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Futuro de Deus: a quem pertence?

O cristianismo é a maior religião do mundo e continua crescendo, mas será superado pelo islamismo ainda neste século

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h36 - Publicado em 18 fev 2011, 22h00

Texto Eduardo Szklarz

O século 21 começou com larga vantagem para o Deus do cristianismo sobre os demais. De acordo com o grupo canadense Religious Tolerance, os cristãos correspondiam a exatos 33% da população mundial em 2001 (ano do último levantamento). Depois vinham os muçulmanos (19,6%), seguidos por hindus (13,4%), sem religião (12,7%), adeptos de religiões tradicionais chinesas (6,4%), budistas (6%), sikhs (4%), ateus (2,5%) e judeus (0,2%).

Mas e daqui a 100 anos, o que será de Deus na Terra? As pesquisas mais recentes mostram que o número de cristãos está crescendo – eram 2 bilhões em 2002 contra 558 milhões em 1900 -, mas sua proporção caiu de 34,5% para 32% nesse mesmo período. Avançando a uma taxa de 2,6% anuais (semelhante à média de crescimento da população mundial), o cristianismo será ultrapassado ainda neste século pelo islamismo, que hoje soma 1,2 bilhão de adeptos e cresce, na média, 3% ao ano. Em breve, Alá será o Deus mais popular do planeta.

Tsunami na Europa

Fato: o cristianismo deixou de ser uma religião de brancos europeus. Hoje, mais da metade de seus seguidores são negros de origem africana. “Na Nigéria, há 20 milhões de anglicanos praticantes, 20 vezes mais do que na matriz da Igreja Anglicana, o Reino Unido”, diz o historiador britânico Christopher Catherwood.

Metade dos jovens ingleses declara não ser adepta de nenhuma Igreja. Com exceção de Itália, Polônia e Irlanda, a situação é parecida no resto da Europa. Uma pesquisa publicada pelo jornal El País, o mais importante da Espanha, indica que 46% dos espanhóis de 15 a 24 anos se consideram ateus, indiferentes ou agnósticos (incapazes de julgar se Deus existe ou não). Eram apenas 22% em 1994. Além disso, 39% se dizem católicos não praticantes e apenas 10% praticantes. Para o sociólogo Juan González-Anleo, um dos autores do estudo, a mudança foi motivada pela postura da Igreja em temas como sexualidade, aborto e casamento gay.

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O islã, por outro lado, vem saindo de seus redutos. Muçulmanos estão vivendo sob governos não islâmicos pela primeira vez na história. Boa parte abraçou o pluralismo religioso, mas uma minoria reage de forma violenta – como demonstram os atentados terroristas de Madri em 2004 e Londres em 2005.

Muitos sociólogos explicam o achatamento do cristianismo na Europa com a teoria da secularização: quanto mais moderna se torna uma sociedade, menos ela precisa de religiões. Mas essa tese não aclara o que acontece nos EUA, onde as pessoas continuam frequentando as igrejas. O sociólogo Franz Höllinger, da Universidade de Graz, na Áustria, tem outra hipótese. “A atitude que uma população tem em relação à Igreja depende do papel que ela teve na história do país.”

Höllinger lembra que o clero europeu cristianizou muita gente à força e, historicamente, sempre esteve com os poderosos, apesar do discurso em favor dos mais pobres. Isso comprometeu – e compromete até hoje – a imagem da Igreja na Europa. Nos EUA, foi diferente: os primeiros imigrantes foram perseguidos em sua terra natal por suas crenças e construíram um país onde a religião tem sido importante desde as bases da sociedade. Os presidentes americanos até costumam pontuar seus discursos com referências a Deus – basta escutar os de George Bush e Barack Obama.

E no Brasil, qual será o futuro de Deus? Ainda somos o país com o maior número de católicos do mundo – cerca de 140 milhões. Mas eles correspondiam a 95% da população em 1940. Sessenta anos depois, no ano 2000, já eram 73,9%. No mesmo período, os evangélicos saltaram de 2,6% para 16% da população, e os sem-religião, de 0,2% para 7%. No estado do Rio de Janeiro, apenas 56% se declaram católicos. Os dados são da pesquisa Retratos das Religiões no Brasil, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O estudo revela ainda que 9,4% dos brasileiros entre 20 e 24 anos dizem não ter religião. E conclui que a perda de fiéis da Igreja Católica está ligada às décadas de estagnação econômica que o país enfrentou. Não por acaso, é forte a presença de evangélicos nas periferias. As igrejas pentecostais muitas vezes preenchem carências do Estado, oferecendo redes de proteção e chances de ascensão social.

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Grupos católicos carismáticos vêm tentando recuperar seguidores no Brasil, mas o Vaticano não parece disposto a rever certas posições. Meses atrás, o papa Bento 16 declarou que salvar as pessoas da homossexualidade é tão importante quanto proteger as florestas tropicais. Afirmações desse tipo talvez expliquem por que muita gente decide trocar livros de religião pelos de filosofia, que tentam encontrar um caminho para a paz interior por meio da razão.

Um exemplo desse fenômeno é o best seller Aprender a Viver (Editora Objetiva), do filósofo francês Luc Ferry. Para ele, a família é a única entidade sagrada na sociedade moderna – a única coisa pela qual alguém ainda arriscaria a própria vida. “No Ocidente, ninguém mais aceita morrer por um deus, um país ou um ideal”, declarou o filósofo recentemente à revista Veja. “Há extremistas no islã. Há gente na Chechênia disposta a morrer pela nação. Mas garanto que não há ninguém com essa ideia na França ou nos EUA.”

 

Para saber mais
• O Atlas das Religiões
Joanne O´Brien e Martin Palmer, Publifolha, 2007.

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