Como criar uma lenda urbana eficaz
Se não for impressionante, ninguém vai querer espalhar a lorota. Para chegar lá, persista nestas 3 máximas:
Texto Nina Weingrill
Ingredientes
Invente uma história factível. “Mas sem deixar de colocar o pé no absurdo”, diz Heloisa Prieto, autora de Rotas Fantásticas, livro sobre lendas nacionais. Se não for impressionante, ninguém vai querer espalhar a lorota. Para chegar lá, persista nestas 3 máximas:
1. Rechear a história de detalhes
2. Basear-se em fatos do presente
3. Mexer com o oculto ou com o desconhecido
Lenda: Depois da história com as minhocas, o McDonald’s foi acusado de modificar geneticamente seus bois para fazer os animais renderem mais carne. O conto dizia que bovinos sem ossos eram alimentados por tubos. Ao atingir o tamanho ideal, iam para o matadouro e, de lá, direto para o seu Big Mac. Veja as dicas aplicadas:
Tempere a gosto
• Tenha certeza de que a lenda, por mais absurda que pareça, seja quase impossível de ser comprovada. “O gosto de muito bom pra ser verdade deve acompanhar um fato difícil de ser checado”, afirma o especialista em lendas urbanas Jan Harold Brunvand.
Lenda: Se rodadas ao contrário, músicas de um dos discos da apresentadora Xuxa trazem mensagens ocultas e de apologia ao demônio. A música Ilariê oculta a palavra “sangue”.
• Use a tecnologia a seu favor. A maioria das lendas atuais surgiu pela troca de e-mails. As vantagens são duas: o uso da imagem e a repetição. Nada melhor do que a internet para ela circular rapidinho.
Lenda: Mapas dos livros infantis americanos registram a região amazônica como território internacional (veja a ilustração no e-mail anexado).
• Seu herói não precisa fazer nada além de sobreviver. Passar pela experiência, qualquer que seja, é o suficiente para dar credibilidade a uma lenda. Afinal, se ele morreu, como pôde contar a história?
Lenda: Um cara vai para uma festa, apaga e acorda no dia seguinte dentro de uma banheira com gelo. Um de seus rins foi retirado. Mas ele passa bem.
Requente
Você nunca ouviu uma lenda parecida com uma história que você mesmo contou tempos atrás? Contos sobre objetos domésticos que matam seus donos, por exemplo, são sucesso no mundo todo. Por isso, alguns aspectos da narrativa mudam, mas sem alterar a fórmula. Veja abaixo:
Versão inventada X Versão inventada
Versão inventada – O liqüidificador ficou descontrolado e picotou a mão da dona de casa.
Versão reciclada – Ventilador de teto assassino se desprega e degola uma criança.
Versão inventada – Em 1904, ouve um boato de que a vacinação obrigatória contra a varío- la, era, na verdade, um plano para dizimar a população pobre do Rio de Janeiro. A lenda teve uma conseqüência: a Revolta da Vacina.
Versão reciclada – Noventa e cinco anos depois, o governo lança uma campanha de vacinação de idosos contra a gripe. Dessa vez, as vacinas seriam usadas para matar os velhinhos por causa do déficit da Previdência Social.
Versão inventada – Uma gangue distribuía, nas portas das escolas, tatuagens adesivas impregnadas de LSD para viciar criancinhas.
Versão reciclada – Quase na mesma época, mas em bairros diferentes, um pipoqueiro sacana salgava a sua mercadoria com cocaína com o mesmo intuito.