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Cocô de aves marinhas ajudou comunidades antigas a plantar em Atacama

O deserto sul-americano é o mais árido do mundo. Ainda assim, o fertilizante, coletado no litoral, permitiu que a agricultura prosperasse em algumas regiões, mil anos atrás.

Por Rafael Battaglia
Atualizado em 26 jan 2021, 18h46 - Publicado em 26 jan 2021, 18h31
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  • Se plantar algo em casa pode ser complicado, que dirá em Atacama, o deserto não-polar mais seco do mundo. A região, que se estende do norte do Chile até o sul do Peru, é tão árida que é usada, inclusive, para simular as condições de Marte em testes científicos.

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    As condições adversas, contudo, não impediram que a agricultura prosperasse em algumas partes de lá, mil anos atrás. E um estudo recente, publicado na revista Nature Plants, sugere que, para além das técnicas convencionais e de um sistema eficiente de irrigação (água, afinal, era algo escasso), os antigos moradores de Atacama dispunham de um bom aditivo para as suas plantações: cocô de aves marinhas.

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    Quando as fezes de aves e morcegos se acumulam, formam uma pasta branca chamado guano, rica em nitrogênio e que, por isso, torna-se um excelente fertilizante. A pesquisa mostra que plantações de certas regiões de Atacama se desenvolveram, justamente, por causa desse guano, que foi colhido, provavelmente, no litoral do Chile. O deserto, vale dizer, fica a 90 quilômetros da costa, o que mostra também que, mil anos atrás, já havia redes de viagem e comércio desenvolvidas por aquelas bandas.

    Os cientistas começaram a investigação a partir de restos humanos e de alimentos achados no deserto – o calor de Atacama fez com que esses vestígios secassem e se mantivessem preservados por séculos. Foram 846 amostras de ossos e esmaltes dentários, que datam de 500 d.C. a 1450 d.C. e 246 amostras de plantas, coletadas do centro-sul dos Andes ao norte do Chile.

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    Segundo os pesquisadores, os níveis de isótopos de nitrogênio (uma química marca de idade) nas amostras aumentaram por volta do ano 1.000 d.C., o que pode indicar o uso do guano nas plantações. Outra pista nessa investigação é a variedade de alimento encontrado. Além de milho, a base da alimentação andina, havia também quinoa, pimenta, abóbora, feijão, batata e outras iguarias. Tal variedade, de acordo com o estudo, tem ligação com o aumento de nutrientes no solo causado pelo cocô.

    Vale dizer que o guano é capaz de dar uma bela impulsionada se usado da maneira correta. Como ressaltou a revista Smithsonian, experimentos em laboratório já mostraram que o uso dele como fertilizante pode elevar os níveis de nitrogênio das plantas em até 40%. Pesquisas com milho no Peru também apontaram que fezes de aves marinhas podem ser cinco vezes mais eficientes em aumentar a quantidade de nitrogênio do que estercos convencionais.

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    A coleta de guano continuou pelos anos seguintes. No século 16, por exemplo, os colonizadores espanhóis registraram que os incas, a maior civilização pré-colombiana, navegavam em balsas pelas ilhas próximas à costa do Chile e do Peru em busca do material, além de observar também as caravanas que o levavam para o interior do continente. O fertilizante era bastante cobiçado: não à toa, era chamado de “ouro branco”. O apelido, claro, vem da cor do cocô das aves marinhas (pelicanos, atobás, corvos-marinhos, etc.) que fabricavam o guano. Mas tem a ver também com sua exclusividade.

    A pesquisa mostrou que o aumento de nutrientes no solo não aconteceu uniformemente por toda a região, mas sim apenas em alguns lugares. “O guano de ave marinha provavelmente se tornou um recurso de alto status, acessível apenas às elites locais”, disse à revista Smithsonian Francisca Santana-Sagredo, arqueóloga da PUC-Chile e da Universidade de Oxford que é coautora do estudo. Aos que não dispunham do ouro branco, o jeito era se virar com o esterco comum ou nenhum fertilizante.

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    É como diz o ditado: quem não tem cão, caça com gato. Ou com o cocô deles.

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