Bois e vacas produzem metano, um gás-estufa muito mais poderoso que o dióxido de carbono dos motores a combustão interna. E os bovinos fazem isso em quantidades industriais, 24 horas por dia, sete dias por semana. O metano (CH4) em forma de gás é o grande subproduto da digestão dos bois (e de todos os outros ruminantes, como ovelhas e girafas). Esse gás vai se acumulando no rúmen, o principal dos quatro estômagos desses bichos, e sai praticamente todo pela boca do animal – e não pelo “escapamento”, como o senso comum imaginaria.
Nada do que falamos até agora é um assunto novo. Faz mais de 10 anos que começaram os alertas sobre o perigo que o metano representa para o clima. Essas notícias nos avisavam que o metano era um gás 25 vezes mais potente que o CO2 na capacidade de gerar efeito-estufa – ou seja, de prender calor na atmosfera, aquecendo o planeta ao longo do processo.
A novidade agora é outra: estávamos errados. E para pior. Não é que o metano tem 25 vezes mais poder que o CO2. São quase cem vezes. Isso muda tudo.
Pela nova contabilidade, constata-se que bois e vacas respondem sozinhos por quase um quarto da emissão de gases- estufa no planeta. Ou seja: estão em pé de igualdade com os outros dois vilões mais célebres: o setor de transportes (carros, navios, aviões) e de energia (as termelétricas). No Brasil, então, nem se fala. Existem mais bois no Brasil do que brasileiros: são 212 milhões de cabeças de gado, contra 205 milhões de cabeças de gente. Só na Índia, onde o bicho é sagrado, existe mais boi do que aqui. Entre os rebanhos comerciais de fato, o Brasil é o líder, com mais cabeças que o segundo e o terceiro colocado juntos (China e EUA), e quatro vezes mais que a Argentina, a quarta colocada. Agora, se contabilizarmos o metano que sai dos nossos pastos mais o CO2 que sai das nossas florestas queimadas para virar pasto, temos um dado alarmante: o de que metade dos gases-estufa produzidos em território nacional vem da criação de gado. O grande inimigo do clima por aqui, então, não está na sua garagem. Está no seu prato, no copo de leite, no brigadeiro.