No escritório de Jim Thompson, em Bangcoc, há dois horóscopos pendurados na parede. Um prevendo sorte em 1959, outro premeditando azar àqueles nascidos no ano do cavalo ao fazer 61 anos. O americano Thompson era membro da OSS, a precursora da CIA. Na Segunda Guerra, ele desembarcaria na Tailândia de paraquedas, mas o conflito acabou, então ele resolveu ir de avião mesmo assim. Thompson decidiu viver lá e revitalizar a indústria da seda local. A cultura tecelã tailandesa estava abandonada, e seus habitantes compravam tecido mais barato (e de pior qualidade) da China. Ele ajudou o país a reaver esse orgulho, ficou rico e se mudou para um luxuoso imóvel. O ano era 1959.
Thompson acabou colecionando inimigos, que não gostavam de um estrangeiro que dizia conhecer a Tailândia melhor que muitos locais. Além disso, o governo americano desconfiava dele, que apoiava democratas tailandeses e o líder comunista Ho Chi Minh, no Vietnã.
A bela casa de Thompson hoje é um museu, onde se assiste à produção tradicional de seda. Ela é ricamente decorada com porcelanas chinesas e tapeçarias coloridas, que contam a vida de Buda ao estilo do budismo tailandês, muito influenciado pelo hinduísmo. O chão do primeiro andar é de mármore italiano e a construção é toda cercada por árvores típicas das florestas da região. Um eclético paraíso tropical, alheio ao golpe de Estado e aos subsequentes protestos que tomaram a Tailândia em 2014. Não que seja novidade no país. Esse foi o sexto golpe desde o dia em que Thompson saiu para uma expedição na mata, em 1967, e nunca mais foi visto. Nascido em 1906, ano do cavalo, ele tinha 61 anos.