Mark Rothko | White Center (Yellow, Pink And Lavender On Rose)
Pintada em óleo sobre tela, assinada em 1950.
207 milhões de reais
[Atenção: esta reportagem é de 2013. Os valores dos quadros e esculturas em dólares foram mantidos inalterados. A conversão para reais foi atualizada de acordo com a inflação para o ano de 2019]
“63 milhões de dólares. É um aviso. Estou vendendo”, ameaçou o leiloeiro, “64 milhões de dólares. Ainda em tempo”, continuou. Os lances, que elevavam o preço do quadro em US$ 1 milhão a cada três segundos, eram sinalizados por placas levantadas no auditório da Sotheby’s.
A cena durou poucos minutos, tempo suficientes para que um recorde fosse quebrado: a venda de um quadro de Mark Rothko por US$ 72 milhões, ou R$ 207 milhões, representava, até aquela noite de 2007, o maior preço na carreira do pintor. E, mesmo com tanto dinheiro flutuando pelo lugar, o leiloeiro parecia entediado. Com o corpo apoiado num gabinete de madeira, o alemão Tobias Meyer recitava as cifras quase que com desdém. Aqueles milhões eram rotina.
Como explicar o preço do quadro de Rothko? E como explicar que, no mesmo leilão, Meyer venderia uma jaqueta de couro, jogada no canto de uma galeria pelo americano Jim Hodges, por R$ 1,8 milhão? Parece estranho, mas apenas à primeira vista, porque o mercado possui regras. E elas até que funcionam na hora de decifrar o aspecto quase surreal dos preços.
Para começar, é importante encarar uma informação tão incômoda quanto verdadeira: o valor tem pouca relação com a complexidade da obra. Tome como exemplo as icônicas flores de metal do americano Jeff Koons. Mesmo simples, elas chegam a custar R$ 72 milhões.
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Jeff Koons | Balloon Flower (Magenta)
Criada entre 1995 e 2000, possui cópias em azul, laranja, amarelo e vermelho.
72 milhões de reais.
Também é preciso entender que as cifras não remetem muito à habilidade do artista. O inglês Damien Hirst, por exemplo, delega a produção de seus famosos quadros de bolinhas a assistentes, que são instruídos sobre as cores e a ordem dos círculos. Mesmo assim, uma obra dessas já foi vendida a R$ 1,8 milhão.
Tampouco importa o valor dos materiais que o artista usou. Basta olhar (ou cheirar) as criações do inglês Chris Ofili, feitas com esterco de elefante (e vendidas por mais de R$ 7,2 milhões).
Então, eliminados o toque do criador, a complexidade do quadro e o requinte dos materiais, quais fatores elevam o preço de uma obra? O principal critério é o renome do artista, a marca que sua assinatura atribui ao quadro. Para entender, pense que quando compra cadernos Moleskine ou cafés Starbucks, você não adquire apenas um bloco de papel ou um copo de bebida, mas a inclusão num grupo e o reconhecimento dos integrantes deste círculo.
Segundo Don Thompson, economista, colecionador e autor de O Tubarão de 12 Milhões de Dólares, o mesmo vale para os grandes consumidores do mercado de arte. Com a diferença de que eles possuem milhões para gastar. E que as marcas que eles consomem – um Koons, um Hirst ou um Ofili – ficam penduradas na parede.
“Quando um artista se torna uma marca, o mercado tende a aceitar como legítima qualquer coisa que ele apresente”, conta Thompson. Isso explica o fato de uma escultura de Michael Jackson custar mais de R$ 15,8 milhões. Ela pode até não ser das mais agradáveis de ter na sala. Mas, com a etiqueta Koons, vira um objeto precioso.
Este poder da marca explica muita coisa no mercado de arte. Como o fato de que utensílios de um restaurante fundado por Hirst, depois que o lugar fechou, custaram tão caro em leilão. Dois copos de martíni, por exemplo, saíram por R$ 23 mil, enquanto seis cinzeiros foram vendidos por R$ 8,6 mil. Ou seja, quando viram marca, os artistas adquirem o toque de Midas, capaz de transformar qualquer coisa, de esterco de elefante a cinzeiros de restaurante, em ouro.