o conluio transformou inúmeras estrelas do movimento em cadáveres. No atestado de óbito, podiam constar desde causas prosaicas (o sanduíche de presunto entalado na garganta de Mama Cass Elliot, dos The Mamas & The Papas) até decorrências de overdose, como afogamento na piscina (Brian Jones, dos Rolling Stones) e asfixia por vômito (Janis Joplin, Jimi Hendrix). O líder dos Doors, Jim Morrison, foi mais ardiloso. Na iminência de engrossar a lista dos assassinados pela CIA, simulou a própria morte em 1971, em Paris, e tornou-se um espião internacional. Somente sua companheira Pamela Courson e o médico francês Mar Vasille viram seu corpo. A viúva morreu em 1974 (de overdose!). O doutor? Não fala sobre o assunto.
FOI SUICÍDIO?
É desconhecida a continuidade da Operação Caos durante as décadas seguintes, apesar de pairarem suspeitas a respeito do suicídio de Kurt Cobain, em 1994. O astro do grunge não conseguiria apontar um revólver para a própria cabeça e apertar o gatilho se tivesse injetado 1,25 mg (três vezes mais do que o habitual) de heroína na veia. A vilã teria sido sua mulher, Courtney Love, ávida por um golpe que atraísse os holofotes para sua banda, Hole. Estranhamente, o cara que disse ter recebido 50 000 dólares dela para fazer o serviço foi atropelado por um trem.
Sem tradição no rock, é previsível que o Brasil fique devendo também em matéria de enredos fantásticos envolvendo sua música e seus artistas. As contribuições nacionais para a conspirologia pop trafegam com mais desenvoltura no terreno do folclore do que no das intenções escusas. Roberto Carlos que o diga: seu primeiro LP, Louco por Você, nunca foi relançado em CD porque o Rei teria vergonha dele. Gravado em 1961, o disco mostra a fase em que o cantor queria ser João Gilberto, e foi um retumbante fracasso. O vinil virou raridade e chega a valer mais de 2 000 reais. Isso quando se acha algum exemplar, porque Roberto Carlos mantém equipes de prontidão para vasculhar sebos por todo o país e destruir as cópias.
No rol de lendas urbanas que enriquece o imaginário musical brasileiro sem maiores conseqüências funestas, a exceção é Wilson Simonal, condenado ao ostracismo pela imprensa e pelos colegas sob acusação de ser colaborador do regime militar. Em 1971, ele percebeu um desfalque e demitiu o contador de sua empresa. O funcionário exigiu seus direitos na Justiça. Em vez de indenização, tomou um cacete dos agentes do Departamento de Ordem Política e Social (Dops). A represália pespegou no negro e fanfarrão Simonal a pecha de informante da repressão no meio artístico, e sua carreira entrou em declínio. Mesmo com o habeas data emitido em 1991 pelo Planalto negando qualquer vínculo do cantor com a ditadura, ele morreu em 2 000 com a fama de dedo-duro.
No mais, jornalistas queixam-se da “máfia do dendê”, um esquadrão informal de artistas baianos que se utiliza da engenharia social para evitar a publicação de críticas negativas a qualquer dos compadres do grupo. Em 1992, a MTV foi processada pelas cenas de perversões sexuais detectadas em uma de suas vinhetas. Mas, dizem por aí, o disco Oxigênio, do Jota Quest, guarda uma insólita associação com o longa-metragem Acquaria. Basta acioná-los simultaneamente para se espantar com a relação entre os maneirismos vocais de Rogério Flausino à procura de ar e as aventuras de Sandy & Junior em busca de água.
Eu acredito!
“Elvis é a própria encarnação do demônio. Assim, ele não pode ter morrido. Repare em seu nome, um anagrama de Evil·s (“do mal”). Depois de inventar o rock e corromper a juventude, ele se alistou no exército para infiltrar seus demônios no centro do poder. Kennedy, o mais famoso dessa legião, foi removido em 1963 para pôr em ordem os negócios do mestre. Algumas estrelas de rock conseguiram fugir do culto elvínico, mas pagaram o preço: Janis Joplin, Jimi Hendrix, Kurt Cobain. No Brasil, o mais famoso foi Raul Seixas, que denunciou no “Rock do Diabo”: “O diabo é o pai do rock”
Marcos Nogueira é editor de Universo Animal
Espelho sonoro
Ninguém sabe por que alguns cantores gravam mensagens ao contrário. Para decifrá-las, é preciso tocar o disco no sentido anti-horário. Sites como o https://www.mensagemsubliminar.com.br já fizeram isso por você
Artista/Música – A Turma do Balão Mágico “Superfantástico”
Letra original – “Superfantástico / No balão mágico / O mundo fica bem mais divertido”
Mensagem invertida – “Porque já invadimos o mundo / Porque já moramos / Porque já morremos”
Artista/Música – Xuxa “Doce Mel”
Letra original – “Em qualquer faz-de-conta / A gente apronta”
Mensagem invertida – “Adore Hare Krishna / Afronte Javé”
Artista/Música – Menudo “Não se reprima”
Letra original – “Não se reprima” / “Não se reprima” / “Não se reprima”
Mensagem invertida – “Satanás vive” / “Satanás vivei” / “Satanás vive”
Artista/Música – Legião Urbana “Pais e Filhos”
Letra original – “Vou fugir de casal / Posso…”
Mensagem invertida – “Satanás aqui”
Artista/Música – Xuxa “Marquei um X”
Letra original – “Marquei um X/ Um X / no meu coração”
Mensagem invertida – “Jesus é exu / Exu é rei”