Há cerca de 4,5 mil anos, um grupo de arquitetos não sabia, mas estava planejando um dos principais patrimônios do Reino Unido. Estamos falando de Stonehenge, uma estrutura circular montada a partir de blocos gigantes de arenito, chamados de sarsens.
Pesquisadores supõem que a obra serviria para cultos e rituais destes mesmos povos antigos. Os pedregulhos medem, em média, sete metros de altura e podem pesar até 20 toneladas – o que deixa claro que montar aquilo tudo não foi tarefa fácil.
Não é de hoje que arqueólogos e historiadores tentam descobrir mais detalhes sobre a formação de Stonehenge, mas agora, um dos principais mistérios (a origem das grandes pedras) pode ter sido finalmente solucionado. Uma pesquisa publicada na revista Science Advances, na última quarta-feira (29), mostra que o material de construção pode ter sido retirado de West Woods, um parque à apenas 24 quilômetros do local em que o patrimônio está.
A descoberta ocorreu após uma série de acasos. Para entender a história, precisamos voltar brevemente ao ano de 1958, quando Stonehenge passava por uma restauração. Na época, uma das pedras estava rachada, e o seu núcleo foi perfurado para inserir ali uma haste de metal e reforçá-la.
Acontece que um dos trabalhadores pensou que seria interessante ficar com aquele pedaço retirado, então o guardou durante 60 anos. Foi só em maio de 2019 que Robert Phillips devolveu a peça para a English Heritage, instituição que gerencia o patrimônio.
E voilà: o pedaço se mostrou vital para descobrir a origem das pedras. A partir de dados geoquímicos, os pesquisadores da Universidade de Brighton, no Reino Unido, concluíram que 50 das 52 sarsens presentes no sítio arqueológico tinham uma área de origem em comum – incluindo aquela que teve seu núcleo retirado. E naquele pedaço já extraído, os cientistas puderam aplicar técnicas “destrutivas” e mais incisivas para ter informações ainda mais certeiras.
Tendo tais informações, os pesquisadores resolveram analisar sarsens de 20 locais no sul da Inglaterra, a fim de comparar a composição química das pedras. Os cientistas esperavam eliminar do mapa alguns lugares e continuar buscando a origem exata, mas não demorou para que isso acontecesse. As pedras de West Woods, que no passado provavelmente estavam em um terreno com pouca ou nenhuma vegetação, tinham a mesma assinatura geoquímica das pedras de Stonehenge.
Outras descobertas
Em entrevista ao The New York Times, Parker Pearson, cientista da University College London (UCL) e que não participou da pesquisa, explicou que um filósofo chamado John Aubrey pode ter descoberto a origem séculos atrás. Nos anos 1600, ele pesquisava o monumento e encontrou, inclusive, os poços que cercam o local. “Aubrey considerou que havia encontrado a fonte dos sarsens de Stonehenge, uma grande pedreira a apenas 22 quilômetros ao norte do monumento”, explica. “Dado que West Woods fica a cerca de 24 quilômetros de distância, é muito possível que ele tenha acertado – e que a ciência levou 340 anos para descobrir novamente.”
O patrimônio conta ainda com algumas pedras menores, chamadas de pedras azuis. A origem delas já foi datada há mais de um século e remete às Colinas Preseli, no País de Gales, a cerca de 320 quilômetros de distância. Duas das prováveis localizações exatas em que estavam foram apontadas no ano passado por Parker Pearson e sua equipe.
Apesar de ambas as descobertas sobre as origens serem animadoras, uma dúvida permanece para os dois diferentes tipos de pedras: como elas foram transportadas até o local? As histórias vão de extraterrestres à magia de Merlin, feiticeiro do mito do Rei Arthur. Para a ciência, a teoria mais aceita é a de elas foram movidas com trenós ou ferramentas similares.
Para as sarsens, que são as pedras maiores e mais pesadas, a hipótese de que elas vêm de locais próximos para facilitar o “carreto” faz sentido. Já para as pedras azuis, ainda não há uma justificativa exata para o fato de elas terem sido tiradas do País de Gales. Desvendar esse mistério é o próximo item na lista dos arqueólogos.