A interceptação
Aquela seria a última jornada do terceiro oficial Gary Voorhis num navio da Marinha. Ele estava no USS Princeton, um cruzador que se preparava para participar de exercícios de rotina. Depois de quase seis anos na Marinha, Gary se sentia pronto para começar uma vida nova, longe dos mares. Mas, antes, restava aquela última missão. “Tínhamos vários sistemas novos, como o radar Spy-1 Bravo. O objetivo era testá-los e resolver eventuais problemas”, conta ele.
Durante um dos testes, os técnicos do USS Princeton começaram a se queixar de “ruído” e “sinais fantasmas” no radar. Para Voorhis, responsável pelo sistema Aegis (o software que coordena os radares e mísseis do navio), qualquer anomalia do tipo era especialmente preocupante. Ele achou que o Spy-1 estivesse com algum problema, e resolveu desligar e recalibrar tudo para tentar eliminar os erros.
“Depois que nós terminamos de fazer a recalibração e ligamos o radar, aqueles sinais estavam mais claros e nítidos”, diz. “Às vezes eles apareciam numa altitude de 60 ou 80 mil pés. Outras vezes surgiam a 30 mil pés, se deslocando a uns 100 nós [185 km/h]. A identificação de radar não batia com nenhuma aeronave conhecida.”
Sentado no centro de controle do USS Princeton, o chefe sênior de operações Kevin Day tinha como tarefa proteger o espaço aéreo acima do Esquadrão 11. “O meu trabalho era ficar de olho nos radares e identificar tudo o que aparecesse no céu”, declarou ao documentário The Nimitz Encounters. No dia 10 de novembro de 2004, aproximadamente a 160 km da costa de San Diego, ele começou a ver sinais estranhos no radar, na área da ilha de San Clemente. “Apareciam em grupos de cinco a dez, bem perto uns dos outros. Estavam a 28 mil pés, se deslocando na direção Sul.” O oficial especialista em motores Ryan Weigelt, que também estava no navio, se lembra da atmosfera naquele momento. “O chefe Day era chamado pelo interfone, sem exagero, a cada dois minutos. Eu percebi que alguma coisa grande estava acontecendo, mas não entendi direito o quê.”
Enquanto Day e os controladores de tráfego aéreo monitoravam os sinais estranhos, Voorhis decidiu tentar enxergar aqueles objetos voadores. “Quando apareciam no radar, eu anotava a localização aproximada, corria até a ponte [centro de controle do navio] e olhava naquela direção usando um binóculo de alta potência”, diz. “À noite eles [os objetos] emitiam um brilho meio fosforescente, e eram um pouco mais fáceis de ver do que durante o dia.”
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As aparições continuaram por quase uma semana, até 14 de novembro. Havia um exercício aéreo programado para aquela manhã, e Day obteve permissão do superior hierárquico para usar os aviões numa tentativa de interceptação. Isso foi feito: dois caças F/A-18 decolaram do porta-aviões USS Nimitz, que fazia parte do Esquadrão 11 e também estava participando daquele treinamento. O piloto David Fravor, comandante de um dos caças, encontrou o que o relatório oficial depois descreveria como “um ovo alongado, ou uma forma de ‘Tic Tac’, com um eixo horizontal no meio”, com 14 m de comprimento.
Os marinheiros a bordo do USS Princeton ouviam as comunicações de rádio dos pilotos dos caças. O objeto não identificado escapava com facilidade dos aviões, demonstrando “uma capacidade avançada de propulsão, aceleração e aerodinâmica”. Driblados pelo objeto, Fravor e o outro piloto desistiram e voltaram ao USS Nimitz. Num voo posterior, realizado por outro F/A-18, o tenente Chad Underwood conseguiu filmar o que seria batizado pelos militares de Anomalous Aerial Vehicle, ou AAV (“veículo aéreo anômalo”).
Durante os 13 anos seguintes, a história dos encontros entre a Marinha dos EUA e objetos voadores não identificados passou despercebida. Somente em 2017, depois que a To the Stars Academy of Arts & Science, uma ONG fundada pelo cantor americano Tom DeLonge [ex-vocalista da banda Blink-182], e o jornal The New York Times publicaram um trecho do vídeo gravado pelos militares, o mundo tomou conhecimento do Incidente Nimitz.
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Mas até hoje ninguém discutiu o que as testemunhas viram acontecer depois da interceptação do “Tic Tac”. Seu depoimento levanta muitas questões e discussões novas, e até um pouco de controvérsia.