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Podcast Brasil

Eles nunca estiveram na crista da onda da Internet. Mas é graças ao público fiel, crescente e empolgado que esses programas se mantêm. Mais que isso, geram escritores de sucesso, elebridades disputadas e palestrantes requisitados. Conheça o agitado universo dos podcasts brasileiros.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h52 - Publicado em 13 jan 2014, 22h00

Pedro Duarte

“Lambda, Lambda, Lambda!”, grita Alexandre Ottoni, para delírio do público. A referência ao filme A Vingança dos Nerds, clássico de sessão da tarde de 1984, não é à toa. Alexandre é o Jovem Nerd, um dos criadores do blog homônimo que, desde 2006, produz o maior podcast do Brasil e um dos maiores do mundo, o Nerdcast. O programa, com 347 mil downloads por episódio, é o maior responsável por Alexandre e seu parceiro Deive Pazos, o Azaghal, serem webcelebridades. Em eventos de cultura da internet, eles tiram fotos com fãs e são assediados – às vezes do jeito mais nerd possível. “Uma vez ganhamos um Kratos e um Obi-Wan Kenobi enormes”, diz Alexandre, espantado com os bonecos colecionáveis do jogo God of War e de Star Wars, respectivamente. Em eventos do tipo em Manaus, Fortaleza, São Paulo, Recife ou Rio de Janeiro, a cena se repetiu, graças a essa onda discreta, que cresce no Brasil. A mesma onda que faz do cearense Jurandir Filho uma referência em filmes. Ele nunca estudou cinema nem escreveu resenhas para jornais e sites. Mas, para as cerca de 80 mil pessoas que baixam seu programa, ele tem mais influência que um crítico tradicional. Conseguiu isso com uma linguagem direta, usando histórias pessoais para ilustrar suas opiniões sobre filmes. E, para ele, seu podcast tem também outro trunfo. “Mostrou que o nordestino pode fazer algo para o Brasil todo, sem seguir o estereótipo do `programinha engraçadinho¿”, diz.

Podcasts, para quem não sabe, são programas de áudio periódicos que podem ser baixados em computadores, tablets ou smartphones. Na prática, é um programa de rádio na internet, que você ouve quando quiser. É um fenômeno velho para os padrões digitais: a podosfera começou a ganhar força no País em 2005 como um espaço despretensioso e informal de circulação de ideias. Hoje, esse clima permanece, mas muitos podcasters (como é chamado quem faz podcast) viraram empresários, pessoas influentes e ídolos. É um nicho – e esse é um dos motivos do sucesso e da longevidade do formato – porque quase sempre são pessoas que resolvem falar de um assunto específico para um público específico que quer ouvir sobre aquilo. E ainda é informal porque jogos, música, cinema, quadrinhos etc. são tratados do jeito mais “conversa entre amigos” possível.

OUVINTE AMIGO
Quem faz um podcast acaba tendo uma relação mais próxima com o público do que outros formadores de opinião, como colunistas de revistas ou blogueiros. Para isso, os podcasters fazem questão de, sempre que possível, falar de experiências pessoais nos programas. É uma receita usada há décadas por apresentadores de mídias tradicionais. O público cria empatia, se reconhece em situações e passa a se sentir próximo dos locutores. “Há muitos podcasts em que ouvintes participam enviando mensagens em áudio ou conversando com os podcasters durante os programas”, diz Lucio Luiz, jornalista especializado no assunto (e ele mesmo um podcaster). Até aí, nenhuma novidade. Mas o formato do podcast permite que a interação seja diferente. O fato de precisar baixar o programa e ouvir na hora em que quiser torna a situação mais maleável ao seu dia a dia. Além disso, o contato entre quem faz e quem ouve é invariavelmente simples – trocar ideias com o público é essencial para o sucesso. E isso leva a situações inusitadas. “Já recebemos convites para casamentos e, algumas vezes por ano, marcamos de tomar cerveja com os ouvintes”, diz Tato Tarcan, do Ultrageek, podcast sobre tecnologia com 45 mil downloads em média. Essa relação gera um círculo virtuoso, que aumenta a oferta e a demanda. “Todo ouvinte pode se tornar um podcaster, o que, por sinal, é o caso da maioria”, explica Lucio Luiz.

