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Ártemis – Deusa da caça

Preferindo a vida selvagem aos confortos do Olimpo, Ártemis não se separa de seu arco e flecha. Quando não está caçando, entrega-se aos cuidados de lindas ninfas, protetoras de sua virgindade.

Texto: Maurício Horta | Edição de Arte: Estúdio Nono | Design: Andy Faria |
Imagens: Adobe Stock e Getty Images

NOME ROMANO – DIANA • DIVINDADE – DEUSA DA CAÇA

A irmã mais velha de Apolo, também filha da titânide Leto, deusa da maternidade, é o que Sigmund Freud chamaria de “mulher fálica”. Além de não querer nada com os homens, Ártemis se cerca de lindas mulheres (ou ninfas) e se interessa por atividades tradicionalmente relacionadas ao mundo masculino. É a deusa da caça e da vida selvagem. Seu voto de castidade, no entanto, não começa como uma ojeriza aos deuses e mortais do sexo oposto. E sim com o trauma de ajudar no nascimento de seu irmão. Quando Ártemis testemunha as dores do parto da mãe, fica horrorizada com um sofrimento tão grande e decide que não quer passar nunca por isso. Portanto, resolve guardar para sempre sua virgindade.

Quando a deusa ainda é uma menininha de 3 anos, Zeus chega até ela e lhe pergunta que presentes gostaria de ter para agir sobre o Céu e a Terra. “Pai, dá-me em primeiro lugar a virgindade eterna. Também apreciaria seis jovens ninfas oceânicas que me acompanharão como minhas damas de honra.”

Zeus dá a Ártemis isso e muito mais. Ela então parte para Creta e, perto de uma fonte, escolhe suas ninfas, todas altas e belas – só não tão altas nem belas quanto ela mesma. Com um convite do deus marceneiro Hefesto, visita os ciclopes na Ilha de Lipara e lhes ordena: “Ó ciclopes, fazei para mim uma arma tal como a de meu irmão Apolo. Para isso vos garanto que, se eu abater alguma criatura selvagem, eu a enviarei para vós”.

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Armada, ela parte com suas ninfas até a Arcádia, onde Pã, ocupado em dilacerar um lince para alimentar sua matilha, lhe dá três cães, fortes o bastante para arrastar leões vivos, e outras sete cadelas da raça mais veloz, capazes de caçar mesmo as lebres que nunca fecham os olhos, com o melhor faro para encontrar o covil dos cervos, a toca do porco-espinho e a trilha da gazela. Seguindo em frente, às margens do riacho Anauros, a menina encontra cervos de chifres dourados saltitando. Pega quatro deles para puxar sua carruagem.

E assim sai Ártemis pelos bosques da Grécia. Basta fazê-la sorrir com um bom sacrifício para que os mortais tenham uma farta lavoura, gado saudável e fontes inesgotáveis de mel e cera. Mas que eles não ousem desagradá-la. Quem não cumprir os deveres para com Ártemis terá seu gado devorado por predadores, sua lavoura queimada pela geada ou a esposa morta no parto. Quem a contrariar pode acabar como Eneu, rei da Caledônia.

<strong>Sempre na companhia de belas ninfas, Ártemis se cerca de cães e cervos em sua existência na natureza.</strong>
Sempre na companhia de belas ninfas, Ártemis se cerca de cães e cervos em sua existência na natureza. (DEA / G. Cigolini/Getty Images)

Depois de plantar um belo pomar, ele faz a oferenda ritual de suas primeiras frutas aos deuses olímpicos – mas se esquece de homenagear Ártemis. Enciumada, a deusa das flechas envia ao pomar um javali selvagem que destrói todas as árvores até a raiz. Meleagro, filho do rei, reúne todos os caçadores das cidades da vizinhança, que finalmente conseguem matar o animal. Ártemis então incita a discórdia entre eles, e os caçadores começam a matar uns aos outros na disputa de quem ficará com o javali.

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O MORTAL QUE VIU A DEUSA NUA

Nenhum dom dá tanto orgulho à bela Ártemis quanto sua castidade, guardada com a ajuda de suas amigas ninfas. São elas que a protegem toda vez que vai banhar-se. A mais habilidosa penteia seus cabelos, e outras trazem enormes urnas repletas de água para que ela cuide de sua intimidade. Certo dia, o deus-sol desponta no topo do céu quando o pastor Acteão se dirige a seus companheiros de caça, orgulhoso de seu trabalho: “Amigos, nossas redes e nossas armas estão molhadas do sangue de nossas presas”.

De folga, Acteão é levado pelo destino até a gruta de Ártemis. Quando ele aparece na entrada, as ninfas correm em direção à deusa para escondê-la com seus corpos. Mas é tarde para proteger a nudez divina. Sem o arco e a flecha, só resta a Ártemis espirrar água na face do pastor. No momento em que se molha, cresce na testa de Acteão um par de chifres em forma de galhos, suas orelhas se tornam pontudas; suas mãos e seus pés se transformam em patas, uma pelagem espessa passa a lhe cobrir o corpo. O herói sai correndo e, ao chegar a um córrego, vê seu reflexo: virou um cervo.

“O que posso então fazer? Voltar para meu palácio com esta aparência ou viver escondido nos bosques? Temo não ser reconhecido em minha casa, tampouco quero rebaixar-me à raça dos animais!”, pensa Acteão.

Enquanto hesita, cães o veem. O pastor metamorfoseado corre entre despenhadeiros, rochedos e gargantas profundíssimas, mas não pode despistar cães tão rápidos e astutos. Finalmente eles o alcançam. Quando a matilha crava os dentes em sua carne, Acteão solta um gemido que não é humano nem animal. O feitiço de Ártemis só se desfaz quando ele exala seu último suspiro. Nesse momento, todos veem o vulto débil do príncipe surgir como um fantasma.

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