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Bjørn Lomborg , é tudo mentira

O polêmico estatístico Bjørn Lomborg diz que as previsões catastróficas dos ecologistas são falsas e que a Terra está muito melhor do que a maioria das pessoas imagina.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h21 - Publicado em 30 jun 2002, 22h00

Angela Pimenta

Há três anos, quando decidiu escrever um livro questionando os dados que sustentam as causas ecológicas, o estatístico dinamarquês Bjørn Lomborg mal poderia imaginar a fúria que seu trabalho iria despertar entre os ambientalistas. Best-seller na Europa e nos Estados Unidos, seu livro The Skeptical Environmentalist (O ambientalista cético, inédito no Brasil), defende que, tanto do ponto de vista ambiental quanto do social, o planeta nunca esteve tão bem – e que a tendência é só melhorar. Computando análises estatísticas de governos, da ONU e de outros institutos de pesquisa, Lomborg afirma que a humanidade não precisa se alarmar com o efeito estufa, os buracos na camada de ozônio, a chuva ácida ou o desmatamento da Amazônia – para citar apenas algumas das causas dos ecologistas.

Ele acredita que os governos e a iniciativa privada já estão agindo para corrigir os estragos cometidos contra a natureza e acusa de apocalípticos e inconsistentes os que discordam da sua análise. Seus inimigos, que, no ano passado, invadiram sua noite de autógrafos na Inglaterra para atirar-lhe uma torta na cara, chegaram a criar o site https://www.anti-lomborg.com, espinafrando o dinamarquês. Amante de uma boa polêmica, Lomborg falou à Super sobre o seu ceticismo diante das previsões pessimistas a respeito do futuro da Terra.

Super – Os ecologistas dizem que você ignora que a melhoria das condições ambientais surgiu da mesma militância ambiental que você chama de alarmista…

Não tenho dúvidas de que se você fizer a maior gritaria sobre os riscos de extinção de uma determinada espécie, estará ajudando a criar políticas de proteção para essa espécie. No meu livro, reconheço que medidas desse tipo têm salvado espécies da extinção. O que eu questiono são os dados usados pelos ambientalistas. Para que possamos saber se as bandeiras levantadas por essas pessoas são, de fato, problemas tão importantes, precisamos de números realistas. Se alguém prevê que vamos erradicar do planeta 50% de todas as espécies vivas em menos de um século, terei que concordar que isso realmente será um desastre. Mas o número correto estaria mais próximo de 0,7%. Mesmo assim, o problema persistiria e poderíamos lutar para baixar esse número para uma porcentagem ainda menor. Mas será que essa é uma questão para a qual a sociedade precisa dedicar tanta atenção?

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O que pode ser mais importante do que o ambiente?

No caso dos países emergentes, garantir as necessidades básicas da população. Produzir bastante comida. É verdade que o número de famintos vem caindo no mundo, mas ainda precisa cair mais. De acordo com a ONU, em 2010 ainda haverá 680 milhões de famintos no planeta. E, além de tirar as pessoas da pobreza, é preciso garantir saúde e educação. Apenas quando você não tem que se preocupar como vai conseguir sua próxima refeição é que pode começar a se preocupar com o ambiente. Se quisermos que uma floresta permaneça intocada, essa será uma grande vantagem para muitos animais, mas uma oportunidade perdida para plantar comida.

No seu livro, você chega a ser irônico dizendo que pingüins e pinheiros não devem interferir nas decisões que afetam o meio ambiente. Quem deve decidir então?

Essa é apenas uma visão realista do mundo: as pessoas debatem e participam dos processos decisórios, enquanto pingüins e pinheiros não. Logo, o nível de proteção que pingüins e pinheiros receberão vai depender das pessoas que falam em nome deles. As democracias funcionam assim. E como algumas pessoas vão valorizar mais algumas plantas e animais, acho que essas plantas e animais não podem receber direitos especiais em detrimento do direito de outros seres humanos. Isso pode parecer egoísta da parte do homem, mas é importante notar que essa visão antropocêntrica não consiste automaticamente em negligenciar ou eliminar outras formas de vida. Os homens são tão dependentes de outros seres vivos que muitas espécies terão o seu bem-estar garantido. Em muitos lugares, o homem compartilha interesses comuns com animais e plantas como, por exemplo, no desejo por um ar mais limpo. Mas é óbvio que a escolha tem que ser feita entre aquilo que é bom para o homem e o que é bom para as plantas e os animais.

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Enquanto escrevia seu livro, você tinha idéia da fúria que ele causaria entre os ecologistas?

Não. Só levantei os dados. Esse tipo de reação apenas confirma a importância de toda essa discussão. Se meus dados irritam tantos pesquisadores respeitáveis é porque precisamos de mais informações que alimentem o debate sobre o meio ambiente.

Como estatístico, você depende de números coletados por governos e cientistas. No Brasil, por exemplo, nem mesmo o governo tem dados confiáveis sobre o desmatamento na Amazônia. Como confiar nos seus dados?

Uso as melhores fontes, que são, inclusive, as mesmas usadas pelos ambientalistas. Elas incluem a ONU e todas as suas organizações que tratam de questões ligadas à fome, à saúde, ao desenvolvimento e ao meio ambiente. Além delas, uso números publicados por organizações mundiais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional.

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Qual foi a sua reação ao ser alvejado com uma torta na cara pelo ambientalista Mark Lynas, numa livraria inglesa no ano passado?

Atirar tortas é o recurso dos fracos. Como eu não tenho poder, apenas argumentos, a minha conclusão é que o Lynas não dispõe de nenhum argumento.

Se você pudesse escolher o melhor ambiente para viver, em que época teria nascido?

Agora mesmo ou um pouco mais no futuro. As pessoas se imaginam vivendo num ambiente intocável na pré-história mas esquecem que a média de vida por lá era de apenas 20 anos. A luta por comida era dura e, muitas vezes, a natureza era nossa inimiga. Somente hoje, quando contamos com a tecnologia para viver, em média, 67 anos, podemos nos preocupar com a preservação. Ao mesmo tempo, somos 6,2 bilhões de pessoas no planeta marchando para 9 bilhões em 2050, o que, certamente, causará problemas. Contudo, acredito que a vida poderá ser melhor. Como em outros aspectos da vida, haverá perdas e ganhos.

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Na sua opinião, quais são as mais consistentes e inconsistentes ONGs dedicadas à ecologia?

Não vou fazer um ranking. O livro mostra que o coro alarmista dos ecologistas está errado. É claro que eu acho bom que existam organizações ambientais como o Greenpeace. Mas não temos necessariamente que acreditar nessas organizações para fazer nossas escolhas.

Você tem algum novo projeto envolvendo estatísticas e meio ambiente?

Fui nomeado chefe do Instituto Nacional de Avaliação Ambiental da Dinamarca, onde vou tentar buscar informações sobre prioridades e avaliações de diferentes iniciativas para garantir que tenhamos o melhor ambiente com o dinheiro de que dispomos.

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Bjørn Lomborg

• Professor de Estatística do Departamento de Ciência Política da Universidade de Aarhus, na Dinamarca.

• Tem 37 anos, é solteiro e vegetariano.

• Nunca teve carro, adora andar de bicicleta, tocar piano, jogar PlayStation2, assistir filmes no DVD e comer pizza com os amigos.

Frase

“O coro alarmista dos ecologistas não tem fundamento. Há problemas mais importantes do que a preservação da natureza”

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