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Gravuras em pedra: outdoors da pré-história

Com a inauguração do Parque Arqueológico do Côa, na região norte de Portugal, a pré-história virou atração turística. A descoberta do maior complexo de arte rupestre ao ar livre do mundo leva a crer que os antigos artistas usavam a gravura para se comunicar com as futuras gerações.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h15 - Publicado em 31 out 1996, 22h00

Fernando Valeika de Barros, de Lisboa

Por enquanto, quem for conhecer o Parque Arqueológico do Côa pode curtir cerca de 300 gravuras em pedra. Elas medem entre 10 centímetros e 2 metros de comprimento e têm até 3 metros de altura, espalhadas por uma extensão de 200 metros. Mas, quando estiver totalmente inaugurado, em 1998, o complexo oferecerá um corredor de nada menos que 17 quilômetros com 5 000 desenhos de até 20 000 anos de idade, todos ao ar livre.

Situada a 13 quilômetros de Vila Nova de Foz Côa, uma cidadezinha com 13 000 habitantes no norte de Portugal (veja mapa na página 57), essa deslumbrante galeria de arterupestre foi descoberta há três anos. Desde então, é tida como a maior concentração de gravuras pré-históricas ao ar livre do mundo.

Todos os desenhos representam animais, como a cabra, o auroque (um tipo de boi conhecido como bisão europeu) e o cavalo. O intrigante é que vários deles estão sobrepostos.

Os cientistas acreditam que esses painéis de rocha tiveram uma função sagrada, sendo ocupados pelos traços de homens de diferentes períodos, sempre respeitando o estilo anterior. “Para o artista paleolítico, o ato de desenhar o animal era mais importante do que a sua contemplação posterior”, diz João Zilhão, do Instituto Português de Arqueologia, pesquisador das obras da região. “O fato de desenhá-lo numa determinada rocha e não em outra faz supor que essa pedra servia para que as gerações seguintes não tivessem dificuldade em identificá-lo e reconhecer seu significado mitológico”.

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Por pouco, tudo não foi por água abaixo

Curiosamente, até 1993 essas gravuras não haviam chamado a atenção da ciência. A população local não dava importância aos rabiscos e, se o governo não quisesse construir uma hidrelétrica no vale do rio Côa, provavelmente eles continuariam desconhecidos. Foi aí que os paredões desenhados começaram a ser estudados. Houve muito bate-boca entre técnicos e arqueólogos. A polêmica só acabou em setembro de 1995, quando a Sociedade para a Arqueologia dos Estados Unidos e a Academia Britânica de Arqueologia endossaram o valor da descoberta.

A importância científica de Côa é que ela prova, de vez, que a arte rupestre não era exclusividade das cavernas. Desde o começo dos anos 80 foram encontradas obras ao ar livre na Espanha e em Portugal (veja o infográfico na próxima página). “Mas essas descobertas foram tratadas como exceção à regra”, confirma Denis Vialou, do Museu Nacional de História Natural de Paris, na França. Agora, a teoria está mudando. Tudo leva a crer que a arte rupestre também era feita no lado de fora, em toda a Europa, sendo preservada no lado de dentro apenas por estar mais protegida dos efeitos do tempo e da erosão. Na Península Ibérica, onde se concentram as gravuras a céu aberto, elas teriam resistido por duas razões. Primeiro, porque se supõe que a glaciação deve ter sido mais amena na região. Depois, pelo tipo de pedra trabalhada. “No Côa, só as rochas de xisto, que são muito resistentes, têm gravuras. Nas de granito não há nada”, diz Zilhão.

Do catálogo da pré-história

Os desenhos de Foz Côa foram datados de acordo com o estilo dos traços, seguindo o padrão de arte rupestre da Gruta de Parpalló, na Espanha.

Solutrenense médio (32 000 a 21 000 anos). As linhas são descontínuas.

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Solutrenense superior (20 000 a 15 000 anos). Os contornos estão reforçados, sem definição.

Magdalenense antigo (15 000 a 12 000 anos). Os traços tendem para o realismo.

Magdalenense superior (12 000 anos a 11 000 anos). O desenho cria uma imagem naturalista, mais realista ainda.

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