Um texto empolgante
Os autores da façanha são os filósofos alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), com interesses políticos dirigidos à esquerda.
Luís Augusto Fischer
Pode um livro de 60 páginas influir no destino da humanidade? A resposta é sim, desde que os elementos estejam distribuídos para o jogo: uma utopia que interesse a muitos, uma interpretação do presente que esclareça as variáveis obscuras que comandam a vida, um autor capaz de síntese e ao mesmo tempo de emoção, um público leitor sensível a tudo isso.
E foi o que aconteceu com o Manifesto Comunista, ensaio publicado em 1848 numa Europa conflagrada pelos efeitos da primeira onda de industrialização, que tinha concentrado, nas cidades, um número impensável de pessoas, a maior parte em condições miseráveis, amargando a frustração das promessas de felicidade contidas na Modernidade.
Os autores da façanha são os filósofos alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), com interesses políticos dirigidos à esquerda. O Manifesto, aliás, pode ser lido como um diálogo entre as duas coisas – de um lado a noção de que, na frase famosa de Marx, a filosofia tinha que passar da interpretação do mundo à sua transformação, e de outro uma séria tentativa de escrever, num panfleto, uma análise consistente da época.
Muito do que está ali anotado não corresponde mais às variáveis de nosso tempo, nem consegue disfarçar a simplificação de alguns temas. Mas o impressionante é perceber o quanto o Manifesto ainda consegue falar à vida de hoje. Para concordar ou não, é uma leitura empolgante e indispensável.