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De onde vieram as 6 milhões de aves sagradas mumificadas no Egito Antigo?

Estudo comparou DNA das múmias do íbis com o de populações modernas do bicho para entender se os egípcios criavam os pássaros em granjas ou se os capturavam na natureza.

Por A. J. Oliveira
14 nov 2019, 19h10

Cientistas acreditam ter desvendado mais um mistério da civilização egípcia. Escavações de duas importantes necrópoles do passado haviam revelado quase 6 milhões de múmias do íbis, pássaro parente do pelicano que era venerado pelos egípcios por sua associação com o deus Tote, divindade da sabedoria, da magia e do julgamento. Mas de onde eles tiravam tanta ave para mumificar e transformar em oferenda?

Um estudo publicado nesta quarta-feira (13) na revista científica Plos One diz ter descoberto a resposta. Para investigar, uma equipe internacional de pesquisadores comparou fragmentos do DNA de 14 múmias de íbises com 26 amostras modernas coletadas pela África. A ideia era usar a genética para verificar se ela sustenta a principal hipótese dos especialistas — de que os pássaros eram mantidos em criadouros de escala industrial para uso ritualístico.

A estratégia consistia em avaliar se as aves ancestrais apresentavam uma diversidade genética parecida com a das populações atuais ou se era menor. Caso a segunda opção fosse observada, seria um indício de que os animais eram criados em granjas, onde o cruzamento consanguíneo inibe grandes diferenciações. Só que os resultados apontaram para a ocorrência de níveis de diversidade parecidos entre os dois grupos.

Os dados sugerem que a prática mais provável era um misto das duas coisas: os íbises selvagens deviam ser atraídos para um local que os agradasse, ou então pegos na natureza e mantidos por pouco tempo em cativeiro. “Perto de cada templo havia um lago ou área pantanosa — é um habitat natural para o íbis viver, e se estivessem ganhando comida, eles continuavam vindo”, disse ao The Guardian a líder do estudo, Sally Wasef.

De acordo com a pesquisadora da Universidade Griffith, na Austrália, as duas necrópoles onde os restos mortais dos pássaros foram encontrados contemplam perfeitamente essa hipótese. Perto das catacumbas de Tuna el-Gebel, onde estavam 4 milhões de íbises sagrados, havia um pântano, e nas redondezas de Saqqara, que abrigava 1,75 milhão de múmias, ficava o Lago do Faraó. Wasef destaca outros pontos em prol de suas conclusões.

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Além de os arqueólogos não terem achado estruturas com as características de um enorme estabelecimento de avicultura em nenhum dos dois sítios, um fator curioso também reforça o argumento — a existência de múmias “falsas” disfarçadas em meio às verdadeiras. Elas continham apenas uma ou duas penas, um pouco do material do ninho e lascas de ovos. Se os íbises fossem assim tão facilmente acessíveis, não teria porque forjar uma oferenda.

Já contamos aqui na SUPER que os egípcios tinham uma relação muito particular com a morte e, por isso, mumificavam de tudo: de crocodilos a gatos, plebeus a faraós. A prática de embalsamar íbises foi bastante popular no Egito Antigo entre 450 e 250 antes de Cristo. Com esses presentinhos oferecidos ao deus Tote, esperavam alcançar uma vida mais justa.

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