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Arqueólogos desenterram cidade perdida de 3 mil anos no Egito

A cidade, chamada So'oud Atun, foi fundada pelo avô de Tutancâmon. Até o momento, foram encontrados um distrito administrativo e uma área residencial. Veja o que a descoberta revela sobre a dinastia de faraós.

Por Carolina Fioratti
12 abr 2021, 17h10

Na última semana, o Ministério do Turismo e Antiguidades do Egito anunciou a descoberta de uma “cidade perdida” nas proximidades de Luxor, antiga cidade de Tebas. De acordo com pesquisadores, o local foi fundado durante o reinado do faraó Amenhotep III, entre 1386 e 1353 a.C., e recebe o nome de So’oud Atun (Ascensão de Aton). A escavação teve início em setembro de 2020, quando os arqueólogos buscavam pelo templo mortuário de Tutancâmon – mas acabaram encontrando uma cidade inteira.

A história por trás da cidade é curiosa. Amenhotep III tinha um filho, Amenhotep IV, que parece ter reinado junto ao pai em seus últimos anos. Quando o progenitor morreu, o descendente resolveu romper com tudo que o antigo faraó havia estabelecido até então. Durante seu reinado, que durou de 1353 a 1336 a.C., o novo governante revolucionou a cultura egípcia, trazendo mais detalhes a uma arte antes vista como rígida e uniforme. A religião também sofreu mudanças, sendo mantida apenas a adoração ao deus sol Aton (que dá nome à cidade). Amenhotep IV chegou até a mudar seu nome para Akhenaton, que significa “devoto a Aton”.

Além destas alterações, Akhenaton e sua esposa Nefertiti também mudaram a residência real de Tebas para a cidade de Amarna, 400 quilômetros ao norte da antiga capital. Foi lá que nasceu Tutancâmon, filho de Akhenaton. Os pesquisadores não sabem explicar o porquê da mudança repentina, mas acreditam que novas escavações no sítio arqueológico podem trazer pistas sobre o mistério. A equipe encontrou inscrições em So’oud Atun que datam de 1337 a.C., apenas um ano antes de a família se estabelecer em Amarna.

A cidade – que está muito bem preservada – parece ter sido deixada às pressas, o que levou alguns pesquisadores a chamá-la de “versão egípcia de Pompeia”. Em meio aos muros de até três metros de altura, os arqueólogos encontraram o que parece ser uma padaria, com tamanho suficiente para atender muitos trabalhadores e empregados, além de suas cerâmicas de armazenamento e fornos. 

Os pesquisadores (liderados pelo famoso arqueólogo Zahi Hawass) identificaram um distrito administrativo e uma área residencial, que ficam separados por um muro em zig-zag. Ainda encontraram anéis, moldes para fabricação de amuletos, potes usados para transportar carne, entre outros utensílios. Um esqueleto humano com uma corda enrolada nos joelhos também chamou atenção da equipe, que descreveu o achado como um “sepultamento notável”.

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Todos estes detalhes ajudaram os arqueólogos a datar com precisão a época em que a cidade vigorou. Os pesquisadores analisaram inscrições hieroglíficas nas tampas de vasos de vinhos e outros recipientes, onde encontraram o nome de pessoas e informações que comprovam o governo conjunto de Amenhotep III e Akhenaton. Além disso, os arqueólogos encontraram tijolos de barro com o selo de Amenhotep, que estavam em uma possível fábrica do material de construção.

Após a morte de Akhenaton, a cidade parece ter sido reocupada por seu filho, Tutancâmon. Ele foi responsável por apagar as alterações feitas pelo pai, incluindo mudanças na arte e religião. Ay, o sucessor de Tutancâmon, também parece ter ocupado So’oud Atun. 

A professora da Universidade John Hopkins, Betsy Brian (que não estava envolvida na descoberta), descreve a cidade como “a segunda descoberta arqueológica mais importante desde a tumba de Tutancâmon”. Até agora, os arqueólogos desenterraram a maior área ao sul, enquanto os trabalhos na região norte ainda nem começaram. Também foram encontrados túmulos e um grande cemitério, similar ao do Vale dos Reis, que também ainda não foram explorados.

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