Espiritismo – 11 respostas sobre Chico Xavier
CHICO XAVIER MORREU EM 2002, AOS 92 ANOS, DEIXANDO MAIS DE 400 LIVROS PSICOGRAFADOS. NO ANO PASSADO, QUANDO COMPLETARIA 100 ANOS, ATRAIU 3,4 MILHÕES DE PESAS AOS CINEMAS PARA ASSISTIR AO LONGA BRE SUA VIDA - QUE É, DE FATO, UMA SAGA DIGNA DE FILME. SUA HISTÓRIA INSPIRA MUITAS PERGUNTAS. CONFIRA ALGUMAS RESPOSTAS.
1. Quando Chico Xavier começou a se comunicar com os espíritos?
O médium contava que papeava com espíritos desde a infância, na cidade mineira de Pedro Leopoldo: sob protestos do pai e da madrinha, falava com a mãe, morta quando ele tinha cinco anos. Também psicografava textos na lousa da escola e até recebeu menção honrosa num concurso de redação em que teria contado com a ajudinha de um espírito que lhe ditou o texto.
2. Como ele ficou tão conhecido?
Chico começou a ganhar fama – e a motivar polêmicas – em 1932, com a publicação de Parnaso de Além-Túmulo, uma coletânea de 259 poemas assinados por nomes como Castro Alves, Augusto dos Anjos e Casimiro de Abreu. Quando ele apareceu numa sabatina no Pinga-Fogo, programa da TV Tupi, em 1971, a transmissão começou às 23h30 e só terminou perto das 3h, com 75% de audiência no estado de São Paulo. A repercussão foi tamanha que a Tupi repetiu a dose numa nova entrevista, transmitida durante quase quatro horas em rede nacional. O líder espírita de óculos grandes, peruca e terno tornara-se um popstar.
3. Quantos livros ele psicografou? Sua obra foi traduzida para quantas línguas?
Ao longo de 92 anos, foram 459 livros – nos períodos de maior atividade, chegou a escrever 14 títulos num único ano. Os textos foram traduzidos para 15 línguas, incluindo japonês, grego, tcheco e esperanto. Há também edições em braile.
4. Ele tinha o dom de curar doenças?
Há relatos de gente que se curou de enxaqueca, paralisia e outras doenças graças a ele, mas Chico defendia que sua principal tarefa eram os livros. Durante as sessões públicas, limitava-se a distribuir receitas com mensagens de estímulo e, no máximo, indicações de fitoterápicos. Ele nunca foi acusado de exercer ilegalmente a medicina. Em caso de doença grave, recomendava procurar um médico tradicional. Ele mesmo foi operado de um tumor na próstata e buscou solução para a catarata em hospitais comuns.
5. Que escândalos ameaçaram a imagem do médium?
Em 1944, familiares de Humberto de Campos reivindicaram na Justiça os direitos autorais de textos do escritor que teriam sido psicografados por Chico. Perderam a causa. Em 1958, o sobrinho Amauri Pena Xavier declarou ao jornal Diário de Minas que as obras que ele e o tio psicografavam em Pedro Leopoldo não passavam de resultado da sua criatividade e facilidade para imitar o estilo de poetas famosos. Amauri era alcoólatra, e morreu internado num sanatório. Logo depois do episódio, Chico se mudou para Uberaba. Já em 1986, um jornal local denunciou que policiais e taxistas estariam cobrando por consultas particulares com o médium. Ao que tudo indica, Chico não sabia do esquema.
6. Ele ficou rico?
Depois de vender verduras na rua, dar expediente noturno numa fábrica de tecidos e ser balconista de um armazém em Pedro Leopoldo, Chico trabalhou como escriturário até se aposentar por invalidez, em 1963. Viveu com esse dinheiro e com a ajuda de amigos até o final da vida – os direitos autorais de seus livros foram doados, com registro em cartório, para obras assistenciais.
7. Que famosos procuraram sua ajuda?
A atriz Nair Bello, a cantora Wanderléa e a escritora de novelas Gloria Perez passaram pelo Grupo Espírita da Prece, o centro que Chico mantinha em Uberaba, buscando notícias de seus filhos mortos. Vanusa, a cantora que recentemente andou escorregando na letra do hino nacional, foi perguntar a Chico se o relacionamento com o também cantor Antonio Marcos tinha jeito. Xuxa e Clodovil recorreram ao médium, assim como Roberto Carlos, que, apesar de ser católico fervoroso, foi ao seu encontro em Uberaba várias vezes. Entre os ex-presidentes da república, Juscelino Kubitschek se envolveu pessoalmente para que a aposentadoria de Chico fosse agilizada, e Fernando Collor de Mello foi visitá-lo três vezes.
8. Quem é Emmanuel?
É o guia (ou conselheiro espiritual) de Chico, a quem ele recorria nos momentos de dificuldade. Emmanuel teria ditado a Chico boa parte dos livros psicografados, embora não fosse o único: mais de 200 espíritos teriam se comunicado com o lado de cá por meio das obras escritas por Chico. Em outras vidas, Emmanuel teria sido o senador romano Publius Lentulus e, já no Brasil, o padre Manoel da Nóbrega.
9. Ele previu a própria morte?
Mais ou menos. Ele disse que iria “desencarnar” num dia de muita felicidade para o Brasil. Morreu aos 92 anos, às 19h30 de 30 de junho de 2002, data em que a seleção brasileira conquistou o pentacampeonato na Copa do Mundo.
10. O que aconteceu com o centro espírita de Uberaba depois que ele morreu?
As sessões de psicografia foram suspensas, e a casa simples onde o médium viveu os últimos anos em Uberaba foi transformada em museu. A entrada é grátis, mas contribuições são bem-vindas. Membros do centro leem o evangelho e ministram passes. No terreno funcionam também uma livraria e uma loja de lembrancinhas, com produtos que exibem a imagem de Chico Xavier. As doações de alimentos e roupas, além da assistência médica e odontológica à população carente, continuam acontecendo graças aos direitos autorais dos livros e às contribuições que foram mantidas.
11. Depois de morto, Chico já deu sinal de vida?
Seu filho adotivo, Eurípedes Higino, afirma que não, embora se fale em mais de 200 recados psicografados por médiuns do Brasil inteiro em nome do espírito de Chico Xavier. Antes de morrer, o mineiro teria combinado com o filho, com o médico Euripedes Tahan Vieira e com a amiga Kátia Maria um código secreto para garantir a autenticidade das mensagens. Até agora nenhuma delas passou pelo teste.
2 milhões de assinaturas foram recolhidas para a candidatura de Chico ao Prêmio Nobel da Paz, em 1981.
Há 100 centros kardecistas em Uberaba. Quando Chico se mudou para lá, eram 14.
120 mil pessoas foram ao velório de Chico, que durou 48 horas.
ESPÍRITOS QUE FAZEM JUSTIÇA
As cartas de Chico Xavier foram parar nos tribunais: serviram como prova no julgamento de José Divino, acusado de matar com um tiro seu melhor amigo, Maurício Garcez Henrique, de 15 anos, em Goiânia, em 1976. Na carta psicografada pelo médium, Maurício declarava que o disparo fora acidental, o que batia com a versão contada pelo réu – que acabou inocentado.