No Facebook, há um grupo fechado, o PodcastersBR, em que ouvintes e produtores de conteúdo postam episódios novos e falam sobre divulgação, servidores e equipamentos. Lá, eles discutem tópicos como onde encontrar trilhas e efeitos sonoros gratuitos, qual o melhor programa de edição, como otimizar o conteúdo para aparecer nas buscas na internet, qual o melhor headset ou se vale a pena investir nos anúncios do Facebook. Já o YouTuner é uma espécie de YouTube para podcast. São 274 títulos com 20 mil horas de programação, dividida por temas específicos. É um prato cheio para quem quer começar a escutar. Há também um aplicativo para iPhone, o WeCast, feito para ouvir podcasts diretamente no celular. “Foi ouvindo um podcast que tive a ideia de fazer o aplicativo”, diz seu criador, Eduardo Baião. Além disso, os comentários nos sites dos próprios programas geraram um círculo social à parte. O Jovem Nerd percebeu o potencial disso e criou a Skynerd, uma rede exclusiva para quem acompanha o Nerdcast e a programação do site. Tudo isso representa a podosfera, que é frequentada por gente como Igor Gudima, analista de desenvolvimento de vendas e ouvinte assíduo de 90 (noventa!) podcasts. “Escuto no mercado, quando lavo a louça… Acho o efeito da informação via áudio mais prático. Recebo os assuntos que gosto sem precisar ler”, explica.

EXPANDINDO FRONTEIRAS
“Um ouvinte de podcast vale por cem de mídias tradicionais”, defende Luciano Pires, 56 anos, do Café Brasil, programa com 40 mil downloads que trata de assuntos polêmicos do dia. Talvez a comparação seja exagerada, mas esse público é poderoso. Segundo o Jovem Nerd, 47% dos ouvintes do Nerdcast afirmam comprar o que é indicado no programa, como livros, jogos e brinquedos (entre blogueiras de moda, tema potencialmente mais consumista que cultura nerd, essa taxa é de 60%). Muitos podcasters se transformaram em marcas. Um spot, inserção publicitária em que a equipe fala de um produto específico por dois minutos, pode custar até R$ 7 mil, valor mais alto que em grandes rádios. Já um programa temático, ou seja, todo voltado a anunciar determinado produto ou serviço, é negociado por até R$ 14 mil. E a publicidade nem é a maior fonte de renda dos podcasts, representando 40%. A maior parte vem de participação em eventos, palestras e venda de produtos com a marca do programa.

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Mas nem sempre foi assim. Há cinco anos, ninguém ganhava dinheiro com isso. Hoje, novos podcasts já nascem com uma cara profissional, com áreas para anúncios, permutas com lojas online e investimento em produção. Entre equipamentos de gravação e criação do site, a equipe, normalmente formada por três pessoas, investe cerca de R$ 400. Um podcast de sucesso fatura cerca de R$ 15 mil por mês. Alguns lucram mais de R$ 20 mil, tanto que muitos se dedicam integralmente a seus programas. É o caso de Jurandir Filho, que, além do RapaduraCast, lançou o 99Vidas, sobre videogames antigos.

Além de dinheiro, podcasts podem render credibilidade. Luciano Pires quer “desasnar” o Brasil, o que já o levou a eventos como a Campus Party e o TEDx. Já Affonso Solano, do Matando Robôs Gigantes, lançou o livro O Espadachim de Carvão e, em dois meses, vendeu 10 mil cópias, esgotando a primeira edição – um feito no mercado editorial brasileiro, que ele conseguiu graças a seus ouvintes. Com essa fama, os podcasters mais conhecidos estão em diversos eventos pelo Brasil, como naquele em que a dupla do Nerdcast dava autógrafos.

Mas a concorrência é grande. São 300 podcasts brasileiros inscritos no iTunes, que contabiliza os programas. E eles estão ampliando os temas. A maioria se dedica à cultura pop e nerd, mas há outros conteúdos, como história, turismo e mercado profissional. Eles atraem pessoas como o analista de sistemas Christopher Moura, que escuta 63 programas, especialmente os de empreendedorismo. “Cada vez que ouvia, ganhava mais força para perseguir meus sonhos e trabalhar com o que gosto”, diz. “Abri minha própria empresa e estou a caminho da independência financeira”. Podcasts dificilmente criam webcelebridades da noite para o dia, como o YouTube ou o Facebook. Mas o público conquistado é fiel e duradouro. E é isso que eles querem.

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COMO FAZER SEU PRÓPRIO PODCAST
Nove dicas para você ter um programa.

1. Tenha um headset, que reúne fone e microfone em um só equipamento. É a opção mais barata e com melhor qualidade de som.

2. Se houver mais de um locutor, use Skype ou Google Hangout para gravar. Assim, não é preciso se reunir fisicamente toda vez que fizer um programa.

3. Para editar, baixe o Audacity, que é fácil de usar, leve e de graça.

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4. Cuidado com direitos autorais. Use sites como Jamendo e Freeplay, que oferecem músicas livres, para usar em trilhas.

5. O podcast precisa de um servidor. Você pode publicar em um blog, mas o mais profissional é registrar um domínio e escolher uma empresa de hospedagem.

6. Crie um design próprio. Mas, se preferir um pronto, use algum tema gratuito de serviços de blogs como WordPress.

7. Faça um feed, como o Feedburner, do Google. Assim, quem assinar seu podcast será notificado automaticamente quando houver um novo programa.

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8. Instale o podpress, o player mais usado entre os podcasters.

9. Agora é divulgar nas redes sociais.

Foto: GettyImages

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