Imagine um planeta de águas e clima amenos, impensavelmente distante da Terra, em que também se deu o fenômeno da vida (pois essa é uma possibilidade estatística). Imagine então que essa vida, ao longo do tempo geológico, evoluiu por seleção natural; e uma das espécies existentes hoje possui um órgão com função de computador, de capacidade similar à do cérebro humano. Essa espécie deu origem à uma civilização, que acumulou conhecimento sobre o Universo por meio do método científico.
Agora imagine que alguns de nós, Homo sapiens da Terra, conseguem alcançar esse planeta em uma espaçonave hipotética sofisticada – e agora estão observando, com um binóculo, a rotina dos cientistas dessa civilização alienígena. E aí esses Homo sapiens descobrem algo incompreensível: 50% da população alienígena foi proibida de fazer ciência. Por nenhum motivo: os tais ETs optaram por diminuir o próprio avanço científico pela metade só por que não aceitam que 50% da população trabalhe em um laboratório.
Estranho. É algo de uma burrice monumental. Os Homo sapiens exploradores buscam uma explicação. Em uma inspeção mais detalhada, percebe-se uma coisa: os alienígenas que são impedidos de fazer ciência são os alienígenas que, no ritual reprodutivo, fornecem o gameta maior – o que se chamaria, entre terráqueos leigos, de óvulo. Só são autorizados a trabalhar com pesquisa os alienígenas que produzem espermatozoides. Faz algum sentido? Bem, nenhum. Não há relação entre o tamanho do gameta produzido por alguém e sua capacidade de pensar.
Esse planeta, óbvio, é a própria Terra na virada para o século 20 – esqueça aquela história de “impensavelmente distante” do começo do texto. As mulheres não têm espaço na ciência desde que existe algo chamado ciência. Em 1891, Marie Curie – o único ser humano a ganhar dois prêmios Nobel de ciências naturais em áreas diferentes (Física e Química) – foi estudar em Paris pois nenhuma faculdade da Polônia, seu país natal, aceitava mulheres. Em Paris, tornou-se a primeira mulher com um título de doutora na França. A situação melhorou um pouquinho de lá até aqui, mas não muito: as mulheres ainda são 49% da população e só 28% das cientistas. Têm mais dificuldades em conseguir bolsas e cargos, e sofrem com assédio e o preconceito no ambiente de trabalho.
No começo de janeiro, a Juliana Krauss – a designer que, entre outras coisas, é responsável por deixar o Instagram da SUPER um brinco –, disse que a gente precisava fazer nossa parte para virar o jogo. Lembrar as mulheres de que a única coisa que as impede de fazer ciência é… bem, coisa nenhuma. Assim, nós começamos a fazer posts semanais no Instagram para explicar, em 2 mil caracteres, o que uma mulher importante fez. Sem nenhuma menção – e isto é crucial – aos filhos dela, ou ao casamento dela, ou às roupas que ela usava: só a obra, como se faz com os homens. Agora juntamos esses posts aqui, mas eles vão continuar aparecendo por lá, com a #MulherCientista. Fique de olho.
A seguir, vão oito mulheres que, com o perdão do clichê, mudaram o mundo.