Filisteus
Matadores impiedosos, eles não tinham medo da morte, adoravam beber cerveja e eram bem menos toscos do que a Bíblia sugere
Tiago Cordeiro
Entre os séculos 8 a.C. e 5 a.C., israelitas e filisteus se engalfinharam incontáveis vezes pelo domínio de Canaã. A Bíblia relata vitórias e derrotas dos dois lados. Mas pinta um retrato bem feio dos inimigos de Israel, descritos como um povo primitivo e brutal. Hoje, sabe-se que brutais eles eram, mas não tinham nada de toscos. Assim como os cananeus, dominavam a metalurgia. Também eram bons ceramistas. E o mais curioso: faziam cerveja de excelente qualidade, entre outras bebidas alcoólicas.
Os primeiros filisteus chegaram a Canaã pelo Mediterrâneo, provavelmente vindos das ilhas de Creta e Chipre por volta do século 12 a.C. Cem anos mais tarde, já tinham adotado a língua e a religião dos cananeus, que desde a Pré-História habitavam aquela região. Devidamente ambientados, eles fundaram por lá pelo menos 5 grandes cidades-estado: Asdod, Ecrom, Gate, Ascalon e Gaza, todas protegidas por muralhas e relativamente bem organizadas, com áreas específicas para residências, comércios e prédios públicos.
Havia motivos de sobra, porém, para que os israelitas não gostassem dos filisteus. Para começar, eles estavam na terra que Deus lhes havia prometido. Além disso, adoravam a vários deuses e gostavam de comer carne de porco – um hábito reprovado pelos judeus desde os tempos de Moisés. E pior: o poderio militar filisteu era uma ameaça à hegemonia israelita em Canaã. Em uma das vitórias sobre o povo do Israel, na batalha de Eben-Ezer, eles mataram mais de 30 mil e chegaram a roubar a Arca da Aliança (que guardava as tábuas dos 10 Mandamentos). “O estilo de luta dos filisteus era caótico”, diz o historiador Carl S. Ehrlich, da Universidade York, no Canadá. “Faltava-lhes organizacão, mas eles não demonstravam ter nenhum medo da morte.”
Foi uma derrota, no entanto, que acabou ficando famosa: a queda do gigante Golias frente ao israelita Davi (leia mais na pág. 41). Outro episódio bíblico muito conhecido é o que envolve o guerreiro Sansão (israelita) e Dalila (filisteia). Dono de uma força descomunal, ele enfraquece quando a moça corta seus cabelos.
1 CRÔNICAS 10:1
Os filisteus combatiam contra Israel e os israelitas puseram-se em fuga diante deles: muitos tombaram feridos de morte, na montanha de Gilboa(1).
LANÇAS
Feitas de madeira com ponta de ferro, pesavam até 7 quilos e eram empregadas de duas maneiras: sobre o carro de guerra, serviam para derrubar os cavalos das carruagens inimigas; contra soldados a pé, podiam ser arremessadas ou usadas a curta distância.
ESPADA
Era feita de ferro, com cerca de 70 centímetros de comprimento e afiada dos dois lados da lâmina. Os filisteus foram o primeiro povo da região a forjar grandes quantidades de armas de ferro, mais resistentes que as de bronze.
ARCO E FLECHA
Em manobras de ataque, os arqueiros davam cobertura à linha de frente. As flechas eram letais mesmo quando atiradas a 500 metros de distância. Lançadas em grande quantidade, eram capazes de dizimar a infantaria inimiga.
ARMADURA
Embora dominassem técnicas de fundição, os filisteus – ou boa parte de seus soldados – usavam armaduras de couro. A cabeça era protegida por um capacete leve, ornamentado e feito de bronze.
ESCUDO
Os filisteus preferiam o redondo, que proporcionava mais agilidade se comparado ao modelo pesadão e retangular adotado por outros povos. Era de madeira e reforçado com ferro.