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Um romance interminável

Não há solução possível para o dilema de K. Quando, depois de quase 500 páginas

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h59 - Publicado em 31 Maio 2001, 22h00

Jerônimo Teixeira

Existe esperança, esperança infinita – mas não para nós”, disse, certa vez, Franz Kafka (1883-1924). A esperança comparece, sem que jamais a alcancemos, em todas as páginas de O Castelo, romance que a Companhia das Letras publicou em tradução de Modesto Carone. Nessa obra, tão envolvente quanto sufocante, o protagonista K. apresenta-se para ocupar um posto de agrimensor na aldeia dominada pelo castelo do conde Westwest. Lá descobre que sua convocação não é conhecida nem reconhecida por ninguém – e aí começa seu périplo por uma burocracia indevassável, obediente a uma lógica tão rígida quanto incompreensível. O impagável (e muitas vezes ignorado) humor kafkiano ressalta o absurdo da situação vivida por K., que, por sua vez, é só uma versão extrema do nosso absurdo cotidiano.

Como a maior parte da obra de Kafka, O Castelo foi publicado postumamente. Kafka trabalhou no livro ao longo de seis meses, em 1922, mas não o concluiu. Como bem observou o escritor argentino Jorge Luis Borges, se Kafka não terminou muitas de suas obras, é porque eram intermináveis. Não há solução possível para o dilema de K. Quando, depois de quase 500 páginas, o romance é interrompido no meio de uma frase, o leitor é tomado por uma inquietante mistura de alívio e frustração.

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