Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Como vai acabar o mundo

O temor da morte e as dúvidas sobre o futuro fizeram surgir ao longo da história os mais variados mitos sobre o fim do Universo

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h22 - Publicado em 30 set 2006, 22h00

Márcio Sampaio de Castro

O Universo é uma criação divina. Ao não se comportar de acordo com os preceitos dos deuses, a humanidade expõe-se aos terremotos, tempestades de fogo e toda sorte de cataclismos que podem contribuir para limpar a superfície do planeta de suas imperfeições. Pelo menos, essa é a idéia principal dos mitos escatológicos que acompanham o homem desde o início de sua aventura na Terra. Neles, o fim do mundo é uma possibilidade tão concreta quanto a morte.

“Os mitos do fim do mundo estão ligados ao medo da morte e daquilo que pode suceder no pós-vida. Isso sempre fez o homem se preocupar com temas como a salvação”, diz o mitólogo brasileiro Cid Marcus Vasques. No antigo Egito, o Livro dos Mortos era um verdadeiro manual de como proceder no além para evitar problemas. Os egípcios tinham uma verdadeira obsessão com os cuidados que deveriam tomar em relação à alma do morto, principalmente se ele fosse um faraó. Um erro no rito funerário poderia aborrecer os deuses e repercutir em toda ordem planetária, ocasionando a fusão entre o céu e a terra e, claro, o fim de tudo.

Na Índia, há milênios as pessoas convivem com a imagem do deus Shiva, o dançarino que tem a função de periodicamente purificar o mundo, destruindo-o. Para os hindus, a destruição do planeta e do Universo não é apenas uma questão de bom ou mau comportamento da humanidade – é uma questão de tempo. A diferença em relação a outras visões é que criação e aniquilação fazem parte de um processo cíclico incessante. O fim e o começo do mundo sucedem-se num eterno girar da roda universal.

Dilúvio universal

Curiosamente, o principal mito planetário que envolve a idéia de cataclismos não está relacionado a um porvir, e sim a um passado remoto. Informações sobre um grande dilúvio universal estão presentes nos relatos sobre o Noé bíblico, na tradição mesopotâmica, conforme narrado pelo épico Gilgamesh, em quase toda a costa ocidental africana e na maioria dos povos pré-colombianos das Américas. Entre os incas, havia a tradicional história do lavrador que, ao perguntar para sua lhama por que ela estava tão triste, foi aconselhado por ela a buscar com sua família os picos das montanhas mais elevadas, pois um grande dilúvio aproximava-se. Em todas essas histórias sempre surge um líder puro e sábio que tem o papel de recomeçar a obra divina após as inundações.

Continua após a publicidade

A Bíblia judaico-cristã fala sobre o fim dos tempos em seus dois blocos principais, o Velho e o Novo Testamento. No primeiro, temos a figura do profeta Daniel, que marca até hoje o imaginário ocidental com seus sonhos e visões sobre o final dos tempos. Ao lado dele, o Apocalipse de João, incluído no Novo Testamento, é um dos livros mais estudados por aqueles que se preocupam com o tema. Nos dois casos, temos uma descrição da destruição do mundo que será causada pelo comportamento inadequado da humanidade.

A batalha final

Mas os cataclismos podem surgir não só por conta do comportamento dos homens. A mitologia nórdica narra a história do Ragnarok, a última batalha entre os deuses e seus inimigos. Segundo essa versão, o futuro reserva para a humanidade uma terrível era em que armas serão empunhadas e destruídas, pais lutarão contra filhos, irmãos praticarão incestos e mães abandonarão maridos para seduzir os próprios filhos. Na superfície do planeta, o mar sairá de seu leito, a terra tremerá e homens morrerão em grande número. A boa notícia é que, depois de toda essa confusão, haverá um novo começo e uma nova oportunidade para deuses e homens. Para nossa sorte, as certezas de cataclismos sinalizadas por diferentes mitologias trazem também a promessa de um mundo novo sem impurezas. O único problema é que esse novo mundo é somente para os mais afortunados. A esperança que faz parte do imaginário de muita gente ao redor do globo, há milênios, é a de figurar entre os eleitos que escaparão dos destinos trágicos reservados à humanidade. Uma esperança que se confunde com o desejo de escapar da própria morte.

Para saber mais

LIVROS

O Poder do Mito, Joseph Campbell, Editora Palas Athena, 1990

Continua após a publicidade

As relações entre a humanidade e seus símbolos.

História Ilustrada da Mitologia, Verônica Ions, Editora Manole, 1999

Texto ricamente ilustrado que faz uma comparação entre diversas mitologias.

A última era

Gregos e hindus chegaram à mesma conclusão: o fim está próximo

Separados por milhares de quilômetros de distância, gregos e hindus produziram, na aurora de suas civilizações, o mito das eras da humanidade. No século 8º a.C., poetas gregos falavam de uma idade de ouro, uma época em que os homens viviam em harmonia. De forma similar, a Índia produziu a noção do Krita Yuga, uma idade áurea em que a sabedoria e a virtude eram dons naturais do homem. O segundo período, a idade da prata para os gregos ou Treta Yuga para os hindus, foi marcada pelo surgimento da violência, mas ainda assim homens gozavam de pureza. Já a idade de bronze, ou Dwapara Yuga, assinalou um distanciamento entre as duas visões. Para os hindus, virtude e mal se achavam em equilíbrio. Para os gregos, as rixas entre os homens levaram a exageros e muitos foram condenados a definhar no Hades, o reino dos mortos. A idade de ferro, ou Kali Yuga, seria o momento atual. Na visão oriental, é uma era marcada pela fome e pela guerra. Para os gregos, uma época sem justiça ou virtude. Em ambas as visões, nosso destino será a autodestruição. Quem viver verá. Ou talvez não.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.