Não só depressão como várias outras doenças. A terapia assistida por animais (TAA) é uma intervenção que visa o desenvolvimento físico, psíquico e social do paciente.
Texto: Juliana Sayuri | Design: Andy Faria | Ilustrações: Arthur Vergani
Forte nos EUA e na Europa (principalmente em Portugal e na Espanha), a TAA deu seus primeiros passos no Brasil na década de 1990. Também conhecido como “pet-terapia” e “zooterapia”, esse método alternativo de ajuda para diversas doenças e deficiências mentais e motoras serve como complemento aos tratamentos tradicionais.
Os “terapeutas de quatro patas”, claro, não atuam sozinhos: as equipes podem incluir veterinários, psicólogos, médicos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e assistentes sociais. Os cachorros são os animais mais utilizados, mas cavalos, coelhos, chinchilas, gatos, peixes, tartarugas e até cobras e lagartos podem dar uma forcinha extra a quem está precisando.
Os cães candidatos têm entre 1 e 5 anos. O processo seletivo é extenso: há um exame clínico (para identificar zoonoses, problemas dermatológicos e ortopédicos), um exame laboratorial (incluindo estudo parasitológico das fezes e hemograma), um teste comportamental (analisando reações a comportamentos agressivos e amigáveis) e uma avaliação na companhia de outros bichos ou de um aglomerado de gente.
Labradores e golden retrievers são os queridinhos da TAA por sua docilidade e alta treinabilidade, mas não há restrição de raças para atuar nessa área. Os cuidados são simples: vacinas, vermifugação a cada três ou quatro meses, controle de carrapatos e pulgas e visitas periódicas ao veterinário. Mas tem um “pulo do gato”: cães terapeutas devem ser castrados e não podem interagir com cachorros de rua.
Em São Paulo, cães enquadrados na lei da mordaça (obrigados a usar focinheira) não podem ser terapeuta.
No adestramento básico, aprendem a sentar, ficar, deitar e andar sem puxar a guia. Também são “dessensibilizados” para não reagirem com violência quando tocados em áreas como orelhas e nariz. Mas o nível de exigência do treinamento varia com a função a ser exercida. Por exemplo: um cão pode ser treinado a buscar a bolinha arremessada por um paciente de fisioterapia. Outro só precisa aprender a ficar presente, recebendo carinho.
Segundo estudos, a TAA traz benefícios a pessoas de qualquer idade que encaram problemas como autismo, esquizofrenia, psicoses, paralisia cerebral, distúrbios de atenção e aprendizagem, depressão e luto. O simples carinho no bicho promove uma descarga de neurotransmissores
ligados ao bem-estar, elevando níveis de serotonina e dopamina e diminuindo a pressão arterial e a frequência cardíaca.
Cães mais passivos são ótimos para idosos se exercitarem fazendo massagens com os pés e carinho com as mãos.
Crianças internadas, em tratamento de diversos tipos de câncer, também são visitadas por cães para brincar. Já para os autistas, a interação estimula a criação de vínculos emocionais, melhorando sua comunicação com a família. De acordo com especialistas, o paciente projeta seus sentimentos no animal e assim aprende a lidar com a própria vulnerabilidade – é a chamada “identificação projetiva”.
Vale frisar que os pets não são adotados pelo paciente. Eles moram com o dono e, de tempos em tempos, apenas visitam pacientes em hospitais, casas de repouso ou abrigos, a cada semana ou quinzena, sob orientação de ONGs gratuitas ou empresas especializadas que conduzem o tratamento. A “aposentadoria” varia de acordo com a disposição do bicho, mas é preciso ficar de olho nos sinais de velhice a partir dos 7 anos.