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Evidências de possível canibalismo são encontradas em osso hominídeo de 1,45 milhão de anos

Foram encontradas marcas de cortes em um pedaço da tíbia do indivíduo. Mas pesquisadores não sabem a qual espécie de hominídeo o fóssil pertence.

Por Leo Caparroz
5 jul 2023, 12h46

Um osso esquecido em um museu do Quênia pode ser o registro mais antigo de canibalismo entre hominídeos já encontrado. A tíbia (um osso da perna) esquerda da vítima continha marcas de corte, feitas com ferramentas de pedra – algo que só poderia ter sido feito por humanos primitivos.

O osso de 1,45 milhão de anos sugere que os hominídeos provavelmente comiam outros da mesma espécie nessa época. “Existem inúmeros exemplos de espécies da árvore evolutiva humana que consumiam outros hominídeos para nutrição, mas este fóssil sugere que os parentes próximos da nossa espécie estavam comendo uns aos outros para sobreviver, e o costume é mais antigo do que pensávamos”, afirma Briana Pobiner, autora do estudo.

Descoberto em 1970, o osso paleolítico passou para novas mãos quase 50 anos mais tarde. Em 2017, Pobiner vasculhou o acervo do Museu Nacional do Quênia atrás de evidências de animais que predavam humanos primitivos. Ela buscava marcas de dentes, garras ou arranhões de bichos, mas encontrou esses cortes inusitados. Eram marcas repetidas, na mesma direção, perto de onde o músculo encontra com o osso. A pesquisadora as reconheceu na hora: foram feitas com ferramentas.

Pobiner fez um molde do osso e enviou para dois colegas cientistas. Eles compararam o achado com um banco de dados de 900 dentes, ossos e cortes modernos, que servem de referência para identificar casos assim.

Os resultados eram claros: das onze marcas, nove eram compatíveis com o dano causado por ferramentas de pedra. As outras duas provavelmente foram feitas por um grande felino. De acordo com Pobiner, elas podem ter vindo de uma das três espécies diferentes de felinos dente-de-sabre do período.

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Imagem aproximada de osso do esqueleto de um de hominídeos com marcas de corte (1-4 e 7-11) e dentes (5 e 6).
Comparando com as referências do banco de dados, as marcas 5 e 6 foram identificadas como de dente, as demais foram consideradas marcas de corte. (Jennifer Clark/Divulgação)

Ainda sobram algumas pontas soltas. Primeiramente, as marcas não provam que quem atacou o indivíduo tenha comido sua perna. Mas, segundo os pesquisadores, esse é o cenário mais provável, já que o padrão e localização dos golpes são consistentes com os encontrados em fósseis de animais cuja carne era destinada ao consumo.

Também não é possível saber qual foi a ordem dos eventos: um hominídeo atacou primeiro e depois um felino se aproveitou dos restos? Foi o contrário? Ou os dois só se aproveitaram de um corpo morto no caminho para satisfazer sua fome?

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Independente do assassino, sabe-se que uma espécie eficiente em manipular pedras arrancou a carne de outra espécie que também fazia isso. Mas, por motivos técnicos, pode não se tratar exatamente de canibalismo.

Questão de família

Não existia somente uma espécie de hominídeo vagando por aí durante o paleolítico, então é impossível saber exatamente qual delas foi o açougueiro do caso.

O próprio osso também é alvo de discussão científica. Quando foi encontrado, era identificado como Australopithecus boisei – uma espécie que, taxonomicamente, disputa classificação com o Paranthropus boisei. Em 1990, foi considerado parte de um Homo erectus. Hoje, pesquisadores concordam que não há evidências suficientes para cravar a qual hominídeo o osso pertenceu.

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